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quinta-feira, 24 de junho de 2010

"Pensar é estar doente dos olhos"

Tudo que vejo está nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas

Olhando para a direita e para a esquerda,

E de vez em quando olhando para trás...

E o que vejo a cada momento

É aquilo que nunca antes eu tinha visto,

E eu sei dar por isso muito bem...

Sei ter o pasmo comigo

Que teria uma creança se, ao nascer,

Reparasse que nascera deveras...

Sinto-me nascido a cada momento

Para a completa novidade do mundo...

Creio no mundo como num malmequer,

Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...

Amar é a primeira inocência,
E toda a inocência é não pensar...
Alberto Caeiro, O Guardador de rebanhos - II.

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