blogue de poesia e teologia.

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segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Rezar Portugal em 2012

O texto que tenho rezado ao pensar em Portugal nos últimos tempos (Gn 18, 16-32):

 וַיָּקֻ֤מוּ מִשָּׁם֙ הָֽאֲנָשִׁ֔ים וַיַּשְׁקִ֖פוּ עַל־פְּנֵ֣י סְדֹ֑ם וְאַ֨בְרָהָ֔ם הֹלֵ֥ךְ עִמָּ֖ם לְשַׁלְּחָֽם׃  וַֽיהֹוָ֖ה אָמָ֑ר הַֽמְכַסֶּ֤ה אֲנִי֙ מֵֽאַבְרָהָ֔ם אֲשֶׁ֖ר אֲנִ֥י עֹשֶֽׂה׃  וְאַ֨בְרָהָ֔ם הָיֹ֧ו יִֽהְיֶ֛ה לְגֹ֥וי גָּדֹ֖ול וְעָצ֑וּם וְנִ֨בְרְכוּ בֹ֔ו כֹּ֖ל גֹּויֵ֥י הָאָֽרֶץ׃  כִּ֣י יְדַעְתִּ֗יו לְמַעַן֩ אֲשֶׁ֨ר יְצַוֶּ֜ה אֶת־בָּנָ֤יו וְאֶת־בֵּיתֹו֙ אַחֲרָ֔יו וְשָֽׁמְרוּ֙ דֶּ֣רֶךְ יְהוָ֔ה לַעֲשֹׂ֥ות צְדָקָ֖ה וּמִשְׁפָּ֑ט לְמַ֗עַן הָבִ֤יא יְהוָה֙ עַל־אַבְרָהָ֔ם אֵ֥ת אֲשֶׁר־דִּבֶּ֖ר עָלָֽיו׃  וַיֹּ֣אמֶר יְהוָ֔ה זַעֲקַ֛ת סְדֹ֥ם וַעֲמֹרָ֖ה כִּי־רָ֑בָּה וְחַ֨טָּאתָ֔ם כִּ֥י כָבְדָ֖ה מְאֹֽד׃  אֵֽרֲדָה־נָּ֣א וְאֶרְאֶ֔ה הַכְּצַעֲקָתָ֛הּ הַבָּ֥אָה אֵלַ֖י עָשׂ֣וּ׀ כָּלָ֑ה וְאִם־לֹ֖א אֵדָֽעָה׃  וַיִּפְנ֤וּ מִשָּׁם֙ הָֽאֲנָשִׁ֔ים וַיֵּלְכ֖וּ סְדֹ֑מָה וְאַ֨בְרָהָ֔ם עֹודֶ֥נּוּ עֹמֵ֖ד לִפְנֵ֥י יְהוָֽה׃  וַיִּגַּ֥שׁ אַבְרָהָ֖ם וַיֹּאמַ֑ר הַאַ֣ף תִּסְפֶּ֔ה צַדִּ֖יק עִם־רָשָֽׁע׃  אוּלַ֥י יֵ֛שׁ חֲמִשִּׁ֥ים צַדִּיקִ֖ם בְּתֹ֣וךְ הָעִ֑יר הַאַ֤ף תִּסְפֶּה֙ וְלֹא־תִשָּׂ֣א לַמָּקֹ֔ום לְמַ֛עַן חֲמִשִּׁ֥ים הַצַּדִּיקִ֖ם אֲשֶׁ֥ר בְּקִרְבָּֽהּ׃  חָלִ֨לָה לְּךָ֜ מֵעֲשֹׂ֣ת׀ כַּדָּבָ֣ר הַזֶּ֗ה לְהָמִ֤ית צַדִּיק֙ עִם־רָשָׁ֔ע וְהָיָ֥ה כַצַּדִּ֖יק כָּרָשָׁ֑ע חָלִ֣לָה לָּ֔ךְ הֲשֹׁפֵט֙ כָּל־הָאָ֔רֶץ לֹ֥א יַעֲשֶׂ֖ה מִשְׁפָּֽט׃  וַיֹּ֣אמֶר יְהוָ֔ה אִם־אֶמְצָ֥א בִסְדֹ֛ם חֲמִשִּׁ֥ים צַדִּיקִ֖ם בְּתֹ֣וךְ הָעִ֑יר וְנָשָׂ֥אתִי לְכָל־הַמָּקֹ֖ום בַּעֲבוּרָֽם׃  וַיַּ֥עַן אַבְרָהָ֖ם וַיֹּאמַ֑ר הִנֵּה־נָ֤א הֹואַ֨לְתִּי֙ לְדַבֵּ֣ר אֶל־אֲדֹנָ֔י וְאָנֹכִ֖י עָפָ֥ר וָאֵֽפֶר׃  א֠וּלַי יַחְסְר֞וּן חֲמִשִּׁ֤ים הַצַּדִּיקִם֙ חֲמִשָּׁ֔ה הֲתַשְׁחִ֥ית בַּחֲמִשָּׁ֖ה אֶת־כָּל־הָעִ֑יר וַיֹּ֨אמֶר֙ לֹ֣א אַשְׁחִ֔ית אִם־אֶמְצָ֣א שָׁ֔ם אַרְבָּעִ֖ים וַחֲמִשָּֽׁה׃  וַיֹּ֨סֶף עֹ֜וד לְדַבֵּ֤ר אֵלָיו֙ וַיֹּאמַ֔ר אוּלַ֛י יִמָּצְא֥וּן שָׁ֖ם אַרְבָּעִ֑ים וַיֹּ֨אמֶר֙ לֹ֣א אֶֽעֱשֶׂ֔ה בַּעֲב֖וּר הָאַרְבָּעִֽים׃  וַ֠יֹּאמֶר אַל־נָ֞א יִ֤חַר לַֽאדֹנָי֙ וַאֲדַבֵּ֔רָה אוּלַ֛י יִמָּצְא֥וּן שָׁ֖ם שְׁלֹשִׁ֑ים וַיֹּ֨אמֶר֙ לֹ֣א אֶֽעֱשֶׂ֔ה אִם־אֶמְצָ֥א שָׁ֖ם שְׁלֹשִֽׁים׃  וַיֹּ֗אמֶר הִנֵּֽה־נָ֤א הֹואַ֨לְתִּי֙ לְדַבֵּ֣ר אֶל־אֲדֹנָ֔י אוּלַ֛י יִמָּצְא֥וּן שָׁ֖ם עֶשְׂרִ֑ים וַיֹּ֨אמֶר֙ לֹ֣א אַשְׁחִ֔ית בַּעֲב֖וּר הָֽעֶשְׂרִֽים׃  וַ֠יֹּאמֶר אַל־נָ֞א יִ֤חַר לַֽאדֹנָי֙ וַאֲדַבְּרָ֣ה אַךְ־הַפַּ֔עַם אוּלַ֛י יִמָּצְא֥וּן שָׁ֖ם עֲשָׂרָ֑ה וַיֹּ֨אמֶר֙ לֹ֣א אַשְׁחִ֔ית בַּעֲב֖וּר הָעֲשָׂרָֽה׃

