blogue de poesia e teologia.

aqui não se escreve segundo o acordo ortográfico de mil novecentos e noventa.

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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

O Ano é Novo

Mas nós não. De qualquer modo, que o novo ano seja para todos ocasião de muita coisa. Muitos livros, muitos discos, muitos filmes, muitos poemas e, sobretudo, muitas orações. Um Santo Ano Novo!

domingo, 26 de dezembro de 2010

Tempore Natalis



Contempla por entre os aloés e os dedos
A criança que acampa connosco agora
O menino que abre uma estrela e nos convoca
Ele contempla. Ele vem. Ele é um cedro que transborda


Daniel Faria in Do Livro dos Números

A todos um Santo e Feliz Natal! Que o Menino Jesus venha aos nossos corações!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Quase, quase, quase

(e eu finalmente de férias!)

O Natal é porque Deus quer.

NB: Não, o Natal não é quando o homem quiser. Os valores atribuídos ao Natal (solidariedade, partilha, reunião familiar) é que não são exclusivos desta época, mas a culpa disso não é do Natal...

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Santa Claus is coming to town

O Natal está chegar. Lembro-o por duas razões: para alertar os mais incautos de que ele ainda não chegou e para sugerir que acompanhem as últimas entradas de theo-odisseia, precisamente sobre as Antífonas do Ó, que preparam o mistério da Encarnação. Vale a pena ouvir o canto gregoriano e ler o que lá escreve o Luís.

Aviso os supersticiosos que, por este ser um blog de inspiração cristã, só durante o Tempo do Natal haverá desejos de todas as formas e feitios para toda a gente. Afinal, se dar os parabéns antes do dia dá azar, coitadinho do Menino Jesus! Não lhe bastasse já andar ao frio há um mês, quando faz anos só daqui a três dias! E ainda se não celebrássemos o aniversário dele durante mais de quinze dias...

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

sábado, 18 de dezembro de 2010

Prendas de Natal

O blogue sugere (porque o autor já tem!):


Evangelho Segundo São Mateus, de Pier Paolo Pasolini


Jesus de Nazaré, de Joseph Ratzinger/Bento XVI


O grande silêncio, de Philip Gröning


Te Deum, de Arvo Pärt


A noite abre meus olhos, de José Tolentino Mendonça



O Idiota, de Fiódor Dostoievski

Autobiografia (viii)

O silêncio.

Autobiografia (vii)

Não tenho aqui morada permanente
e corro, corro, corro,
sem destino...

o homem não é mais
que um peregrino sobre a Terra

a sua morada é o Céu

Autobiografia (vi)

Conheci um homem
que morreu para o mundo
para viver a sós com Deus

é o homem mais feliz
que jamais conheci

nunca esquecerei a sua alegria
e o seu sorriso

O morto é o mais feliz da terra dos vivos!

Para o pe. Luís, que nunca irá ler isto

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Autobiografia (v)

Ele sabe
que a sua espécie
está em vias de extinção

por isso se disponibiliza
a toda a gente, todos os dias
por todos espera, de coração aberto,
na sua jaula,
lá, no seu zoológico
- que são as conversas, as palavras,
diz ela, «as explicações»

e não lhe sai da cabeça
aquela frase de Michel de Certeau:
«
Dans sa misère, la théologie regarde vers la porte»

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Autobiografia (iv)

o rapaz sabe
que o que vem de dentro do homem
é que é impuro

mas também sabe
que é do mais íntimo do seu íntimo
que se começa o longo caminho
para Deus

Autobiografia (iii)

o rapaz só gosta de mulheres
e nunca, mas nunca
se desenrasca a manobrar em marcha-atrás

Autobiografia (ii)

um homem decidiu seguir Jesus
e estremeceu por dentro
chorou
então, descalçou-se
e começou, pé ante pé,
a subir os degraus
que conduzem à Cruz

Autobiografia (i)

batem palmas
um homem fá-lo sempre em contratempo
esse homem sou eu

Autobiografia poética

Hoje, na carreira 13 da vimeca que parte de Queijas às 19 horas, decidi fazer uma autobiografia poética. Será essa autobiografia a ocupar as próximas entradas do blog.

domingo, 12 de dezembro de 2010

De volta!

