blogue de poesia e teologia.

aqui não se escreve segundo o acordo ortográfico de mil novecentos e noventa.

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domingo, 24 de abril de 2011

Santa Páscoa!


A Páscoa, festa das festas cristãs, coisa para demorar cinquenta dias - para demorar quarenta a preparar tinha mesmo de ser de arromba! -, começou hoje. Podia deixar aqui a minha mensagem pascal noutro qualquer destes cinquenta dias que são um só; decido fazê-lo já hoje... Uma Santa Páscoa a todos!

Surrexit Dominus vere! Alleluia!

sábado, 23 de abril de 2011

Sábado Santo



Depois das Trevas, das trovoadas e dos tremores de terra, o silêncio. Quase, quase, quase a rebentar a alegria pascal. Tensão entre o já e o ainda não, é isto celebrar a Páscoa anual.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Sexta-feira Santa (ii)



Ecce lignum crucis in quo salus mundi pependit

Sexta-feira Santa


Porque a morte tem o seu tempo
A ruína soma ruína, à cabeça
Equilibra a existência desmoronada e inteira.
Tu és o que edifica
Tu constróis mil vezes.
Porque o raio tem o seu tempo.
És o clarão, a lâmpada, a estrela
Somas luz à luz.
Não és a luz, és mais que a luz
Porque a noite tem o seu tempo.
Daniel Faria, in site do SNPC

segunda-feira, 18 de abril de 2011

«Allô? Daqui não fala Deus»

Se há coisa que me mete especial irritação são os telemóveis que tocam dentro das igrejas. Cada vez que ouço um tocar, lembro-me dos guarda-ventos de algumas igrejas onde estão frases do tipo «Deus não fala ao telemóvel. Desligue o seu», mas a que ninguém liga.
Para mim, os telemóveis que tocam nas igrejas são sinal de duas coisas. A primeira, é que ir à igreja rezar, em geral, e ir à Missa, em particular, já deixaram de ser coisas "fora do tempo", num lugar onde quem governa é Deus e onde se fala com Ele, sobretudo, através do silêncio. O tempo dos telemóveis nas igrejas é o do império das guitarras e das flautas e das baterias e das músicas "para jovens" e das palmas e é o tempo em que se vai à Missa, de carro, à paróquia ao lado só porque o padre demora menos tempo e podemos ir almoçar mais cedo. Fascinam-nos as experiências de retiro de silêncio, ou de recolecção, ainda há quem se deixe fascinar pela vida dos monges, o que seja, mas não somos capazes de fazer o nosso retiro de uma hora semanal para a Eucaristia. Já não somos capazes de sair do ritmo do mundo, como bem denuncia a anedota do padre que durante a consagração gritou «Golo», porque nem durante a Missa largava a telefonia para ouvir os relatos do futebol...
A segunda coisa de que os telemóveis nas igrejas são sinal é da falta de respeito que as pessoas começam a demonstrar pelas outras. Como o seu telemóvel lhes pode fazer jeito, deixam estar o som, e chegam até - infelizmente não tão raras vezes como isso... - a atendê-lo durante a Missa, como se não se estivesse a passar nada... Neste sentido, ponho os telemóveis no mesmo campo das chanatas de enfiar no dedo, que se usam "porque está calor e são confortáveis", ou das camisolas de alças ou dos calções ou micro-coisas (saias ou calções) que também se teimam em levar para a igreja ou para os locais de trabalho. É, de facto, a ditadura do individualismo: "desde que eu me sinta bem, tenha à mão tudo de quanto preciso, os outros que se aguentem. Se gostam de ver, vejam, se não gostam não vejam". Perdeu-se o respeito pela sociedade, mais, pela comunidade e pelos acontecimentos comunitários. Já não há espaço de intimidade, em todo o lado se mostra tudo e de todas as maneiras (sinal disso são os colegas que contam a sua vida sexual toda desde pequeninos como se fosse uma coisa normalíssima e como se não houvesse um espaço individual de intimidade que importa preservar).
A sorte é que, com os telemóveis, a solução é simples. Carregue no botão off ou escolha o modo silêncio. A comunidade cristã agradece, e Deus também, mesmo não falando por telemóvel...

