blogue de poesia e teologia.

aqui não se escreve segundo o acordo ortográfico de mil novecentos e noventa.

Pesquisar neste blogue

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

É Natal

 Ἐν ἀρχῇ ἦν ὁ λόγος, καὶ ὁ λόγος ἦν πρὸς τὸν θεόν, καὶ θεὸς ἦν ὁ λόγος. οὗτος ἦν ἐν ἀρχῇ πρὸς τὸν θεόν. πάντα δι᾽ αὐτοῦ ἐγένετο, καὶ χωρὶς αὐτοῦ ἐγένετο οὐδὲ ἕν. ὃ γέγονεν ἐν αὐτῷ ζωὴ ἦν, καὶ ἡ ζωὴ ἦν τὸ φῶς τῶν ἀνθρώπων· καὶ τὸ φῶς ἐν τῇ σκοτίᾳ φαίνει, καὶ ἡ σκοτία αὐτὸ οὐ κατέλαβεν. Ἐγένετο ἄνθρωπος, ἀπεσταλμένος παρὰ θεοῦ, ὄνομα αὐτῷ Ἰωάννης· οὗτος ἦλθεν εἰς μαρτυρίαν ἵνα μαρτυρήσῃ περὶ τοῦ φωτός, ἵνα πάντες πιστεύσωσιν δι᾽ αὐτοῦ. οὐκ ἦν ἐκεῖνος τὸ φῶς, ἀλλ᾽ ἵνα μαρτυρήσῃ περὶ τοῦ φωτός. Ἦν τὸ φῶς τὸ ἀληθινόν, ὃ φωτίζει πάντα ἄνθρωπον, ἐρχόμενον εἰς τὸν κόσμον.  ἐν τῷ κόσμῳ ἦν, καὶ ὁ κόσμος δι᾽ αὐτοῦ ἐγένετο, καὶ ὁ κόσμος αὐτὸν οὐκ ἔγνω.  εἰς τὰ ἴδια ἦλθεν, καὶ οἱ ἴδιοι αὐτὸν οὐ παρέλαβον.  ὅσοι δὲ ἔλαβον αὐτόν, ἔδωκεν αὐτοῖς ἐξουσίαν τέκνα θεοῦ γενέσθαι, τοῖς πιστεύουσιν εἰς τὸ ὄνομα αὐτοῦ,  οἳ οὐκ ἐξ αἱμάτων οὐδὲ ἐκ θελήματος σαρκὸς οὐδὲ ἐκ θελήματος ἀνδρὸς ἀλλ᾽ ἐκ θεοῦ ἐγεννήθησαν. Καὶ ὁ λόγος σὰρξ ἐγένετο καὶ ἐσκήνωσεν ἐν ἡμῖν, καὶ ἐθεασάμεθα τὴν δόξαν αὐτοῦ, δόξαν ὡς μονογενοῦς παρὰ πατρός, πλήρης χάριτος καὶ ἀληθείας.

Jo 1, 1-14

sábado, 22 de dezembro de 2012

sûr la fin du temps

ὁ οὐρανὸς καὶ ἡ γῆ παρελεύσονται, οἱ δὲ λόγοι μου οὐ μὴ παρελεύσονται. 
 Περὶ δὲ τῆς ἡμέρας ἐκείνης ἢ τῆς ὥρας οὐδεὶς οἶδεν, 
οὐδὲ οἱ ἄγγελοι ἐν οὐρανῷ οὐδὲ ὁ υἱός, εἰ μὴ ὁ πατήρ.
Mc 13, 31-32

 chega o dia
- aquele dia -
e tudo segue igual

os homens fizeram bunkers
e comeram enlatados
como se não houvesse amanhã

chegava um apocalipse estranho,
que nunca se fez anunciar,
que não deu sinais de vida

os velhos coçavam a cabeça
segurando a boina com a ponta dos dedos sujos
e diziam
que já não se fazem apocalipses como dantes

lamentavam 
porque agora os jovens
já não confiam em Deus

dizia um deles, cuidadoso,
já não confiam num deus
mais, já nem confiam no mundo

nos sinais dos tempos
que desde sempre
nos habituámos a ler

 nós e os povos que se extinguiram
num suicídio colectivo há séculos atrás
 
 