Depois de um período de inactividade, provocada por problemas informáticos que me são alheios, volto à actividade aqui no blog. De todo o modo, não será grande actividade, nos próximos tempos, visto que ando atarefado com a tese e com as aulas (que recebo e que dou).
Porque este é um blog que trata de palavras e da Palavra, aproveito para partilhar mais um poema de Daniel Faria (outro excerto de um poema dele será, também, a minha mensagem de Natal para os meus amigos, mas até ao Natal ainda temos tempo, ainda que muitos já encham as suas janelas e varandas de Meninos Jesus, como se a melhor maneira de combater a paganização do Natal fosse antecipar o nascimento de Jesus mais de um mês... Mas sobre isto talvez fale num texto especialmente dedicado ao tema).


EXPLICAÇÃO DO POETA

Pousa devagar a enxada sobre o ombro
Já cavou muito silêncio

Como punhal brilha em suas costas
A lâmina contra o cansaço

Daniel Faria in Últimas explicações

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Daniel Faria

Depois de vários anos a querer conhecer a obra do poeta Daniel Faria, há pouco tempo consegui finalmente o contacto com este autor. E logo através de uma edição da sua obra completa (Poesia, Vila Nova de Famalicão, Quasi 2008), que reúne toda a sua obra publicada, acrescendo ainda alguns poemas inéditos. De facto, contactar com Daniel Faria é ficar, se elas houvessem (valham-nos o Salmista, São Paulo, São João da Cruz, Ruy Belo, José Tolentino Mendonça, e tantos, tantos outros), sem dúvidas de que os cristãos têm um lugar no mundo da cultura e da poesia em particular! Realmente, eles são sinal de que «a beleza salvará o mundo»!
Daniel Faria é normalmente referido como o poeta que nos deixou cedo de mais... O facto é que a sua morte física antecedeu apenas em alguns meses o que seria a sua morte para o mundo, com a entrada definitiva na Ordem Beneditina. Assim, o poeta "escondido" no Céu está mais visível do que estaria o poeta monge. Que a sua obra continue a ser sinal dessa Outra, que «viverá pelos séculos dos séculos» e que quer ser lumen gentium!

EXPLICAÇÃO DA ESCUTA

Ninguém me chama

Escuto o calcanhar do pássaro
Sobre a flor
E não respondo

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O Idiota


Ao trabalhar na minha tese de conclusão de Mestrado, apercebo-me de como a experiência cristã nos exige ser idiotas (num sentido surpreendentemente positivo do termo!). Quem nunca fizer, ao menos uma vez, a experiência de se sentir um idiota por causa da fé, não a vive plenamente.

«Por causa de Cristo somos idiotas», 1 Cor 4, 10

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Adília Lopes

S. João da Cruz

Mesmo que pudesse
dizer tudo
não podia dizer tudo
e é bom assim

Deus é a nossa mulher-a-dias

Deus é a nossa
mulher-a-dias
que nos dá prendas
que deitamos fora
como a vida
porque achamos
que não presta

Deus é a nossa
mulher-a-dias
que nos dá prendas
que deitamos fora
como a fé
porque achamos
que é pirosa

O tempo é sagrado

O tempo
é sagrado

O tempo
é templo

Ficar à escuta

Ficar
à escuta

À escuta
do silêncio

Nota 4

Se tu amas por causa da beleza, então não me ames!
Ama o Sol que tem cabelos doirados!

Se tu amas por causa da juventude, então não me ames!
Ama a Primavera que fica nova todos os anos!

Se tu amas por causa dos tesouros, então não me ames!
Ama a Mulher do Mar: ela tem muitas pérolas claras!

Se tu amas por causa da inteligência, então não me
ames!
Ama Isaac Newton: ele escreveu os Princípios Matemáticos da Filosofia Natural!

Mas se tu amas por causa do amor, então sim, ama-me!
Ama-me sempre: amo-te para sempre!

