blogue de poesia e teologia.

aqui não se escreve segundo o acordo ortográfico de mil novecentos e noventa.

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terça-feira, 26 de outubro de 2010

Teologia


Dans sa misère, la théologie regarde vers la porte.

Do Livro dos Actos dos Apóstolos

A luz de Damasco é um grito
Para a ovelha que regressa

A luz de Damasco é um tombar do trigo, um cair
Do grão - cega tanto como os olhos
De um homem perseguido quando se volta
Para nós

A luz de Damasco golpeia. É circuncisão
Que abre, limpa, a luz de Damasco
É dura. Da dureza

Das pedras que um mártir junta com as mãos
Com que empedra o caminho para a morte. A luz
De Damasco é esse lume

Da oração de um mártir ao morrer


Daniel Faria

sábado, 16 de outubro de 2010

Dia de anos

Hoje, dia de dar graças a Deus por mais um ano de vida concedido por Ele, agradeço por cada uma das pessoas que se cruzaram comigo ao longo da vida. E já foi tanta gente! Que eu saiba cada vez mais valorizar esses encontros e ser testemunha de Cristo junto dos irmãos! Beijos e abraços a todos.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O servo (Mt 25, 21)

No circo mediático em que se tornou este mundo ainda há homens simples: "Não me tratem como artista, sou Mario, o trabalhador mineiro." A mesma boca disse: ‎"Estive com Deus e estive com o Diabo, lutaram por mim, e Deus ganhou! Agarrei a mão melhor." Deus faz maravilhas. A treze de Outubro!

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Tema de tese (provisório-definitivo)

Hoje a concretização do tema da minha dissertação de mestrado deu um enorme passo. Foi preciso definir um título e subtítulo para a mesma, bem como fazer um pequeno sumário acerca da investigação a fazer. É isso que agora partilho convosco.

Título «Por causa de Cristo somos idiotas» - uma retórica da fragilidade em São Paulo.

Sumário Nesta dissertação pretende-se estudar, a partir da expressão de 1 Cor 4, 10, «Nós somos idiotas por causa de Cristo», a importância do uso de metáforas relacionadas com a fragilidade na construção do discurso de Paulo. Trataremos, em particular, esta metáfora do «idiota», fazendo a ligação com o contexto histórico de Paulo e, em particular, com a linguagem própria do teatro, donde é tomado o termo.

Assim que se saiba da aprovação, ou não, deste tema, darei mais notícias. De resto, vou procurar que este blogue seja espaço de partilha da investigação feita.

Esta teologia não é para leigos

Apontamentos sobre o discurso teológico nas redes sociais

Ao navegar pela internet, sobretudo nas redes sociais, e ao, nelas, interagir com outros, descobri, pelo menos, um facto curioso, relacionado com o ofício teológico, que julgo merecedor de reflexão atenta e cuidada.
O facto é muito simples, e tem a ver com o título deste post. A teologia - o discurso teológico - só é bem aceite (pelos cristãos, leia-se; os outros aceitam mal qualquer discurso teológico, de resto aproveitando para atacar a Igreja, sobretudo na sua dimensão hierárquica, e ridicularizá-la, bem como a toda a mensagem cristã...) quando feita por clérigos (sobre a excepção que confirma a regra falaremos adiante).
Dou um exemplo concreto: se um padre, de uma Ordem ou Congregação religiosa ou não, discursa sobre o estado do mundo, denunciando o que está mal, proclamando a necessidade de novas relações humanas, fundadas no respeito entre os homens, no reconhecimento do outro como irmão, etc., é um herói, que tem coragem de remar contra a maré, de enfrentar um mundo adverso à mensagem cristã, e está a contribuir decisivamente para a mudança de mentalidades e comportamentos. Se for um leigo a fazê-lo, sobretudo se for teólogo, não passa de um idealista, que não sabe que o mundo não vive de ideias bonitas (ainda que estas se enraízem no Evangelho!).
Lugar à parte têm os leigos estudiosos por conta própria (contra os quais não tenho nada contra, desde que sejam portadores de inteligência e honestidade intelectual) que produzem verdadeiros tratados teológicos (ainda que sem qualquer fundamento científico, próprio de uma Teologia que quer ter lugar na "casa da ciência"; mas que interessa isso a estas pessoas?) para as redes sociais, e que, mesmo que sem passar pelo escrutínio do sensus fidei e do sensus ecclesiae são aclamadíssimos.
Mas a verdadeira questão, hoje, não está em denunciar esta separação, antes está em darmos as mãos (clérigos e leigos teólogos) e em juntar as nossas ideias e as nossas acções para mudar o mundo. Uma Teologia que perca a dimensão de ciência, por um lado, e a dimensão prática, concreta e palpável de presença no mundo - a que podemos chamar de pastoral - vai, concerteza, perder quer o seu lugar na "casa da ciência" quer o seu interesse para a vida das pessoas. E sem isso, ela deixa de ser coisa alguma. Está nas nossas mãos conservar a Teologia. Que o saibamos fazer, com a inteligência e com as mãos, para não sermos acusados de idealismo nem, por outro prisma, de viver uma acção social desligada da fé. Que a nossa vida seja fé, esperança e caridade, para que no fim permaneça o Amor.