16Os homens levantaram-se e partiram em direcção de Sodoma, e Abraão acompanhou-os para deles se despedir. 17O SENHOR disse, então: «Ocultarei a Abraão o que vou fazer? 18Ele deve tornar-se uma nação grande e poderosa e Eu abençoarei nele todos os povos da Terra. 19Escolhi-o, de facto, para que dê ordens a seus filhos e à sua casa depois dele, no sentido de seguirem os caminhos do SENHOR, praticando a justiça e a rectidão, a fim de que o SENHOR cumpra a favor de Abraão as promessas que lhe fez.»
20O SENHOR acrescentou: «O clamor de Sodoma e Gomorra é imenso e o seu pecado agrava-se extremamente. 21Vou descer a fim de ver se, na realidade, a conduta deles corresponde ao brado que chegou até mim. E se não for assim, sabê-lo-ei.» 22Os homens partiram dali, e encaminharam--se para Sodoma. Abraão, porém, continuava ainda na presença do SENHOR. 23Abraão aproximou-se e disse: «E será que vais exterminar, ao mesmo tempo, o justo com o culpado? 24Talvez haja cinquenta justos na cidade; matá-los-ás a todos? Não perdoarás à cidade, por causa dos cinquenta justos que nela podem existir? 25Longe de ti proceder assim e matar o justo com o culpado, tratando-os da mesma maneira! Longe de ti! O juiz de toda a Terra não fará justiça?»
26O SENHOR disse: «Se encontrar em Sodoma cinquenta justos perdoarei a toda a cidade, por causa deles.» 27Abraão prosseguiu: «Pois que me atrevi a falar ao meu Senhor, eu que sou apenas cinza e pó, continuarei. 28Se, por acaso, para cinquenta justos faltarem cinco, destruirás todaa cidade, por causa desses cinco homens?» O SENHOR respondeu: «Não a destruirei, se lá encontrar quarenta e cinco justos.» 29Abraão insistiu ainda e disse: «Talvez não se encontrem nela mais de quarenta.» O SENHOR disse: «Não destruirei a cidade, em atenção a esses quarenta.» 30Abraão voltou a dizer: «Que o Senhor não se irrite, por eu continuar a insistir. Talvez lá se encontrem trinta justos.» O SENHOR respondeu: «Se lá encontrar trinta justos, não o farei.» 31Abraão prosseguiu: «Perdoa, meu Senhor, a ousadia que tenho de te falar. Talvez não se encontrem lá mais de vinte justos.» O SENHOR disse: «Em atenção a esses vinte justos, não a destruirei.» 32Abraão insistiu novamente: «Que o meu Senhor não se irrite; não falarei, porém, mais do que esta vez. Talvez lá não se encontrem senão dez.» E Deus respondeu: «Em atenção a esses dez justos, não a destruirei.» 

