blogue de poesia e teologia.

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quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

capitanear

no intervalo grande da manhã,
como em todos os bocados livres,
fazíamos balizas com pedras da calçada
junto à árvore grande ao lado do muro da escola,
nunca soube o nome da árvore grande
junto ao muro da escola,
ou entre o poço e o pinheiro manso
que podíamos ver da janela da nossa sala
e éramos, por minutos, pelés, eusébios
e maradonas a fintar o mundo.
cada jogo valia a vida toda
e levávamos de casa faixas de pano cru
em que desenhávamos os emblemas dos nossos clubes,
águias, leões, dragões, o atleta do gaeirense,
e o capitão usava sempre orgulhoso
a sua braçadeira de pano cru
com o símbolo esborratado,
não tinham grande qualidade os nossos marcadores molin.
sempre gostei do segundo lugar
e ajudava o capitão a pôr a braçadeira,
não demasiado solta que caísse,
não demasiado apertada que magoasse,
os anos passaram e o capitão de equipa
já não está, não vai estar mais,
para pôr no braço esquerdo o emblema do benfica.
seria agora a minha vez de ajustar a braçadeira
bem perto do coração
e não consigo, falta-me o jeito
para capitanear a equipa durante mais um jogo,
para capitanear a minha vida,
fazem tanta falta os amigos
que a usaram antes, em tantos intervalos das aulas,
e já não estão, jogam agora num outro campo mais longe,
espero, com balizas e relva a sério