blogue de poesia e teologia.

aqui não se escreve segundo o acordo ortográfico de mil novecentos e noventa.

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domingo, 29 de dezembro de 2019

Há fogo de artifício para os lados do Seixal

Há anos à procura de um lugar físico,
talvez o deserto,
talvez um oásis de águas frescas,
talvez uma morada assente na rocha,
foi depois de duas horas de conversa e risos
à beira do Tejo
que finalmente entendi
que a minha casa, vá onde for,
serão sempre os meus amigos

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

brufen quatrocentos

é mais fácil acalmar dores de cabeça
que a dor que corrói o peito
à conta da solidão criada
pelos que estão em redor
e não conseguem ver os sinais
que estão no que fica por dizer.
tempos incómodos, estes,
em que as pessoas não entendem
quando estão a falar sozinhas.

versos de natal

faltam sempre palavras
para dizer o milagre da infância
da luz pequenina ao longe
do bebé que chora
a romper o silêncio
com que se constroem as noites

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

oratio matutina

Senhora, ao altar do Teu Filho
trago as mãos sujas e vazias,
as mãos gastas e inúteis,
já sem nada a pedir.

Ponho nas tuas mãos
os segredos escondidos
dos meus amigos,
aquilo que não conseguem pedir.

Para mim já não peço nada,
quero ser a sombra de um homem,
aquele de quem todos se esquecem
menos tu e o Teu Filho a quem me vou dando.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

o auto da espera

tenho a candeia pronta
e a almotolia por perto

só falta acender a chama
para que venha a luz

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

sahara

sussurrava versos soltos
aos ouvidos da mulher
para despertar o oásis
de um sorriso

mas era tudo tão inútil
só despertava um deserto
de grandes pedras negras

manhãs chuvosas

estes dias escuros
como máquinas de fabricar distâncias,
deixam mais longe o amor
e aumentam as saudades de casa
calcadas pela chuva
e as tarefas inúteis por fazer,
trago no bolso um calendário
para me orientar nos dias que aí vêm,
uma espécie de mapa
para me perder entre papéis e lugares,
uma memória de que não é aqui
que deixei o coração,
ando ainda em busca
de onde apostar o coração

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

a queda como dom

à falta de tudo mais
passava a vida
a treinar nos outros
a arte nobre
de abraçar o abismo
em que haveria de cair

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

território neutro

não era numa casa que pensava
quando escrevia casa,
era num lugar outro, diferente,
onde guardar bens pessoais
e dormir algumas noites por semana,
na verdade bem sabia que uma casa
é de outra ordem,
o sítio onde se reclina a cabeça,
se repousa o coração,
se espera o amor que tarda sempre,
se constrói uma catedral de silêncios
e de sorrisos partilhados

amor perfeito

estas feridas
que vês nas minhas mãos
são restos do teu nome
gravados até ao fundo
em mim