blogue de poesia e teologia.

aqui não se escreve segundo o acordo ortográfico de mil novecentos e noventa.

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sábado, 15 de setembro de 2012

volvitur orbis

num mundo em transformação é normal os homens verem-se obrigados a voltar com a palavra atrás. eu não sou particular fã disso mesmo quando, como agora, é por uma boa razão que o faço. mas o facto é que confiei na palavra dos meus legítimos superiores, escrevi sobre isso com um ar de quem tem certezas absolutas e essa palavra, por contingências várias, alterou-se. isso é o que me interessa, porque assim vos posso dizer que afinal estou de volta. assim posso agradecer todas as mensagens e demonstrações de carinho e apreço que, continuo a dizer, nunca irei perceber por que existem. assim já posso ir buscar o meu horário (agora é que é, Cândida!) que vou coser com mais dois (esta é para vocês, pessoal dos primeiros ciclos e da secundária!) e que vou seguir com o mesmo espírito de serviço que pedia para a tal pessoa que, supostamente, me viria substituir.
não vos posso prometer nada a não ser eu. com todos os meus defeitos e as minhas poucas qualidades. eu, em toda a minha inutilidade mas também em toda a minha disponibilidade. é esse que vão continuar a ver e é esse com quem podem contar. saudações cordiais a todos e vamos a mais um ano!

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Os novos donos da Igreja

Nos últimos tempos, acompanhando as redes sociais e, dentro destas, grupos de pensamento cristão, tenho reparado que há um novo grupo que cresce cada vez mais e que me preocupa. É um grupo de pessoas que defende uma visão tradicionalista da celebração litúrgica (até aqui nada de mal) e uma visão tradicionalista da teologia (até aqui também nada de mal). Os problemas começam quando estas pessoas mostram que a visão que defendem é considerada por si como a única visão possível da Liturgia e da Teologia.
Como disse, nada contra que tenham uma visão tradicionalista da Liturgia e da Teologia, afinal uma das primeiras coisas que se aprende em Eclesiologia é que a Igreja Católica é um espaço de unidade na diversidade. Mas considerar que uma dada visão sobre uma e outra é a única possível é que já pode constituir um problema. Sobretudo quando essa defesa implica uma crítica aberta e em praça pública contra os Bispos que não concordam com a sua perspectiva (que, por vezes, chega a ser uma crítica ao Papa, se ele não celebra segundo a liturgia tradicionalista ou se defende posições teológicas mais "vanguardistas"; neste último caso, basta que concorde ou se revele próximo de teólogos que o façam).
Outra das coisas que se aprende em Eclesiologia e, também, nas disciplinas de Teologia Fundamental, é que a garantia de comunhão com a Igreja é assegurada pelo trinómio Sagrada Escritura - Magistério - Tradição. E os Bispos foram importantes na fixação do cânone da primeira e são ainda hoje o garante das duas últimas. Criticá-los por princípio, publicamente e, perdoem-me a ousadia, por capricho, por muito que se ache que se possui a verdade do que é a Igreja, é fazer ruir a comunhão eclesial. Ainda para mais quando se faz isso em praça pública e em grupos ligados ao pensamento cristão.
E numa Igreja sem comunhão (e, como tal, sem fiéis) de nada servirá uma Liturgia bem celebrada e uma Teologia firme (se bem que eu, na minha humilde visão de teólogo, considere que é diferente uma Teologia firme de uma Teologia fixa. Afinal, a Teologia não deixa de ser uma ciência...). Uma Igreja sem os Bispos e os padres que não nos convêm (e também há muitos que não me conviriam, pelas mais variadas razões) já não é a Igreja de Jesus Cristo e é preciso ter a noção clara disso.
Desde Jesus que a Igreja sempre foi uma comunidade de Santos e pecadores (para mim, a Igreja é mais um grupo de pecadores assumidos [como rezamos, Domingo após Domingo, no Acto Penitencial, seja em que língua for] do que de santinhos [embora nela haja Santos em todos os tempos, e graças a Deus]). Desde os Apóstolos (os primeiros Bispos) que há Santos e pecadores. Desde esse tempo que nunca foram escolhidos só os perfeitos. E desde esse tempo que é nessa comunidade que Jesus se manifesta.
Se vão descobrindo que já não é nesta comunidade religiosa que encontram Jesus e se este Papa, estes Bispos, estes padres e estes irmãos na fé já não vos servem então que criem um novo grupo religioso. Mas por favor e para o bem da Igreja, não estraguem a comunhão dos que ainda encontram Cristo aqui. Na variedade de pensamento do Magistério, no ensino dos homens pecadores que nos conduzem, na variedade litúrgica onde há muito erro e coisas quase cómicas mas onde ainda continua a surgir, Vivo, o Senhor Jesus, sempre que o sacerdote profere as palavras consecratórias, seja em que língua for.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

não presto para despedidas

Aos colegas do ex-Agrupamento de Escolas Prof. Noronha Feio

O Senhor disse a Abrão:
«Deixa a tua terra, a tua família e a casa do teu pai, e vai para a terra que Eu te indicar.» (Gn 12, 1)

não que isto seja bem uma despedida, afinal não vou morrer nem mudar para outro país nem para um sítio tão longínquo onde nunca nos voltemos a ver, mas é algo que sinto a obrigação de escrever. passei dois anos da minha vida a trabalhar nas vossas escolas, os meus dois primeiros anos de trabalho como professor. sou hoje uma pessoa profundamente grata, porque aprendi aí mais do que ensinei (quando, afinal, a missão de um professor é ensinar...). aprendi muito do que há a aprender sobre o funcionamento de uma escola (aquelas coisas de papéis e terminologias próprias e leis e coisas que nos chateiam). aprendi muito sobre muita gente e sobre as relações entre as pessoas. fiz amigos. ri, brinquei, chateei-me, às vezes, nunca me zanguei a sério, ouvi e falei - enfim, vivi, e que outra coisa se pode fazer durante dois anos?
vai custar mudar de local de trabalho, sim, vai custar, e não muito por causa das escolas em si (dos edifícios), que essas eram, cada uma das seis em que trabalhei, bem diferentes e, diga-se de passagem, nada de especial em termos arquitectónicos ou até em termos do que deve ser o espaço de uma escola como a idealizamos. vai custar mudar de lugar de trabalho por causa das pessoas. porque já tinha criado relações com pessoas. porque apesar da minha inutilidade geral, da minha timidez, da minha falta de capacidades especiais, daquelas que fazem os homens que se destacam, fiz amizades. vai-me custar mudar de local de trabalho por tua causa (de ti que estás a ler isto agora). mas a vida é peregrinação, e vou dar azo à minha condição de peregrino, enquanto vocês vão receber alguém novo, decerto melhor professor do que eu. os dois anos que aí passei foram sempre de serviço, que quem não vive para servir não serve para viver, e é em serviço que vou embora agora. com a graça do bom Deus a disciplina cresceu no agrupamento, muito à conta dos mais pequeninos, e precisa agora de alguém melhor e mais bem preparado do que eu.
obrigado por tudo. abraços aos senhores e beijinhos às senhoras. lembrem-se de mim. lembrem-se de mim quando estiverem no paraíso. ok?