blogue de poesia e teologia.

aqui não se escreve segundo o acordo ortográfico de mil novecentos e noventa.

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sábado, 11 de maio de 2024

relampejar por entre caruma

os pirilampos são bichos feios
que emanam uma luz bonita.

soubera eu guardar essa luz
na palma das mãos
sem que os bichos se percam,
pudesse eu guardar
uma luz fria na palma das mãos 
que iluminasse os teus olhos

domingo, 5 de maio de 2024

o último signo

o café da aldeia
é uma memória do passado,
permanece no passado
com decoração de madeira
e calendários velhos.
é um estranho lugar de conforto 
e saudade, só os velhos e as moscas
aqui habitam com vontade 

tigre enforcado




um casal invade aos berros
a ala de alta segurança
da antiga prisão política,
abre e fecha as gavetas da cozinha
e ignora um prato de metal, uma colher torta
e um púcaro velho e desgastado.
as pessoas fogem dali,
não querem aquela presença 
nem o confronto com os loucos.
mais adiante, a mulher visita em silêncio 
uma das celas de isolamento 
e o homem interpela-a com uma pergunta:
«de que material é feito o chão?»
era um piso de madeira, até bonito.
o homem diz que assim os inquilinos não tinham tanto frio,
e humanizou os algozes.
o fascismo é este ponto preto
na maçã encarnada,
que ataca todo o fruto e os que o rodeiam