blogue de poesia e teologia.

aqui não se escreve segundo o acordo ortográfico de mil novecentos e noventa.

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terça-feira, 27 de agosto de 2013

pensamentos moralistas (i)

Hoje, depois de um comentário de um amigo a um texto meu no facebook (trata-se de uma pessoa que, sem o saber, me vai ajudando a manter a esperança na classe a que pertence e com a qual estou cada vez mais desencantado), veio-me à ideia que aquele pensamento segundo o qual «o amor está onde menos se espera» é tão mais verdade quanto mais atribuírmos à palavra amor um sentido menos restrito que o do amor erótico ou do amor romântico. É uma pobreza franciscana que a palavra amor sirva apenas para designar o acto genital e o sentimento que une, pelo desejo sexual - aqui já num sentido mais lato, um homem e uma mulher (ou dois homens e duas mulheres, como o politicamente correcto obriga a dizer agora).

inútil

sentados os dois a uma mesa de café naquelas nossas conversas intermináveis em que ambos devíamos e ambos não queríamos ir embora aquele dia em que começaste a chorar porque não sabias o que ia ser da tua vida e eu percebi que sou inútil e não podia fazer nada para te consolar. não sei fazer nada para consolar ninguém. dar uma mão, fazer uma festa na cara, limpar lágrimas, ter um lenço de papel para oferecer. nada. agora sou eu que não sei o que vai ser da minha vida, no mês em que perdi um amigo aos vinte e sete anos de idade, e nem sequer consigo chorar. a provar que sou mesmo inútil.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

cordeiro silencioso

no Deus que se cala
construo a minha vida

no Deus do mundo injusto
que me fala onde não o percebo

no Deus que se cala
quando precisava de o ouvir

no Deus que me faz cair de joelhos
e me faz andar mesmo quando não sei para onde ir

no Deus que me conduz
por caminhos desconhecidos

domingo, 25 de agosto de 2013

tomorrow in the sky

para o Pedro José


Eu sei que o meu redentor vive
e prevalecerá, por fim, sobre o pó da terra 
(Jb 19, 25)

que na cadeira onde te sentas agora
a olhar para Deus
te lembres de mim

que Deus se possa rir contigo
como nos rimos os dois

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

autoajudo-me

vinte e seis anos,
tanta fotografia em tanto lado
e nem uma acompanhada pela frase
«quando a gente gosta de verdade
o mundo nos sustenta»

tenho várias sem texto a acompanhar
mas que poderiam bem ter escrito
a letras de sangue
«uma gaivota que passa,
e a minha ternura é maior», de Álvaro de Campos
«Nas pálpebras da noite chorei
cadências que me ensinaram
que o Amor ama-se
Assim teus
Olhos.», de Daniel Faria

e
«Ouve o que diz a mulher vestida de sol
quando caminha no cimo das árvores
"a que distância deixaste o coração?"», de Tolentino Mendonça

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

lanterna em tempo de escombros

nos dias de combate
quando tudo está contra nós

- os empregos,
as pessoas,
a lógica do mundo -

há sempre algo que resta
e faz cair de joelhos
um sorriso
uma mão
uma conversa
uma lanterna que aponta o caminho
aos viandantes que não sabem para onde ir

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

falling for you

no dia em que cair por ti
não me levanto mais

e continuo a cair
para dentro de mim (de nós)

[este texto foi escrito ao som de Wanessa - Falling for U]

lucidez


segue a tua vida na senda de uma palavra:
fé.

segue a tua vida na senda de uma palavra:
esperança.

segue a tua vida na senda de uma palavra:
amor.

previsão vs. ignorância

O dia em que "reli" o meu perfil de facebook e percebi que no dia 14 de Junho já previa que o cataclismo que aconteceu aos professores de EMRC era uma possibilidade real porque, cito, «com o governo que Portugal tem neste momento não há certezas absolutas» não é, decerto, um dia feliz. Esse dia foi hoje e fiquei a pensar que preferia ser ignorante, desinteressado e pouco inteligente para não ver coisas destas. Preferia não ver demasiado e não ver coisas perigosas... Já que há tanta gente com experiência nisso (em não ver nada e em não conseguir prever minimamente o futuro usando, apenas, a inteligência) pode ser que me ajudem. Sinceramente que gostaria de viver assim por uns tempos. Ia sofrer muito menos.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

o verdadeiro amor

o verdadeiro amor está perdido
no bolso de umas calças velhas
que já não te lembras onde deixaste

um dia alguém há-de encontrá-las
e pô-las a secar com os bolsos para fora
penduradas numa corda de sisal

nesse dia o amor fugirá
para poder correr o mundo
e soarão músicas pirosas

 [este texto foi escrito ao som de Lady Gaga - Alejandro]