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Quando os colegas se tornam amigos

Quando às reuniões se seguem conversas, almoços, cafés, visitas a casa. Quando nos despedimos para férias com cumprimentos decentes... Quando há nomes, frases, caras, que começam a passear pela minha cabeça e a aparecer por aqui no blog. Quando me começam a cativar, e começo a cativar. Quando começamos a chegar ao essencial uns dos outros, esse que é invisível aos olhos. Quando releio O Principezinho e a emoção já não é só por causa da história em si, e por o livro me ter sido oferecido pela minha madrinha que já está no Céu, mas porque vejo aquilo a acontecer na minha vida. Nessa altura, os colegas começam a tornar-se amigos.

- Por favor... Prende-me a ti! - acabou finalmente por dizer.
- Eu bem gostava - disse o principezinho - mas não tenho muito tempo. Tenho amigos para descobrir e uma data de coisas para conhecer...
- Só conhecemos as coisas que prendemos a nós - disse a raposa. - Os homens, agora, já não têm tempo para conhecer nada. Compram as coisas já feitas nos vendedores. Mas como não há vendedores de amigos, os homens já não têm amigos. Se queres um amigo, prende-me a ti!
- E o que é preciso fazer? - perguntou o principezinho.
- É preciso ter muita paciência. Primeiro. sentas-te um bocadinho afastado de mim, assim, em cima da relva. Eu olho para ti pelo canto do olho e tu não dizes nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas todos os dias te podes sentar um bocadinho mais perto...
O principezinho voltou no dia seguinte.
- Era melhor teres vindo à mesma hora - disse a raposa. Se vieres, por exemplo, às quatro horas, às três, já eu começo a ser feliz. E quanto mais perto for da hora, mais feliz me sentirei. Às quatro em ponto já hei-de estar toda agitada e inquieta: é o preço da felicidade! Mas se chegares a uma hora qualquer, eu nunca saberei a que horas é que hei-de começar a arranjar o meu coração, a vesti-lo, a pô-lo bonito... São precisos rituais.
- O que é um ritual? - perguntou o principezinho.
- Também é uma coisa de que toda a gente se esqueceu - respondeu a raposa. - É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias e uma hora, diferente das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, têm um ritual. À quinta-feira, vão ao baile com as raparigas da aldeia. Assim, a quinta-feira é um dia maravilhoso. Eu posso ir passear para as vinhas. Se os caçadores fossem ao baile num dia qualquer, os dias eram todos iguais uns aos outros e eu nunca tinha férias.
Foi assim que o principezinho prendeu a si a raposa. [...]

Antoine de Saint-Exupéry, O Principezinho, Lisboa, Caravela, 1987 (17.ª ed.), p. 69-70.

«Os professores de Moral não choram»

«Foi só um clarão amarelo no seu tornozelo. Ficou parado por um instante. Não gritou. Caiu de mansinho, como caem as árvores. Nem sequer fez barulho, por causa da areia.»

Antoine de Saint-Exupéry, O Principezinho, Lisboa, Caravela, 1987 (17.ª ed.), p. 91

Choram, choram, mas sozinhos. Obrigado, madrinha, é o segundo melhor livro que li. Também choro por nunca te ter podido dizer isso...

[esta entrada nunca seria feita sem a frase das duas Margaridas que dá título ao post, sem a extraordinária criatividade poética de Saint-Exupéry e sem a oferta póstuma da minha madrinha, deste que é, mesmo, o segundo melhor livro que li, a seguir à Bíblia. E eu que já li muito tratado teológico e coisa de valor, que isto não se pode perder tempo só com porcarias...]

terça-feira, 5 de abril de 2011

Paulo vs. Che

Hoje, no autocarro, pus-me a pensar que já há pouco quem se mexa por ideais. Então, não sei bem porquê, lembrei-me da famosa viagem de "Che" Guevara pela América do Sul e dos combates que este travou no continente americano a favor da liberdade.
Depois disto, porque ando sempre intelectualmente ocupado com a minha tese, pus-me a pensar em Paulo de Tarso. Juntei as peças e concluí: comparado a Paulo de Tarso, Guevara é um menino... Pelo menos, pensemos nas distâncias percorridas por um e outro, na América do Sul e América Central ("Che") e na bacia do Mediterrâneo (Paulo), lembremo-nos dos meios de locomoção de um e outro... Vejamos a eficácia do trabalho de cada um: dois mil anos de história da Igreja (Paulo) vs. cinquenta e poucos de uma ditadura cubana que definha.
Pensemos, entretanto, nos desejos, comuns, de ir mais longe (um continuando o périplo de expansão do comunismo na América Latina, o outro trazendo o Evangelho até à Península Ibérica).
A minha conclusão, de forma infantil, é: Paulo - "muitos" - Guevara - vá lá, "um".