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segunda-feira, 7 de junho de 2010

Breve interpelação das palavras de Bento XVI em Portugal

««Ide fazer discípulos de todas as nações, […] ensinai-lhes a cumprir tudo quanto vos mandei. E Eu estou sempre convosco, até ao fim dos tempos» (Mt 28, 20). Estas palavras de Cristo ressuscitado revestem-se de um significado particular nesta cidade de Lisboa, donde partiram em grande número gerações e gerações de cristãos – bispos, sacerdotes, consagrados e leigos, homens e mulheres, jovens e menos jovens –, obedecendo ao apelo do Senhor e armados simplesmente com esta certeza que lhes deixou: «Eu estou sempre convosco». Glorioso é o lugar conquistado por Portugal entre as nações pelo serviço prestado à dilatação da fé: nas cinco partes do mundo, há Igrejas locais que tiveram origem na missionação portuguesa. Nos tempos passados, a vossa saída em demanda de outros povos não impediu nem destruiu os vínculos com o que éreis e acreditáveis, mas, com sabedoria cristã, pudestes transplantar experiências e particularidades abrindo-vos ao contributo dos outros para serdes vós próprios, em aparente debilidade que é força. Hoje, participando na edificação da Comunidade Europeia, levai o contributo da vossa identidade cultural e religiosa»

Esta citação da homilia do Santo Padre no Terreiro do Paço (integralmente aqui) deve, sem dúvida, fazer-nos reflectir sobre várias coisas, a principal delas sobre o carácter particular do nosso país no contexto dos Descobrimentos. Ao assumir esse projecto não como algo meramente comercial mas como uma missão de evangelização, reconhecemos nos que foram evangelizados pessoas. Não é por acaso que a miscigenação é algo especificamente português (temos os casos de Cabo Verde e, mais famoso, o do Brasil, onde inclusive conseguimos incutir em outros povos (alemães, holandeses, russos, japoneses) essa mesma dinâmica).
Quando queremos mandar os emigrantes embora de Portugal, quando achamos que a selecção de futebol só devia ter portugueses "puros", esquecemo-nos do ADN da nossa nação... Portugueses "puros", com que pudéssemos fazer uma selecção "pura" é coisa que nunca será possível, pois porque somos um país de mar, e, desde há quinhentos anos, uma nação de evangelizadores e descobridores - que decidiu dar «novos mundos ao mundo» (Lusíadas, II, 45), não temos nenhum pedigree... O que Sócrates dizia («Não sou ateniense nem grego, mas sim um cidadão do mundo») podemos dizer do nosso povo, por isso há portugueses a nascer em toda a parte do globo. Por outro lado, sempre seremos país de circulação e fixação de pessoas vindas de fora (pela nossa vocação marítima), por isso muitos que nasceram noutros pontos se fixaram, fixam e fixarão em Portugal e o desejam adoptar como seu país.
O meu pedido, depois de tudo isto, é que não seja o futebol, que devia ser festa e divertimento, a estragar centenas de anos que temos como pioneiros na integração das diferentes culturas (a esse propósito cito também a entrevista do embaixador da Inglaterra em Lisboa, que podem ler, na íntegra, aqui: «Vocês têm uma grande mais-valia no mundo globalizado: a capacidade de adaptação a culturas diferentes. Uma característica que é sempre acompanhada da autocrítica. Acho isso fascinante. Façam uma lista do número de treinadores de futebol que trabalham no estrangeiro e estarão seguramente no top ten. Têm gente no Vietname, na Arábia Saudita, na Grécia. Têm uma grande aptidão para lidar com as outras culturas. No mundo globalizado isso é um grande activo»)...

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