Sur la croix

Sur la croix
on gémit
et on prie

***

Dia
sem poesia
não é dia
é noite escura

Mas a poesia
é noite escura

***

“Dois Poemas sobre a minha Rua”

Quando encostam

ou abrem

o portão

do pátio do Duarte

na minha rua sossegada

à tarde

é como se os músicos

afinassem os instrumentos

antes do concerto.


terça-feira, 9 de novembro de 2010

Idiotas

Por causa de Cristo somos idiotas

Um Deus que se faz homem e acaba morto numa Cruz, onde morrem os piores dos malfeitores, só pode originar uma religião de verdadeiros idiotas! «A linguagem da cruz é certamente loucura para os que se perdem mas, para os que se salvam, para nós, é força de Deus» (1 Cor 1, 18)!

Muito trabalho...

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Quem fala assim não é gago!

«Quando José Rodrigues dos Santos lançou "A Vida num Sopro", o vencedor do Prémio Camões [António Lobo Antunes] classificou o livro de "uma grande merda", confessando ficar "assombrado com pessoas que escrevem livros de dois em dois meses", num país "onde todos são escritores"».

(numa reportagem do i, que pode ser vista aqui)

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Teologia


Dans sa misère, la théologie regarde vers la porte.

Do Livro dos Actos dos Apóstolos

A luz de Damasco é um grito
Para a ovelha que regressa

A luz de Damasco é um tombar do trigo, um cair
Do grão - cega tanto como os olhos
De um homem perseguido quando se volta
Para nós

A luz de Damasco golpeia. É circuncisão
Que abre, limpa, a luz de Damasco
É dura. Da dureza

Das pedras que um mártir junta com as mãos
Com que empedra o caminho para a morte. A luz
De Damasco é esse lume

Da oração de um mártir ao morrer


Daniel Faria

sábado, 16 de outubro de 2010

Dia de anos

Hoje, dia de dar graças a Deus por mais um ano de vida concedido por Ele, agradeço por cada uma das pessoas que se cruzaram comigo ao longo da vida. E já foi tanta gente! Que eu saiba cada vez mais valorizar esses encontros e ser testemunha de Cristo junto dos irmãos! Beijos e abraços a todos.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O servo (Mt 25, 21)

No circo mediático em que se tornou este mundo ainda há homens simples: "Não me tratem como artista, sou Mario, o trabalhador mineiro." A mesma boca disse: ‎"Estive com Deus e estive com o Diabo, lutaram por mim, e Deus ganhou! Agarrei a mão melhor." Deus faz maravilhas. A treze de Outubro!

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Tema de tese (provisório-definitivo)

Hoje a concretização do tema da minha dissertação de mestrado deu um enorme passo. Foi preciso definir um título e subtítulo para a mesma, bem como fazer um pequeno sumário acerca da investigação a fazer. É isso que agora partilho convosco.

Título «Por causa de Cristo somos idiotas» - uma retórica da fragilidade em São Paulo.

Sumário Nesta dissertação pretende-se estudar, a partir da expressão de 1 Cor 4, 10, «Nós somos idiotas por causa de Cristo», a importância do uso de metáforas relacionadas com a fragilidade na construção do discurso de Paulo. Trataremos, em particular, esta metáfora do «idiota», fazendo a ligação com o contexto histórico de Paulo e, em particular, com a linguagem própria do teatro, donde é tomado o termo.

Assim que se saiba da aprovação, ou não, deste tema, darei mais notícias. De resto, vou procurar que este blogue seja espaço de partilha da investigação feita.

