blogue de poesia e teologia.

aqui não se escreve segundo o acordo ortográfico de mil novecentos e noventa.

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sexta-feira, 4 de março de 2016

digging

devia exclamar
quando reconheço
que descobri um poeta

hoje já não consigo
já não me acelera
o coração

descobrir um poeta
é agora um exercício inócuo
tão indiferente
como uma tarde no sofá
frente a um televisor ligado
num canal de notícias

soube há pouco
que andam por aí
a queimar livros
- o cheiro chega cá -
isso ajuda a eliminar
o espanto com os poetas
que se deixam descobrir

bem-vindos a um não-lugar

as televisões paravam
se nascessem flores
porque um homem
ama uma mulher

mas é tudo ficção:
as flores que permanecem
são de plástico
e o amor é difícil
porque a maior distância
do mundo
é a que se cria
para separar
dois corações

quarta-feira, 2 de março de 2016

um rio que corre pelas tuas mãos

se ainda estivesses por aqui,
se hoje pudéssemos celebrar
mais um aniversário
do nosso amor,
mas, como sempre,
não estás,
pareces mais longe
que a morte
(e dói muito, a morte,
a primeira mão de terra
que cai com estrondo
sobre o caixão,
as lágrimas contidas
durante anos
que já não dá mais
para conter).
saber que continuas aí
a tentar ser feliz
com outro
enquanto aqui estou
pensando em ti
quando talvez já nem saibas
nada de mim, nem o nome
(ainda sei o teu cheiro bom
e o som agudo e lindo da tua voz
de bonequinha)
é como levar a mão à terra
e deixá-la enterrada
para sempre.
e para sempre
é tanto tempo...
não sei se aguento esperar
por algum sinal teu.