aqui não se escreve segundo o acordo ortográfico de mil novecentos e noventa.
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sexta-feira, 28 de julho de 2017
revival
quando tudo era a sério,
a música que passava
dizia algo sobre a nossa vida,
pedíamos perdão quando era de pedir,
perguntávamos o que, afinal, nos separava
uns dos outros e de nós mesmos,
acreditávamos numa luz ainda
que continua acesa
no meio da noite,
perdíamos tempo a ouvir o silêncio
e nos construíamos em volta das canções
quando a província e os gira-discos deixavam.
não podemos ficar lá.
isto às vezes não é a sério,
os dj só passam porcaria
e até na rádio aquilo não nos diz nada,
sobre a nossa vida nem sobre a vida de ninguém,
parece que todas as luzes se apagam
e nem temos do que nos separar,
não há mais silêncios,
não há mais paragens possíveis
perante a velocidade do mundo,
mas podemo-nos construir hoje,
temos de nos construir hoje,
sobre uma canção qualquer
nem que venha trazida do tempo
de que temos tantas saudades.
quinta-feira, 27 de julho de 2017
Sarai ri
a rapariga linda
está a ler um livro,
de vez em quando levanta-o
e eu espreito a ver que livro é
e se ela valerá a pena.
o nome do autor aparece
em letras garrafais,
demasiado grandes, até,
mas não consigo perceber
o título do livro,
só que está a itálico.
volto a centrar-me no rosto da actriz,
sardento e luminoso,
nos cabelos apanhados com dois totós
(acho que é totós que se diz),
nos olhos castanhos grandes.
depois a voz doce e meiga,
capaz de nos fazer encantar
até pela lista telefónica da alta extremadura.
desviei os meus olhos da actriz
e veio, por fim, o texto.
a fazer sentido, ou a fazer mais sentido,
agora as palavras entrando pelos ouvidos
e juntando-se cá dentro
à memória da imagem da rapariga linda,
no fim sempre as palavras
a coser o sentido de tudo isto.
terça-feira, 11 de julho de 2017
subiaco
aqui e agora
o tempo de escolher
construir isto de um modo novo
agarrando-o com as próprias mãos
e oferecendo-o ao Outro