Esta teologia não é para leigos

Apontamentos sobre o discurso teológico nas redes sociais

Ao navegar pela internet, sobretudo nas redes sociais, e ao, nelas, interagir com outros, descobri, pelo menos, um facto curioso, relacionado com o ofício teológico, que julgo merecedor de reflexão atenta e cuidada.
O facto é muito simples, e tem a ver com o título deste post. A teologia - o discurso teológico - só é bem aceite (pelos cristãos, leia-se; os outros aceitam mal qualquer discurso teológico, de resto aproveitando para atacar a Igreja, sobretudo na sua dimensão hierárquica, e ridicularizá-la, bem como a toda a mensagem cristã...) quando feita por clérigos (sobre a excepção que confirma a regra falaremos adiante).
Dou um exemplo concreto: se um padre, de uma Ordem ou Congregação religiosa ou não, discursa sobre o estado do mundo, denunciando o que está mal, proclamando a necessidade de novas relações humanas, fundadas no respeito entre os homens, no reconhecimento do outro como irmão, etc., é um herói, que tem coragem de remar contra a maré, de enfrentar um mundo adverso à mensagem cristã, e está a contribuir decisivamente para a mudança de mentalidades e comportamentos. Se for um leigo a fazê-lo, sobretudo se for teólogo, não passa de um idealista, que não sabe que o mundo não vive de ideias bonitas (ainda que estas se enraízem no Evangelho!).
Lugar à parte têm os leigos estudiosos por conta própria (contra os quais não tenho nada contra, desde que sejam portadores de inteligência e honestidade intelectual) que produzem verdadeiros tratados teológicos (ainda que sem qualquer fundamento científico, próprio de uma Teologia que quer ter lugar na "casa da ciência"; mas que interessa isso a estas pessoas?) para as redes sociais, e que, mesmo que sem passar pelo escrutínio do sensus fidei e do sensus ecclesiae são aclamadíssimos.
Mas a verdadeira questão, hoje, não está em denunciar esta separação, antes está em darmos as mãos (clérigos e leigos teólogos) e em juntar as nossas ideias e as nossas acções para mudar o mundo. Uma Teologia que perca a dimensão de ciência, por um lado, e a dimensão prática, concreta e palpável de presença no mundo - a que podemos chamar de pastoral - vai, concerteza, perder quer o seu lugar na "casa da ciência" quer o seu interesse para a vida das pessoas. E sem isso, ela deixa de ser coisa alguma. Está nas nossas mãos conservar a Teologia. Que o saibamos fazer, com a inteligência e com as mãos, para não sermos acusados de idealismo nem, por outro prisma, de viver uma acção social desligada da fé. Que a nossa vida seja fé, esperança e caridade, para que no fim permaneça o Amor.

(este texto será publicado também em theo-odisseia)

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Agrupamento Musical Lauro Palma (again)

Enquanto não voltam informações fresquinhas sobre a minha tese, que está cada vez mais próxima de ter um título definitivo, sempre à volta de 1 Cor 4, 10, mantenho a actividade do blog partilhando este vídeo do Agrupamento Musical Lauro Palma, talvez o tema mais rural da música não-pimba cantada em português. Sublinho a pergunta sincera do refrão: «Mas porquê mudaste aquele marco?! Fiquei com menos meio metro de terreno p'ra lavrar!»


sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Da crise

«Do justo e duro Pedro nasce o brando

(Vede da natureza o desconcerto!)

Remisso e sem cuidado algum, Fernando,

Que todo o Reino pôs em muito aperto;

Que, vindo o Castelhano devastando

As terras sem defesa, esteve perto

De destruir-se o Reino totalmente,

Que um fraco rei faz fraca a forte gente.»


Luís de Camões, Os Lusíadas, Canto III 138.


(sugiro que vejam esta entrevista do Frei Fernando Ventura à sic notícias)

«Deus morreu», Nietzsche

«Nietzsche morreu», Deus.

(o que se faz só para pôr aqui a imagem de um bigode farfalhudo)

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

A maçonaria é o %&#$%&$

Ao ler a notícia de que as Misericórdias portuguesas rejeitam terminantemente a sua submissão aos Bispos, não deixo de me lembrar da frase que, sem continência verbal, uma pessoa uma vez me disse (de resto, a frase com que dou título a este post): «A maçonaria é o %&#$%&$!»
É triste este momento, quer para a Igreja, que, diga-se, talvez tenha tido desde há muitos anos dificuldade em encontrar a recta relação com estas instituições, quer para as Misericórdias, que a pouco e pouco foram perdendo a sua dimensão fundamental, de serem lugar de misericórdia, acção do coração em favor das pessoas que passam por necessidades, e foram-se tornando centros de negócio mantendo a capa dessas acções. São instituições com bastantes bens (imóveis e móveis [dinheiro]), o que as torna apetecíveis como lugares de interesses económicos e vias de progressão política.
E é aqui que entra a maçonaria. Se virmos uma boa reportagem sobre este grupo (como esta), percebemos que tem uma aparente inutilidade espiritual e prática. Assim, o seu valor só pode estar na troca de favores e interesses. E é aí que, por causa daquilo em que se tornaram, as Misericórdias se tornaram um bastião maçónico, à medida que a dimensão institucional da Igreja (sobretudo os senhores Bispos...) foi deixando esta associação laical ("associação pública de fiéis") trabalhar em roda livre...

