blogue de poesia e teologia.

aqui não se escreve segundo o acordo ortográfico de mil novecentos e noventa.

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quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

capitanear

no intervalo grande da manhã,
como em todos os bocados livres,
fazíamos balizas com pedras da calçada
junto à árvore grande ao lado do muro da escola,
nunca soube o nome da árvore grande
junto ao muro da escola,
ou entre o poço e o pinheiro manso
que podíamos ver da janela da nossa sala
e éramos, por minutos, pelés, eusébios
e maradonas a fintar o mundo.
cada jogo valia a vida toda
e levávamos de casa faixas de pano cru
em que desenhávamos os emblemas dos nossos clubes,
águias, leões, dragões, o atleta do gaeirense,
e o capitão usava sempre orgulhoso
a sua braçadeira de pano cru
com o símbolo esborratado,
não tinham grande qualidade os nossos marcadores molin.
sempre gostei do segundo lugar
e ajudava o capitão a pôr a braçadeira,
não demasiado solta que caísse,
não demasiado apertada que magoasse,
os anos passaram e o capitão de equipa
já não está, não vai estar mais,
para pôr no braço esquerdo o emblema do benfica.
seria agora a minha vez de ajustar a braçadeira
bem perto do coração
e não consigo, falta-me o jeito
para capitanear a equipa durante mais um jogo,
para capitanear a minha vida,
fazem tanta falta os amigos
que a usaram antes, em tantos intervalos das aulas,
e já não estão, jogam agora num outro campo mais longe,
espero, com balizas e relva a sério

terça-feira, 13 de outubro de 2020

calígula teve de ser morto

antes que a morte me venha buscar,
o projecto de uma vida:
ser, para alguém,
talvez candeia ao meio-dia
talvez o voo das corujas na noite
talvez a angústia da solidão
talvez uma alegria contida
de quem espera o fim inevitável

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

tudo o que os tindersticks me ensinaram sobre o amor

dizer não aos delírios fugazes
com a mesma intensidade
que pões em cada dança
em que te abraças forte
à pessoa amada
como se para sempre
fosse exactamente nesse lugar

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

o amor é bandeira de paz

o cantor era levado em ombros
por entre a multidão que enchia o circo voador,
como sempre eu reservava um lugar
encostado à parede do fundo
para chorar por ti
e lembrar aquela tarde, nós, no SESC Pompeia,
já nem me lembro qual era a banda,
passámos a noite de mãos dadas
e a tua cabeça descansava no meu peito,
às vezes ainda toco no meu peito
para que doa mais a tua ausência,
às vezes assisto a vídeos de covers em casas de banho
porque o eco das casas de banho ajuda ao som
e porque detestavas covers em casas de banho
e imaginar o teu ódio é estranhamente bom,
choro ao fundo da sala porque já nem me lembro
por que razão partiste, na verdade não chegaste bem a partir,
o mais estranho é isso, as pessoas agora não se despedem,
não «adeus», não «até logo», não «até ao próximo concerto desta banda na cidade tal»
só um «obrigada e beijinhos» e nunca mais uma palavra,
já lá vão cinco meses que aqui fui deixado 
ao fundo da vida sem saber se espere por ti

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

reino animal

passava o dia com uma sensação estranha
o fundo da garganta a saber a sangue e fel
e muito medo de adormecer à noite
porque ontem ela das minhas obsessões
durante um sonho de que estranhamente me lembro
apresentava-me sucessivos namorados
e eu não queria conhecer nenhum deles,
uma noite sonhei que a esperava numa igreja
com uma escadaria grande em frente,
antes do casamento tinha saído de carro à pressa
para ir a casa buscar alguém que ficou esquecido
e uns sapatos de pele castanha 
que tinha estado meticulosamente a engraxar,
chorava a cerimónia toda porque era tudo demasiado perfeito
como é sempre nos sonhos
e acabavámos o dia a sujar o vestido branco
e a farpela que eu levava
a contemplar um pôr do sol à beira-mar
que lhe ofereci porque a conheço tão bem,
de manhã acordava e tudo realmente só um sonho,
nunca casamento nenhum,
já nem um «bom dia», um «como estás?»,
já nem eu um «tenho saudades tuas, espero que estejas bem e feliz»
porque o sangue e o fel no fundo da boca
se vão tornando estranhamente confortáveis
e vamos aceitando que a vida é isto,
uma sucessão de fracassos,
passeios solitários de cabeça baixa ao pé do mar
que ela adora e por isso não há coragem de andar erguido ali,
a memória de outros sabores ao fundo da boca
que não estes, talvez o cheiro dela
e de outras mil obsessões

