blogue de poesia e teologia.

aqui não se escreve segundo o acordo ortográfico de mil novecentos e noventa.

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quinta-feira, 30 de abril de 2015

ela é mais sentimental

ainda falta um poema
para falar do que não se sente
os beijos não dados
que nunca se virão a dar
as noites de amor frenético
que foram passadas em solidão
a tarde passada sentado na cadeira do quintal
a olhar uma parede
o silêncio do som dos pássaros na província
que lembra o silêncio da tua voz
na mesa do café

naquele dia fugimos rua acima
com os nossos bolsos vazios
disso já só eu me lembro

segunda-feira, 27 de abril de 2015

candeeiro com berloques

e deixava-se guiar pelo som
o som das portas a bater
e o ruído incómodo da porta
que abria lentamente
para dissimular estalidos

escapou-se da casa
ao primeiro sinal
da luz da manhã

terça-feira, 21 de abril de 2015

Versos para Arvo Pärt

que o silêncio
te leve
aos sons que não escutas

que o silêncio
te conduza
a lugares que não visitas

sexta-feira, 17 de abril de 2015

excesso

era o poema a esgotar-se
no excesso de palavras
e os homens que já não subiam
ao cimo dos sicómoros
para ver aquele que passa
e traz palavras de redenção

as pessoas cansaram-se
de procurar a margem certa
e o brilho escondido
dos olhos de quem ama

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Versos para Eduardo Lourenço

que livro escolherás
para aí procurar
uma palavra que abra caminhos
de salvação?

professar

não se escolhe ser homem-bala
não se escolhe a que trapézio subir
nem a escada que se descerá
de olhos vendados

deixemo-nos ir
pelos caminhos que nos escolhem

esperando godot

a verdade que descobriste
debaixo da cerejeira florida:
aquele que esperas não vem
talvez nunca chegue a vir

quarta-feira, 15 de abril de 2015

menos musical

quantos gestos são precisos
para destruir uma casa?

de quantas palavras precisas
para dizer o indizível?

assim se constroem tratados

o manuscrito perdido

o oriente que te interessa
é o das ideias longínquas
e dos incensos e dos mantras
de frases consoladoras
deixadas por um monge careca
num manuscrito com três mil anos

o oriente que morre sob bombas
com a causa estúpida da diferença de fé
esse não te diz nada
não tem monges carecas
nem manuscritos consoladores
é a terra que te ensinou a pensar
isso não deve ter valor

sono

no fim do dia restarão flores mortas
e sairás de lanterna na mão
em busca da serenidade das madrugadas
uma coisa dessas que se ouvem nos fados
talvez consigas encontrar um homem
como o filósofo grego que os procurava
não à noite mas ao meio-dia
deve ser mais difícil encontrar um homem
que uma madrugada serena
ou o amor de uma mulher que cante

quinta-feira, 9 de abril de 2015

o banco

transporta demasiados sonhos
demasiados silêncios
demasiadas conversas
o banco envelhecido
do jardim em ruínas

se conversas e sonhos
ainda despertam interesse
dos silêncios ninguém quer saber