Nos últimos tempos, acompanhando as redes sociais e, dentro destas, grupos de pensamento cristão, tenho reparado que há um novo grupo que cresce cada vez mais e que me preocupa. É um grupo de pessoas que defende uma visão tradicionalista da celebração litúrgica (até aqui nada de mal) e uma visão tradicionalista da teologia (até aqui também nada de mal). Os problemas começam quando estas pessoas mostram que a visão que defendem é considerada por si como a única visão possível da Liturgia e da Teologia.
Como disse, nada contra que tenham uma visão tradicionalista da Liturgia e da Teologia, afinal uma das primeiras coisas que se aprende em Eclesiologia é que a Igreja Católica é um espaço de unidade na diversidade. Mas considerar que uma dada visão sobre uma e outra é a única possível é que já pode constituir um problema. Sobretudo quando essa defesa implica uma crítica aberta e em praça pública contra os Bispos que não concordam com a sua perspectiva (que, por vezes, chega a ser uma crítica ao Papa, se ele não celebra segundo a liturgia tradicionalista ou se defende posições teológicas mais "vanguardistas"; neste último caso, basta que concorde ou se revele próximo de teólogos que o façam).
Outra das coisas que se aprende em Eclesiologia e, também, nas disciplinas de Teologia Fundamental, é que a garantia de comunhão com a Igreja é assegurada pelo trinómio Sagrada Escritura - Magistério - Tradição. E os Bispos foram importantes na fixação do cânone da primeira e são ainda hoje o garante das duas últimas. Criticá-los por princípio, publicamente e, perdoem-me a ousadia, por capricho, por muito que se ache que se possui a verdade do que é a Igreja, é fazer ruir a comunhão eclesial. Ainda para mais quando se faz isso em praça pública e em grupos ligados ao pensamento cristão.
E numa Igreja sem comunhão (e, como tal, sem fiéis) de nada servirá uma Liturgia bem celebrada e uma Teologia firme (se bem que eu, na minha humilde visão de teólogo, considere que é diferente uma Teologia firme de uma Teologia fixa. Afinal, a Teologia não deixa de ser uma ciência...). Uma Igreja sem os Bispos e os padres que não nos convêm (e também há muitos que não me conviriam, pelas mais variadas razões) já não é a Igreja de Jesus Cristo e é preciso ter a noção clara disso.
Desde Jesus que a Igreja sempre foi uma comunidade de Santos e pecadores (para mim, a Igreja é mais um grupo de pecadores assumidos [como rezamos, Domingo após Domingo, no Acto Penitencial, seja em que língua for] do que de santinhos [embora nela haja Santos em todos os tempos, e graças a Deus]). Desde os Apóstolos (os primeiros Bispos) que há Santos e pecadores. Desde esse tempo que nunca foram escolhidos só os perfeitos. E desde esse tempo que é nessa comunidade que Jesus se manifesta.
Se vão descobrindo que já não é nesta comunidade religiosa que encontram Jesus e se este Papa, estes Bispos, estes padres e estes irmãos na fé já não vos servem então que criem um novo grupo religioso. Mas por favor e para o bem da Igreja, não estraguem a comunhão dos que ainda encontram Cristo aqui. Na variedade de pensamento do Magistério, no ensino dos homens pecadores que nos conduzem, na variedade litúrgica onde há muito erro e coisas quase cómicas mas onde ainda continua a surgir, Vivo, o Senhor Jesus, sempre que o sacerdote profere as palavras consecratórias, seja em que língua for.