(este texto será publicado também em theo-odisseia)

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Agrupamento Musical Lauro Palma (again)

Enquanto não voltam informações fresquinhas sobre a minha tese, que está cada vez mais próxima de ter um título definitivo, sempre à volta de 1 Cor 4, 10, mantenho a actividade do blog partilhando este vídeo do Agrupamento Musical Lauro Palma, talvez o tema mais rural da música não-pimba cantada em português. Sublinho a pergunta sincera do refrão: «Mas porquê mudaste aquele marco?! Fiquei com menos meio metro de terreno p'ra lavrar!»


sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Da crise

«Do justo e duro Pedro nasce o brando

(Vede da natureza o desconcerto!)

Remisso e sem cuidado algum, Fernando,

Que todo o Reino pôs em muito aperto;

Que, vindo o Castelhano devastando

As terras sem defesa, esteve perto

De destruir-se o Reino totalmente,

Que um fraco rei faz fraca a forte gente.»


Luís de Camões, Os Lusíadas, Canto III 138.


(sugiro que vejam esta entrevista do Frei Fernando Ventura à sic notícias)

«Deus morreu», Nietzsche

«Nietzsche morreu», Deus.

(o que se faz só para pôr aqui a imagem de um bigode farfalhudo)

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

A maçonaria é o %&#$%&$

Ao ler a notícia de que as Misericórdias portuguesas rejeitam terminantemente a sua submissão aos Bispos, não deixo de me lembrar da frase que, sem continência verbal, uma pessoa uma vez me disse (de resto, a frase com que dou título a este post): «A maçonaria é o %&#$%&$!»
É triste este momento, quer para a Igreja, que, diga-se, talvez tenha tido desde há muitos anos dificuldade em encontrar a recta relação com estas instituições, quer para as Misericórdias, que a pouco e pouco foram perdendo a sua dimensão fundamental, de serem lugar de misericórdia, acção do coração em favor das pessoas que passam por necessidades, e foram-se tornando centros de negócio mantendo a capa dessas acções. São instituições com bastantes bens (imóveis e móveis [dinheiro]), o que as torna apetecíveis como lugares de interesses económicos e vias de progressão política.
E é aqui que entra a maçonaria. Se virmos uma boa reportagem sobre este grupo (como esta), percebemos que tem uma aparente inutilidade espiritual e prática. Assim, o seu valor só pode estar na troca de favores e interesses. E é aí que, por causa daquilo em que se tornaram, as Misericórdias se tornaram um bastião maçónico, à medida que a dimensão institucional da Igreja (sobretudo os senhores Bispos...) foi deixando esta associação laical ("associação pública de fiéis") trabalhar em roda livre...

Notícia sobre a reacção das Misericórdias aqui.