domingo, 16 de dezembro de 2012

sûr l'amour

um homem sem barriga
é como um prédio sem tecto
provérbio turco

um dia
pensei escrever a história do meu amor por ti

podia ter cidades gregas
e conversas longas
(o teu sorriso e os teus olhos)

podia ter convites para dançar
e pequenos elogios
 (o teu sorriso e os teus olhos)

podia ter pedidos tímidos
e um mar de rosas tatuado nas costas
(o teu sorriso e os teus olhos)

podia ter ideias para saídas à noite
e cervejas partilhadas
(o teu sorriso e os teus olhos)

mas não tem

não queres
- ninguém quer -
um homem com barriga
mesmo que não lhe chova dentro

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O boi, o jumento e o Papa

O boi conhece o seu dono, e o jumento, 
o estábulo do seu senhor;
 mas Israel, meu povo, nada en­tende.
(Is 1, 3)


Tenho pena, muita pena, que um livro que faz parte do melhor estudo teológico sobre Jesus feito no século XXI, escrito por um dos cinco melhores teólogos católicos do século XX, tenha ficado conhecido apenas por causa de uma questão menor como é a da presença ou não das figuras do burro e da vaca no presépio. Nem tanto por causa da ignorância do jornalista do Público, que deu um novo sentido à palavra "prescindirá" para afirmar que o Papa proibia a presença do burro e da vaca no presépio (essa é uma questão que me interessa como homem que vive na sociedade civil portuguesa; não é tão relevante para mim enquanto teólogo) mas, sobretudo, porque passam quase setenta anos anos da Divino Afflante Spiritu e cinquenta anos do Concílio Vaticano II e ainda continua a ser gritante o afastamento entre o comum das pessoas e a Sagrada Escritura (tanto que muito poucos tinham a noção de que as fontes canónicas [no caso, o segundo capítulo do Evangelho de Lucas] não fazem referência ao boi e ao jumento na cena do presépio).
Outro dado que me chamou a atenção, enquanto teólogo, foi o facto de as pessoas prestarem bastante atenção à suposta palavra de Bento XVI e desatarem a tirar os burros e as vacas dos seus presépios. Isto demonstra um facto curioso. Se é verdade que as pessoas se vão afastando da Igreja institucional, da comunidade cristã enquanto espaço de permanência e fidelidade (se deixam de ser católicos "praticantes" ou, em rigor, fiéis, para passarem a ser católicos culturais, pessoas que se indentificam com algumas verdades do cristianismo e vivem certos valores próprios do ambiente católico mas já não têm ligação a uma comunidade cristã concreta, com a qual deixam de reunir, na liturgia ou fora dela), sobretudo por causa da moral pessoal (em relação à moral social não sinto esse afastamento, e quando o sinto é porque me parece que a Doutrina Social da Igreja não é ainda conhecida e estudada pela maioria das pessoas, a começar pelos próprios católicos), não deixa de se verificar que, pelos vistos, em matéria de liturgia (já explico em que sentido) ainda usam a voz do Papa como algo a seguir.
O facto é que uma certa forma de tradição e de ligação à Igreja permanece por meio destes actos simples de uma certa religiosidade popular cultivada nos tempos litúrgicos mais fortes (Natal e Páscoa, esta última, no caso português, sobretudo no norte do país) e assumiu o lugar de uma liturgia particular que tem o próprio indivíduo ou a família, enquanto grupo homogéneo, como sacerdotes. E em relação a esta liturgia particular as pessoas ainda não perderam a Igreja como referência. Continua a haver um relativo interesse em ouvir o que o Santo Padre diz em relação a estes temas e até em seguir a sua palavra.
Isto pode ser uma oportunidade para a Igreja, se souber perceber que as pessoas ainda continuam a ouvir o Papa e que é preciso que a sua presença nos media se vá tornando menos periférica e mais bem aceite. Pode ser uma oportunidade se a Igreja perceber que, nos próximos tempos, se deve preocupar mais com temas de moral social e, sem medo, temas teológicos e de catequese fundamental que, contrariamente ao que parecia, até interessam às pessoas.
Pode, também, ser uma oportunidade para que as pessoas se aproximem da teologia superior com que foi escrita toda esta obra Jesus de Nazaré, o resultado de uma pesquisa pessoal de décadas. Que, pelo menos, leiam esta última pequena parte da obra Jesus de Nazaré [- A infância de Jesus, São João do Estoril, Princípia, 2012.]