blogue de poesia e teologia.

aqui não se escreve segundo o acordo ortográfico de mil novecentos e noventa.

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quinta-feira, 27 de junho de 2019

quarta-feira, 19 de junho de 2019

chove e choras

queria ser em ti o verão
e o sol radioso que ilumina o fim das tardes
e faz sorrir todos os dias

mas tu ainda a estação das chuvas
o tempo de chorar
e sarar as feridas

nardo

tenho uma flor de cerejeira
a latejar no peito
e a dor de não saber
os nomes das plantas

terça-feira, 18 de junho de 2019

a minha vida amorosa é desinteressante para o nosso jantar

estava demasiado cansado
para ver filmes sobre poesia,
tinha de pôr a mão esquerda
sobre a cabeça para conseguir
ver um filme sobre poesia
em que a rapariga se chamava laura,
penso que o primeiro amor do poeta
que protagonizava o filme,
chamava-se sofia, o meu primeiro amor,
gostava dela nas tardes
sentado no pátio da escola
e ficava só a olhar porque
sempre demasiado fechado para
«amo-te tanto gosto tanto de ti
não sei se já te disseram que és linda»,
há uns dias a sofia na fila das compras
com o marido e uma velha
que penso ser a mãe,
já a não interessar se sou tímido
porque já perdi, perco sempre,
o coração ainda a bater estranho
e os olhos e as mãos a distrair-se numa imitação
de mentos e noutra de tic tac
e o coração não «tic tac» como um relógio,
a bater devagar como um bombo cansado
porque hoje já não sofia,
já não ninguém tantas vezes,
já não saber se vai amar ainda alguém,
se sabe amar ainda alguém,
se algum dia a timidez será rompida
como um tímpano depois do fogo de artifício num feriado
e o «gosto muito de ti»
finalmente «amo-te há muitos anos»,
libertado como o grito das corujas ou
o abrir milagroso dos crisântemos no jardim

nocturnos para guitarra e voz

um grito no meio da noite:
por baixo da alegria aparente
muito cansaço de estar para aqui
a fingir que isto não é solidão
que não há um vazio a angustiar
que não há um poema por escrever
sobre amores impossíveis
vidas impossíveis
caminhos impossíveis
sobre uma beleza que está por ver

segunda-feira, 17 de junho de 2019

salvatio

olhei fixamente os teus olhos
durante duas horas
como se aí aprendesse
a salvar uma vida

aprendi, só, que preciso de olhar mais
e muito mais fundo

sábado, 1 de junho de 2019

as maçãs de eva

enquanto brincava no chão da sala
a avó descascava maçãs
e guardava as cascas no regaço:
um outro nome para o amor,
uma forma de redimir
o gesto da primeira eva