Sûr la folie

Quando deres um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos.
 E serás feliz por eles não terem com que te retribuir; ser-te-á retribuído na ressurreição dos justos
(Lc 14, 13)


No banco de trás do automóvel, a louca acenava às pessoas que viajavam, serenas, no autocarro. Ria-se e dizia adeus. Tinha de ser rápida, para os pais no banco da frente não perceberem que era louca. Tens de ser bonita, filha, e comportares-te segundo as normas da sociedade. És muito bonita e já não és nenhuma criança para te pores com essas coisas. Mas a louca, uns metros à frente, voltava a rir-se, bonita do alto dos seus cerca de vinte anos, e a dizer adeus. Rápido, antes que os pais vissem. Não nos envergonhes! A louca, ainda que contida pela pressão social, alegrou o meu início de dia, eu que era um dos que ia no autocarro e dei por mim a sorrir de volta (não resisto a mulheres bonitas) e a dizer adeus. Dei por mim também louco e a pensar em Paulo de Tarso. Por causa de Cristo somos idiotas (1 Cor 4, 10), Fiz-me fraco com os fracos (1 Cor 9, 22). O Reino dos Céus é para os loucos. Há um Deus para os loucos e há um Deus para mim. E há um banquete para todos nós, lá onde já não se abrem blocos de reportagem com notícias sobre impostos.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

o mestre corrompido

os teus alunos não podem saber que vais para casa e vês a telenovela todos os dias. os teus alunos não podem saber que gostas da casa dos segredos e que até já votaste naquele da bobadela para ver se ele não saía. os teus alunos não podem saber que não sabes o que é a naifa, que pensas que é um conjunto de baile, não podem saber que para ti dead combo é uma banda de metal da suécia. os teus alunos não podem saber que tu achas que a paula rego da fundação que o estado quis fechar é a ex-ministra da economia do governo do guterres. não podem saber que não fazes ideia de quem é job nem jacob nem paulo de tarso. os teus alunos não podem saber que julgas que a bíblia foi escrita de uma assentada, por um homem sozinho. não podem saber que nunca ouviste falar do valter hugo mãe nem do gonçalo m. tavares nem do lobo antunes (que achas que foi embaixador em berlim) e que pensas que josé saramago era um ceramista dos lados de mafra, primo do josé franco (de quem só sabes o nome por causa do pão com chouriço do sobreiro e das visitas dominicais à ericeira para ver o mar). os teus alunos não podem saber nada disto. nada. nadinha. porque nesse momento iam descobrir que é em ti que o mundo começa a ruir. que é em ti que começa a crise de valores que procuras fora de ti. porque a beleza é um valor. sem beleza, não há bondade. sem beleza, não há verdade. sem beleza, sem bondade e sem verdade só há números. economia. finanças. sem beleza, sem bondade, sem verdade não há pessoas. se não tens beleza para ensinar, então não tens nada para dar. então só tens para dar a crise de valores. a economia. as finanças. zeros e uns, zeros e mil, zeros e zeros. nada. não deixes o mundo ruir a partir de ti. cai de joelhos e contempla o mundo (lembra-te de teilhard de chardin e da sua missa sobre o mundo).

bons e bonitos

todos os mortos foram bons
todos os bebés são bonitos

ou então
não sabemos lidar com os extremos da vida

O peregrino

Caminante, son tus huellas
el camino, y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
Al andar se hace camino,
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.
Caminante, no hay camino,
sino estelas en la mar.

Antonio Machado

aceita o desafio e vai
por onde te mandam

o que importa não é a viagem
mas o começo

confia

serve

vai

não estás só