blogue de poesia e teologia.

aqui não se escreve segundo o acordo ortográfico de mil novecentos e noventa.

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quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

soif

à noite batias-me à porta
para dizer
«tenho sede»

talvez fosse uma forma
de acabar com este vazio

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

uma rima para dizer a noite

naquela tarde disseste-me,
ia eu num autocarro,
que sou o sol radioso.
desde o dia em que
te mandei partir
que sou escuridão.

tivesse hoje
um mínimo sinal teu
e abria-te o coração.

sei que nunca
me darás o coração.
e fica ainda mais escuro.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

a flor que não nomeio

há uma ingenuidade
que me quer convencer
que não existe
uma palavra que transforma

no silêncio da noite
lembro-me que foi
com palavras
que te perdi

a realidade a impor-se

fight

dói muito
levar porrada,
todos os dias,
destes dias iguais

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

estrelas

o brilho dos teus olhos
o teu sorriso
tu
a memória que levei
quando parti
no primeiro comboio
da manhã

lá vem meu trem

dia de agradecer

p. a I.

passei anos a convencer-me
que fiz bem ao mandar-te embora.
tentei convencer-me, até,
que apenas te deixei ir.
talvez pelo adiantado da noite
não sei, como sempre não sei,
vou percebendo que errei.
não podia ter-te mandado embora.
não podia ter dito aquilo,
tudo aquilo.
devia ter calado. estar calado.
não há, como para agradecer,
um dia para pedir perdão.
dias para pedir todo o perdão
que mereces.
dias para que pudesses ler isto,
sei que não vais ler,
e para que te amolecesse
o coração
que eu empederni.
a bonequinha de porcelana
partiu-se e fui eu
quem a deixou cair.
certas noites custa
dormir com as minhas mãos.

desculpa.
mesmo que nunca leias isto
desculpa.

sábado, 9 de janeiro de 2016

nos quinhentos anos de morus

utopia não é mudar
o que rodeia o homem
como se a técnica
nos fizesse novos.

utopia é mudar
o homem
acreditar
que podemos ser novos.

envelhecer um papel com café

os cafés à tarde todos iguais
e eu a imaginar-me velho
numa esplanada
para ver passar os carros
como se essa vida
que ainda passa em frente
pudesse ser minha.