A posição da Igreja portuguesa, aqui.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Mulher(es) mesmo bonita(s)

Aqui há tempos um amigo dizia-me, frase "da sua avó", que «mais vale ficar calado e passar por burro do que abrir a boca e confirmar as suspeitas», mas não deixo de pensar, também, como diz o outro provérbio, que «à mulher de César não basta ser, é preciso parecer», ou seja, se me encanto com a beleza das coisas e das pessoas só pelo que vejo cada vez mais o que faz a diferença entre a verdadeira beleza e essa aparente é o que sai do coração. De resto, já diz o Evangelho, «Jesus respondeu-lhes: «Também vós não sois ainda capazes de compreender? Não sabeis que tudo aquilo que entra pela boca passa para o ventre e é expelido em lugar próprio? Mas o que sai da boca provém do coração» (Mt 15, 16-18). Foi assim que fiquei agradavelmente surpreendido com a entrevista de Joana Carneiro (que já tive a graça de "conhecer" pessoalmente [foi uma das convidadas das culturalmente muito produtivas sessões de tutoria com o padre Tolentino]) à notícias magazine. Deixo aqui um excerto que achei particularmente bonito. Antes, digo que se a Joana "física" já era muito bonita, agora, aos meus olhos, reluz muito mais.

nm: Que palavras usaria para se definir?

JC: Sou uma pessoa com muita sorte, sobretudo. Uma pessoa com muita sorte. Que tem tido muitas graças na vida e que tem tido a sorte de ter tido muito amor, que tem tido a sorte de conhecer pessoas extraordinárias que me salvam diariamente, na música e não só. Questiono-me muitas vezes porque é que a vida tem sido tão generosa para comigo. Na família em que nasci, no país em que nasci, - num país que me amparou desde cedo, que me ajudou a transformar e a desenvolver a minha imaginação artística -, …

nm: Não está a pôr muito o acento tónico na sorte? Então o seu esforço, o seu mérito, o seu talento?

JC: Bom, eu acho que trabalho muito… mas aquilo que sinto é que há muitas pessoas neste mundo que trabalham muito e não têm as oportunidades que eu tive. Por isso existe um factor sorte, existe um factor mistério na minha vida. Nas alturas mais difíceis da minha vida, acabo sempre por ter muito mais coisas para agradecer do que para pedir. (silêncio) E realmente isto é uma graça enorme. Que tem que ver com coisas misteriosas e que nos são dadas gratuitamente. E nesse sentido, acho que sou uma pessoa com muita, muita sorte.

nm: De onde acha que vem essa sorte?

JC: É evidente, não é? De onde acho que vem essa sorte? Vem de qualquer coisa que vai muito para além daquilo que é terreno.

nm: Deus?

JC: Vem de Deus. Com certeza. Não tenho dúvidas que sim. Não tenho dúvidas.

Tema de tese (provisório)

Continuando sempre à volta de São Paulo, volto agora a refazer o tema da minha tese: "«Nós somos idiotas por amor de Cristo» - uma leitura de 1 Cor 4, 10". Até à próxima semana haverá mais novidades.

Santo da minha devoção

A Igreja celebra hoje São Bruno. É um santo que facilmente passa despercebido. Não foi fundador de uma das Ordens ainda hoje bastante conhecidas, não fez grandes milagres mirabolantes, não foi mártir... No entanto, foi, sem dúvida, um homem fantástico. Um aventureiro de há novecentos anos, um chato, um lutador pelos seus sonhos, em suma, um verdadeiro homem de oração. Hoje é dia de dar graças a Deus pois o sonho da vida de São Bruno continua bem vivo: a Cartuxa continua, com homens que, retirados do mundo, rezam, a cada dia, todo o dia, pela salvação da humanidade inteira! Stat crux dum volvitur orbis.

Para um estudo mais aprofundado sobre a vida de São Bruno podem consultar este meu trabalho de investigação.

