blogue de poesia e teologia.

aqui não se escreve segundo o acordo ortográfico de mil novecentos e noventa.

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domingo, 23 de abril de 2023

bucólica

um grupo de estrangeiros
enfarda pães de queijo
numa esplanada frente à câmara municipal

ao passar por eles lembro
olhos azuis ao longe
talvez à minha espera
durante uma cerimónia de confirmação 

sexta-feira, 14 de abril de 2023

Christós anéstê

a luz com que rompes
a madrugada nova
ilumina as minhas trevas
a ponto de as visitar:
uma porta para a redenção

sepulcrum

o lugar do silêncio
estará vazio
para ser também nosso

manhã de sábado

como uma nuvem
a atravessar o sol
em silêncio
ao raiar da manhã

Golgotha

há sangue e água
a escorrer do lado de um Homem
e um silêncio sereno
a romper as trevas

Ecce Homo

um rosto ensanguentado
que nos fala
sem o incómodo das palavras

prece décima sétima

encontrei o lugar onde
construir um homem:
no chão, ajoelhado,
de olhos voltados para os outros,
como um servo.
e, lavando os pés aos homens,
comecei de novo a história

Variação em Si bemol sobre o ícone do Salvador, de Rublev

ao fixar os meus olhos nos teus
entendo melhor isso de um castigo que salva,
de um amor que vence as trevas,
as minhas trevas e a minha escuridão,
e no meu coração pequeno
nasce mais uma flor,
é um malmequer no meio da erva,
para integrar a Tua herança numerosa

amarelo torrado

there is a light that never goes out (the smiths)

encontro uma luz ao longe,
a brilhar no meio
de um silêncio que sacia

da pacem

há uma paz verdadeira
a nascer do fundo da terra
como árvore da vida
quando desces à mansão dos mortos
e pegas pela mão
o nosso homem antigo

orla marítima

quando o mar está longe
perco-me na cor azul-acizentada
dos teus olhos felizes