sábado, 18 de julho de 2020

terça-feira, 7 de julho de 2020

Les Paul

Chega uma altura da vida
em que é essencial ter uma guitarra
porque a poesia é punk rock,
os dedos em sangue e o coração em chamas
a sair em golfadas pela boca,
mesmo quando queremos apresentar
a magnólia no centro do claustro
ou os lírios do campo a crescer livres
e as pessoas se lembram de Bach,
Mozart e Wagner, nunca das guitarras de Morricone
ou da orquestra possível de Messiaen

quinta-feira, 25 de junho de 2020

epitáfio

um mês exacto depois dos últimos escritos
o que se passa é isto,
despertar com uma coruja dentro do quarto
a voar contra a janela, a perder força contra o vidro,
ouvir 'ainda é cedo' em loop pela tarde
porque no fundo da cabeça sempre aquela menina,
ela, ela, ela, e é cedo para tanta coisa,
entardecer com um medo estranho de corujas,
uma vida de episódios assustadores que envolvem corujas,
assistir a um documentário sobre o rock de brasília
para conseguir adormecer e não conseguir adormecer,
dormir finalmente ao som do vento que faz sempre aqui
e me lembra que estou tão longe, na aldeia, e tão só
porque ela, ela, ela, a menina
já só está mesmo no fundo da minha cabeça

segunda-feira, 27 de abril de 2020

la fin du temps

no mundo em ruínas
soa ainda um órgão
na catedral vazia
da cidade grande

é uma melodia dissonante
a querer ser o cantar
dos pássaros nos bosques
e o nome do Deus escondido

é um último canto
sobre a beleza de tudo isto
e sobre a salvação
que buscamos entre os escombros

sexta-feira, 24 de abril de 2020

folhas de amoreira

a primavera traz as flores
e os pólenes e as abelhas
e aquela espécie de algodão
que cai das amoreiras
e provoca alergias,
a primavera traz muitas alergias
e pessoas com lenços na boca
para conter os espirros,
a primavera traz o brilho dos teus olhos
e um vento lindo que te penteia os cabelos,
a primavera traz a promessa de abraços
para um dia em redor da mesa
e dos beijos não dados
que nos cabe cumprir

segunda-feira, 6 de abril de 2020

clausura

do lado de lá da janela
a chuva cai como bênção
para nos avisar da beleza
de estar em casa
e da companhia maravihosa
dos livros
e do tanto que temos para escrever ainda
sobre a vida que vem aí
se lhe abrirmos o coração

terça-feira, 24 de março de 2020

«no princípio era a ilha»

nestes dias de estar sentado à secretária
que deve ser, como dizia o poeta,
o altar quotidiano de um estudante,
é o tempo de amar as flores de plástico
que há no corredor da mansarda,
um amanhã voltaremos a contemplar, juntos,
os lírios dos campos e a sombra dos salgueiros
que arrefecem as margens do grande rio

sábado, 21 de março de 2020

estar em casa

já ouvi toda a colecção de discos
que fui acumulando ao longo da vida,
estou a ler três livros ao mesmo tempo,
vou pensando em alguns projectos
que não conto concretizar nesta vida,
tenho dormido bastante,
demasiado, talvez,
passo meia hora por dia a olhar a serra
e cinco minutos a dizer adeus aos velhos
que passam de enxada ao ombro
a caminho das fazendas,
ainda perco duas horas por dia
a pensar no amor, nos vários amores que se criam
e que deixam saudades regadas com lágrimas
e angústia de não saber se isto acabará

terça-feira, 10 de março de 2020

sexta-feira, 6 de março de 2020

quatuor por la fin du temps

em tempos de pânico
e do medo que se instala
nas decisões dos povos
não há como não lembrar
o idiota de dostoiésvki
que nos dizia que a beleza salvará o mundo
mesmo quando o belo nasce 
num campo de morte

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

são joão da ribeira, mil novecentos e trinta e três

regras básicas para perpetuar um poeta:
ouvir o último disco do manuel fúria
com headphones e repetir dez vezes
aqueles versos sobre a saudade plena da alegria;
ler aquele grande rio eufrates de uma assentada
frente ao tejo numa tarde de sol;
recordar o toque do sino da aldeia
e as brincadeiras frente à torre mourisca,
mesmo sem ter vivido essas experiências;
chamar uma mulher para dançar comigo
e para se sentar aqui mesmo, à beira do poema,
conter o medo de que a mulher não venha
e me deixe a experimentar a solidão dos vencidos;
passear com a família na feira de rio maior,
comparar os preços das cebolas
e parar frente ao pavilhão grande
a ler os versos que lhe ocupam a escadaria
pensando na sorte de nascer depois da guerra;
fazer de cada palavra uma espada afiada
para o combate entre os militantes da beleza
e os que a querem destruir.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

os quarenta dias

não é possível chegar ao oásis
que o centro do deserto esconde
sem a coragem de caminhar
despojado de todos os atavios
de que nos munimos
para fugir da sede, do desconforto
e da dor que é sentir