Neste post lembro ainda os rapazes do Curso de São Bruno, agora no seminário dos Olivais, com quem fiz uma caminhada de três anos, e ainda o Pe. Luís Nolasco, ex-clero de Lisboa, agora na Ordem Cartusiana, cuja alegria de vida na entrega total a Deus e ao silêncio orante me marcará para sempre.

sábado, 2 de outubro de 2010

«O pequeno grupo dos Capinhas»

Na semana que passou nasceu mais um membro da minha família. Deram-lhe o nome de Leonardo [Do germânico Leonhard , 'leão ousado'], quase de certeza para lhe chamar Leo, diminuindo logo à partida as suas capacidades... Mas o post não tem (como podia perfeitamente ter) a ver com o uso de diminutivos, coisa que no mínimo me irrita, antes com outro facto, (curiosamente) a queda de natalidade em Portugal.
No tempo dos meus avós o normal era que um casal tivesse entre oito e doze filhos. No tempo dos meus pais, a média era de 3 a 8 filhos. No tempo em que eu nasci, a média era de 2 a 4 filhos, começando já a haver alguns filhos únicos. Hoje, na loucura, tem-se um filho.
Entre outras várias consequências, inclusive para a própria economia nacional, uma delas é o fim do que eu chamaria de "forma portuguesa" de dar os nomes. Se há menos de cem anos ainda era comum dar-se apenas um nome próprio às pessoas, pouco depois se impôs a tal forma portuguesa de dar os nomes, ficando a criança com o(s) seu(s) próprio(s) nome(s), depois o último apelido da mãe e por fim o último apelido do pai [ilustro com o meu próprio nome: André João (próprios) Pereira (da mãe) Capinha (do pai)]. Isto nunca foi problema enquanto as pessoas tinham muitos filhos, pois sempre haveria alguém para conservar todos os apelidos (dos mais "comuns" aos mais "incomuns" [como o meu...]). De resto, sempre se tinham presentes as excepções à regra, como quando dois apelidos juntos podiam dar mau resultado (Coelho Leitão, Capelo Rego, Caspa Cabeleira), ou quando o pai, no ímpeto do festejo pelo nascimento de um rebento ficasse ébrio e ouvisse "o primeiro apelido da mãe e o primeiro do pai" em vez de "primeiro o da mãe e depois o do pai".
O problema começa a dar-se quando as pessoas começam a ter menos filhos (a bem dizer nenhuns). Aí, alguns paladinos da conservação dos seus apelidos "incomuns" começam a sentir necessidade de ultrapassar a tal forma portuguesa de dar os nomes para conseguir tal empresa! E é isto que se passa na minha família, da parte do meu pai. Tendo os senhores meus avós tido quatro filhos, dos quais dois varões, sendo que um deles não procriou, resta a um a conservação, de acordo com a "forma portuguesa", do apelido. Depois, esse varão (o meu pai) teve dois filhos homens, a quem cabe a legítima conservação do apelido, ainda de acordo com a mesma "forma portuguesa" de dar os nomes.
Mas há quem se esqueça disso e tenha o íntimo desejo de dar aos seus filhos o apelido Capinha, passando por cima das restantes pessoas envolvidas (sim, que o outro lado da família, seja Gomes, Santos, Nunes, Almeida, o que fôr, também pode querer perpetuar o seu nome, ou não?)...
Não fico propriamente chateado ou ciumento, mas é coisa que me irrita passar-se por cima destas coisas tipicamente portuguesas. Por deixarmos perder a nossa identidade nestas pequenas coisas vamos acabar por perdê-la nas grandes. Não é por acaso que Nosso Senhor dizia que quem é fiel no pouco também o é no muito!

Agora uma pequena mensagem às próprias crianças que andam a ser "encapinhadas":
Quando vos disserem que "quem tem capa sempre escapa", quando vos pedirem para dizer o vosso nome e depois do apelido disserem "O quê?", quando tiverem de soletrar à americana "C-A-P-I-N-H-A", quando tiverem de explicar que Capinha não é com "K" como o artista dos D'Arrasar e que não, não são dos Capinhas do Alentejo, nem dos açoreanos, e que são mais ou menos dos das Caldas e dos do Salgueiro, aí agradeçam aos vossos pais. Diz alguém que é Capinha porque assim tinha de ser...