Notícia sobre a reacção das Misericórdias aqui.

A posição da Igreja portuguesa, aqui.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Mulher(es) mesmo bonita(s)

Aqui há tempos um amigo dizia-me, frase "da sua avó", que «mais vale ficar calado e passar por burro do que abrir a boca e confirmar as suspeitas», mas não deixo de pensar, também, como diz o outro provérbio, que «à mulher de César não basta ser, é preciso parecer», ou seja, se me encanto com a beleza das coisas e das pessoas só pelo que vejo cada vez mais o que faz a diferença entre a verdadeira beleza e essa aparente é o que sai do coração. De resto, já diz o Evangelho, «Jesus respondeu-lhes: «Também vós não sois ainda capazes de compreender? Não sabeis que tudo aquilo que entra pela boca passa para o ventre e é expelido em lugar próprio? Mas o que sai da boca provém do coração» (Mt 15, 16-18). Foi assim que fiquei agradavelmente surpreendido com a entrevista de Joana Carneiro (que já tive a graça de "conhecer" pessoalmente [foi uma das convidadas das culturalmente muito produtivas sessões de tutoria com o padre Tolentino]) à notícias magazine. Deixo aqui um excerto que achei particularmente bonito. Antes, digo que se a Joana "física" já era muito bonita, agora, aos meus olhos, reluz muito mais.

nm: Que palavras usaria para se definir?

JC: Sou uma pessoa com muita sorte, sobretudo. Uma pessoa com muita sorte. Que tem tido muitas graças na vida e que tem tido a sorte de ter tido muito amor, que tem tido a sorte de conhecer pessoas extraordinárias que me salvam diariamente, na música e não só. Questiono-me muitas vezes porque é que a vida tem sido tão generosa para comigo. Na família em que nasci, no país em que nasci, - num país que me amparou desde cedo, que me ajudou a transformar e a desenvolver a minha imaginação artística -, …

nm: Não está a pôr muito o acento tónico na sorte? Então o seu esforço, o seu mérito, o seu talento?

JC: Bom, eu acho que trabalho muito… mas aquilo que sinto é que há muitas pessoas neste mundo que trabalham muito e não têm as oportunidades que eu tive. Por isso existe um factor sorte, existe um factor mistério na minha vida. Nas alturas mais difíceis da minha vida, acabo sempre por ter muito mais coisas para agradecer do que para pedir. (silêncio) E realmente isto é uma graça enorme. Que tem que ver com coisas misteriosas e que nos são dadas gratuitamente. E nesse sentido, acho que sou uma pessoa com muita, muita sorte.

nm: De onde acha que vem essa sorte?

JC: É evidente, não é? De onde acho que vem essa sorte? Vem de qualquer coisa que vai muito para além daquilo que é terreno.

nm: Deus?

JC: Vem de Deus. Com certeza. Não tenho dúvidas que sim. Não tenho dúvidas.

Tema de tese (provisório)

Continuando sempre à volta de São Paulo, volto agora a refazer o tema da minha tese: "«Nós somos idiotas por amor de Cristo» - uma leitura de 1 Cor 4, 10". Até à próxima semana haverá mais novidades.

Santo da minha devoção

A Igreja celebra hoje São Bruno. É um santo que facilmente passa despercebido. Não foi fundador de uma das Ordens ainda hoje bastante conhecidas, não fez grandes milagres mirabolantes, não foi mártir... No entanto, foi, sem dúvida, um homem fantástico. Um aventureiro de há novecentos anos, um chato, um lutador pelos seus sonhos, em suma, um verdadeiro homem de oração. Hoje é dia de dar graças a Deus pois o sonho da vida de São Bruno continua bem vivo: a Cartuxa continua, com homens que, retirados do mundo, rezam, a cada dia, todo o dia, pela salvação da humanidade inteira! Stat crux dum volvitur orbis.