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

amores imperfeitos

somos humanos, vulneráveis,
incapazes sempre do dom imenso
do amor, inúteis para o dizer tal como é,
e caminhamos como cegos pela vida
encontrando uma vezes e fugindo tantas outras
do perdão, que talvez seja o acto humano,
vulnerável, que mais nos aproxima do amor
tal como é em estado puro

tenho sempre tanto perdão a pedir a tanta gente
e cada vez menos a dizer do amor,
senti-lo, certos dias sentir a sua ausência,
já é trabalho para uma vida inteira

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

secretaria de estado dos pássaros

nem os pássaros se adaptam
aos aeroportos que invadem
os seus habitats
nem nós nos adaptamos
às dores lancinantes do mundo

era óptimo, para os políticos
e para os pobres homens sofredores,
que ambos se adaptassem por decreto

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

sobre o desamor popular (aforismo)

Tudo o que há a dizer sobre o desamor
e o desencanto que sofremos
está nas canções do Luís Filipe Reis
e talvez também nos seus cabelos

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

lindos versos de amor

como ondas a magoar as rochas,
como um lírio a despontar no deserto,
como o silêncio do mosteiro,
como a nuvem conduzida pelo vento,
como a viagem de carro de regresso a casa,
como rodar a chave ao entrar na casa,
como o salto do cão para o colo do dono
assim é um coração deixado à distância
como estes versos que não são de amor
mas que no fundo o são sempre

um fogo interior

aperto a pedra contra as mãos
esperando que ela se transforme em fogo
e eu definitivamente em pedra

sábado, 15 de fevereiro de 2020

ponto morto

Para o João Paulo

a lembrança dos amigos
vem nos momentos mais fúteis:
numa descida em ponto morto
rumo ao nevoeiro que habita em mim

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

'sometimes it hurts', tindersticks

fugimos do amor
da palavra amor
e atribuímos-lhe sentidos pervertidos,
os gregos não, os gregos diziam
eros, filia e agapé,
porque o amor dói
como a solidão dos vencidos
e rejeitamos as dores do mundo,
vivemos de risos fingidos
como de comprimidos de iboprufeno
guardados no bolso esquerdo para um sos,
e os sorrisos ainda assim tão lindos,
essa ficção ainda assim tão bela,
ainda assim uma coragem inevitável
de não morrer, mas viver de amor,
a filia que é mais fácil e aconchega como abraços muitos,
o agapé de que somos tantas vezes incapazes,
e o eros de que andamos a fugir, mas nos prende,
como a rosa do pequeno príncipe

thanátos

aceitar a vulnerabilidade da vida
um desafio tão grande
quanto para a cerejeira
acolher a beleza das suas flores frágeis

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

o ludo

em vez de absesso
dizer obsesso

uma obsessão

bocas

caminho rebuscado
o de transformar um texto sobre solidão
ausência sentimento de inutilidade partida
numa coisa sobre amor
e em seguida transformar o amor
numa parvoíce qualquer epidérmica
própria dos garotos de doze anos
como se tudo se esgotasse em elogios inócuos
e nos estivéssemos a proteger do amor puro
um amor tão puro em que não havemos de tocar
e a ferrugem estragará tanto quanto estragaria o uso

com isto cheguei a duas conclusões:
do amor quero sempre outra coisa que isso
e não se ama quem não consegue ler duas linhas

regresso agora à minha solidão
esse lugar de onde vai sendo preciso
pedir a pessoas que vão embora
porque aqui dói muitas vezes

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

vibrafone

antes que tocasse o despertador
já tinha na cabeça o som de uma orquestra inteira
que toca as canções de amor
que me invadem quando penso em ti

e levantei-me disposto a viver de amor
um exercício mais difícil
que o de morrer

sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

a flor no centro do claustro

Para a Luísa

como a magnólia a vicejar
no silêncio do claustro do mosteiro

a nossa vida floresce
quando testada como prata no crisol

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

caixa de sapatos

guardo todas as palavras
numa caixa velha que tenho no sótão
para onde vão os poemas impublicáveis
que são tantos

remeto-me agora ao silêncio
de que nunca devia ter saído
e vou morrendo mais um bocadinho

