blogue de poesia e teologia.

aqui não se escreve segundo o acordo ortográfico de mil novecentos e noventa.

Pesquisar neste blogue

sábado, 14 de novembro de 2015

we'll always have paris

diante do terror
falará o silêncio.
nestes dias faz-nos falta
a esperança,
um olhar que veja
a possibilidade da paz.
na cidade da luz
há-de erguer-se de novo
uma luz.
vivei, povo,
é a melhor resposta possível.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Uma moeda em Sarepta

Saí à rua, naquele dia
- era o tempo da fome, ainda te lembras? -,
passeando uma moeda,
a última moeda,
por entre os dedos,
dentro do bolso direito.
Encontrei-te a meio da viagem,
quando me pediste um café.
Era o tempo da fome,
a última moeda,
eras o meu amor.
Paguei-te um café
em troca do meu amor,
dei-te tudo o que tinha.
Naquele beijo
frente à escadaria do mercado
a certeza de que iria sobreviver
(nunca to disse mas com aquela moeda
iria comprar cigarros avulso
que fumaria antes de esperar,
vagaroso, que viesse a morte).

terça-feira, 3 de novembro de 2015

finisterra

delineara um plano perfeito
para levar a cultura
aos filisteus.

o meu plano (perfeito, dizia eu)
viu-se gorado
quando o primeiro barco
saiu rumo à península
dos iberos,
esse lugar onde a terra acaba
e começa o nevoeiro.

sabedoria

it's like if you were in berlin,
ainda essa frase a vir à cabeça,
como se estivesses com ela em berlim-leste,
descobriste que ela agora vive nessa cidade,
não sabes se em berlim-leste
mas gostavas que em berlim-leste,
que berlim-oeste não casa bem com o poema
[berlim ocidental talvez],
a esta hora volta ainda a excitação
do primeiro amor,
quem ainda se lembra do seu primeiro amor
levante o braço e core,
e pensas e voltas a pensar
e o amor não se pensa
e afinal não querias nada estar com ela
num apartamento de três assoalhadas
em berlim-leste, nunca gostaste de comunistas
nem alguma vez estiveste em berlim,
dizias-me ontem que o teu encanto pela alemanha
se esgota nas torres das igrejas da baviera.
o lugar que desejas, hoje, é a outra margem,
dizias-me, do tejo ou do bósforo,
não o sabes bem.
com que companhia, creio,
também o desconheces.
sabes que com quem te lembre
o ardor bom que te despertava
a rapariga de berlim.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

a letra r

seria demasiado fácil
construir um poema
com um rapto, um repto e um réptil.
no entanto,
preocupo-me agora
com um rato que ciranda pela cozinha
e que persigo com uma vassoura na mão.
nunca aprendi com os gatos a arte da caça
e serve de pouco, nestes momentos,
o que aprendi num compêndio velho
sobre argumentos para persuadir um inimigo
a abandonar a sala.

tertia passio

não penses nos dias
em que te podes apaixonar por um país

pensa que pode haver um dia
em que um país
se apaixone por ti