blogue de poesia e teologia.

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quinta-feira, 27 de junho de 2013

Onde vamos estar daqui a vinte anos?

Hoje, dia de greve geral, enquanto percorria, a pé, o caminho que liga o Marquês de Pombal ao interface do Campo Grande pus-me a pensar num texto que li, de manhã, no site da Agência Ecclesia, sobre a posição da Igreja em relação à greve e também sobre algumas opiniões contrárias à greve que ouvi ou li não só hoje como nos últimos tempos.
Por um lado, pensava na qualidade que o meu professor de Teologia Moral Social, padre José Manuel Pereira de Almeida, tem para me ter conseguido incutir uma consciência da Doutrina Social da Igreja que me faz reflectir sobre os problemas com que me confronto neste âmbito sentindo e pensando o que a Igreja sente e pensa (desde o início da greve dos professores que o que defendo é o mesmo que se encontra neste artigo da Ecclesia). Por outro lado, pensava na importância da noção, fundamental na DSI, de bem comum e em como deve ser ela a guiar as nossas decisões em momentos como este.
E é precisamente pelo bem comum que vou para relacionar esse meu primeiro pensamento com a reflexão que fiz sobre as tais críticas à greve. Se é verdade que os grevistas, ao decidir avançar para esse passo extremo, devem ter em conta a influência da sua acção no bem da polis - devem medir até que ponto a sua greve tem em vista a construção de uma cidade mais justa, mais verdadeira, mais igual - também é verdade que as críticas à greve se deviam referir a isso - se a greve prejudicou o bem comum, ou se a greve tem em vista apenas o bem imediato em vez de um bem maior no futuro.
Isto para dizer que vejo muita gente a criticar a greve apenas pelo seu prejuízo individual - "não consegui chegar a horas ao emprego", "não tive transportes", "o meu filho não fez exame", "ainda não saíram as minhas notas". Acho isso bastante pobre. Essa falta de uma visão comum, essa falta de uma capacidade de pensar no futuro, e num futuro comum, essa incapacidade de pensar que uma greve pode ter como causa o desejo de que os empregos, os transportes, a educação, possam continuar a estar ao alcance das pessoas (também sei que isto pode ser responsabilidade dos próprios grevistas, que partem para a sua "luta" pensando no seu emprego, no seu salário, no seu direito a usar transportes públicos, na sua educação e na dos seus filhos - o que quero criticar é a lógica individualista e emocional e não quem está contra ou a favor das greves, tanto que, dependendo das circunstâncias, lá está, por causa do meu interesse pelo bem comum, já estive dos dois lados da barricada).
Em suma, e como indica o título deste texto, o que gostava é que pudéssemos pôr a questão "Onde vamos estar daqui a vinte anos?" mais do que aquela outra "Onde vou estar daqui a vinte anos?" (se pensarmos bem, são perguntas bem diferentes, uma procurando o bem comum e uma visão integrada do futuro e a outra egoísta e mais pequenina em termos de consciência ética e moral). Façamos, então, a começar por mim, essa pergunta.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

a árvore da vida

não quero um deus que se manifeste nas flores
nem que faça magia
nem que me faça sentir bem

quero o Deus que se faz Homem
que, por amor, morre na Cruz
e a transforma em Árvore da Vida
ressuscitando ao terceiro dia

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Meditações do campo de batalha

Às vezes, no combate (prefiro a expressão de Paulo de Tarso a outras, mais em voga, conotadas com outras tradições) pelo que achamos ser justo e verdadeiro - como no combate pela Justiça e pela Verdade, que para mim é o combate da Fé - a linha que separa a rectidão dessa busca da loucura, da estupidez e do desrespeito é demasiado ténue - quinze dias de trabalho na Casa de Saúde do Telhal foram-me mais do que suficientes para perceber isso. Estou, neste momento, envolvido num desses combates e, embora não tenha desistido dele, porque o continuo a achar justo, já percebi que há muito em mim para corrigir. Há muito de tacto, de respeito pela diferença, de escolher quando falar e quando calar que ainda me faz falta. Que aqueles a quem vou ofendendo pelo caminho, em todos os combates, tenham tanto quanto eu o desejo de buscar caminhos de encontro e não de divisão.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

lilia agri (ii)

contemplo os lírios
enquanto passeio pelo campo
e me arranho nas silvas
olho o sol e sinto o vento
contemplo os lírios
para me lembrar
que as razões para a alegria
são mais que para a tristeza

segunda-feira, 17 de junho de 2013

às escuras

as pancadas na mesa
às escuras
no velho escritório

irritam mais
que as pancadinhas de Molière

terça-feira, 11 de junho de 2013