dos vãos projectos

espero a vida numa esquina
de pé e mãos nos bolsos
a mão esquerda no bolso
à procura de não sabe o quê
uma esferográfica uma lapiseira um terço
a mãe direita a segurar um cigarro
como um velho sentado num banco de jardim
aguarda o fim da chuva e o fim dos tempos

a vida uma nuvem branca que passa
a romper o céu limpo
sempre mais além
sempre longe demais

nada a declarar

no lugar do coração uma pedra
no lugar dos sentimentos um vazio
no lugar do amor outra palavra qualquer
talvez o silêncio talvez solidão talvez a inutilidade
no lugar de um homem eu
a ocupar espaço e alimento
aos que merecem cá estar

um dia
no lugar do poema poremos rosas
no lugar do amor poremos isso tudo
que temos andado a adiar

calhaus

a árvore que desponta livre
e destrói a calçada do parque
é por vezes a mais linda

o que fazer com essa beleza?

as nuvens a engolir as casas

pedia o dom de um nevoeiro
que me engolisse o corpo e a alma
como as nuvens às vezes escondem as casas
nestes dias de invernia
porque sou tantas vezes o pior dos homens
a usar com muita perfeição
as ferramentas de magoar e afastar as pessoas
e a encolher os ombros
porque a vida é mesmo assim
e nos exige calendários difíceis
porque a solidão é só uma condição que faz parte
porque a melancolia e o cansaço
até dão jeito aos poemas
na verdade ninguém gosta de histórias felizes
vamos fingindo gostar das crianças e das flores
porque isso nos distrai de ninguém na sala
a quem contar o dia e dar a mão
ninguém à espera à porta para ir connosco
conhecer outro lugar
nenhuma nuvem para nos engolir
e dizer que desaparecer é mais fácil
calar sempre mais fácil
o drama sempre mais fácil
que o esforço de admitir a derrota
e buscar caminhos novos

sábado, 25 de janeiro de 2020

aforismo

em tempo de tantas opiniões
e verdades absolutas
partilhadas sem direito de resposta
sou o lugar da dúvida
uma casa em que não se sabe ainda
o caminho certo para o lugar do repouso

a única certeza é a necessidade de caminhar

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

liber é também livro

só somos verdadeiramente livres
quando escolhemos a quem nos prender

era isto que nos ensinavam os livros antigos
a que já não ligamos coisa alguma
e deixamos na estante da biblioteca
do primeiro andar da casa velha
a ganhar pó entre as folhas

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

como um rio a dividir

olho o rio e os barcos parados
a agitar com o vento
e as ondas pequenas que se levantam
e quase esqueço as casas ao longe
lá do outro lado do rio e das três pontes
e as vidas que acontecem nas casas
vidas que vistas daqui
pareceriam demasiado lentas

para dizer o lume

às vezes vem-me à memória
um livro que ardeu num incêndio
sinto falta desse livro
como dos amigos que tenho
sempre tão mais ao longe

tenho tantas vezes os meus livros
como os meus únicos amigos
e nem esses protejo do lume

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

o novo mundo fica para depois

somos uma coisa sempre adiada,
as perguntas cada vez mais
que as tantas certezas
de que os outros se enchem
e os esvaziam de escutar
e dos diálogos fraternos,
aqueles em que olhávamos o outro como igual
e lhe podíamos chamar companheiro
porque partilhávamos com ele o pão
e as preocupações com o futuro,
agora só apetece o silêncio,
uma ausência total de tudo
que nos lembre que no meio de tanta gente,
como diz o clichê e as canções,
na verdade estamos sós
e tantas vezes dói muito

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

o vento a cortar as pernas

temos medo do mundo
como os poetas da folha em branco
e perdemo-nos nas pequenas consolações
o sol o céu aberto azul
o sorriso da mulher que passa junto ao rio
as canções que trauteamos sozinhos
e quase nos fazem esquecer
deste vento frio que corta até aos ossos
para lembrar esse medo de viver
e de enfrentar as páginas imaculadas
que mais valia deixássemos assim

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

sol em tons de rosa

andamos para aqui
batidos pelos ponteiros do relógio
a perseguir umas migalhas para sobreviver
a consultar uma agenda electrónica
em que apontamos os encontros sempre adiados
os livros que ficam por ler
e a felicidade que passa mais ao largo

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

para dizer um outro nome

há uma luta a fazer ainda
contra as sombras que nos impomos,
uma batalha dolorosa contra nós,
um riso estridente contra a dor que teima,
um abraço dado contra a solidão e o medo,
uma luz contra as trevas que habitam
o fundo da cabeça e das ideias,
uma companhia aceite contra o desejo
absurdo da solidão que atrai e esmaga