Para um estudo mais aprofundado sobre a vida de São Bruno podem consultar este meu trabalho de investigação.

Neste post lembro ainda os rapazes do Curso de São Bruno, agora no seminário dos Olivais, com quem fiz uma caminhada de três anos, e ainda o Pe. Luís Nolasco, ex-clero de Lisboa, agora na Ordem Cartusiana, cuja alegria de vida na entrega total a Deus e ao silêncio orante me marcará para sempre.

sábado, 2 de outubro de 2010

«O pequeno grupo dos Capinhas»

Na semana que passou nasceu mais um membro da minha família. Deram-lhe o nome de Leonardo [Do germânico Leonhard , 'leão ousado'], quase de certeza para lhe chamar Leo, diminuindo logo à partida as suas capacidades... Mas o post não tem (como podia perfeitamente ter) a ver com o uso de diminutivos, coisa que no mínimo me irrita, antes com outro facto, (curiosamente) a queda de natalidade em Portugal.
No tempo dos meus avós o normal era que um casal tivesse entre oito e doze filhos. No tempo dos meus pais, a média era de 3 a 8 filhos. No tempo em que eu nasci, a média era de 2 a 4 filhos, começando já a haver alguns filhos únicos. Hoje, na loucura, tem-se um filho.
Entre outras várias consequências, inclusive para a própria economia nacional, uma delas é o fim do que eu chamaria de "forma portuguesa" de dar os nomes. Se há menos de cem anos ainda era comum dar-se apenas um nome próprio às pessoas, pouco depois se impôs a tal forma portuguesa de dar os nomes, ficando a criança com o(s) seu(s) próprio(s) nome(s), depois o último apelido da mãe e por fim o último apelido do pai [ilustro com o meu próprio nome: André João (próprios) Pereira (da mãe) Capinha (do pai)]. Isto nunca foi problema enquanto as pessoas tinham muitos filhos, pois sempre haveria alguém para conservar todos os apelidos (dos mais "comuns" aos mais "incomuns" [como o meu...]). De resto, sempre se tinham presentes as excepções à regra, como quando dois apelidos juntos podiam dar mau resultado (Coelho Leitão, Capelo Rego, Caspa Cabeleira), ou quando o pai, no ímpeto do festejo pelo nascimento de um rebento ficasse ébrio e ouvisse "o primeiro apelido da mãe e o primeiro do pai" em vez de "primeiro o da mãe e depois o do pai".
O problema começa a dar-se quando as pessoas começam a ter menos filhos (a bem dizer nenhuns). Aí, alguns paladinos da conservação dos seus apelidos "incomuns" começam a sentir necessidade de ultrapassar a tal forma portuguesa de dar os nomes para conseguir tal empresa! E é isto que se passa na minha família, da parte do meu pai. Tendo os senhores meus avós tido quatro filhos, dos quais dois varões, sendo que um deles não procriou, resta a um a conservação, de acordo com a "forma portuguesa", do apelido. Depois, esse varão (o meu pai) teve dois filhos homens, a quem cabe a legítima conservação do apelido, ainda de acordo com a mesma "forma portuguesa" de dar os nomes.
Mas há quem se esqueça disso e tenha o íntimo desejo de dar aos seus filhos o apelido Capinha, passando por cima das restantes pessoas envolvidas (sim, que o outro lado da família, seja Gomes, Santos, Nunes, Almeida, o que fôr, também pode querer perpetuar o seu nome, ou não?)...
Não fico propriamente chateado ou ciumento, mas é coisa que me irrita passar-se por cima destas coisas tipicamente portuguesas. Por deixarmos perder a nossa identidade nestas pequenas coisas vamos acabar por perdê-la nas grandes. Não é por acaso que Nosso Senhor dizia que quem é fiel no pouco também o é no muito!

Agora uma pequena mensagem às próprias crianças que andam a ser "encapinhadas":
Quando vos disserem que "quem tem capa sempre escapa", quando vos pedirem para dizer o vosso nome e depois do apelido disserem "O quê?", quando tiverem de soletrar à americana "C-A-P-I-N-H-A", quando tiverem de explicar que Capinha não é com "K" como o artista dos D'Arrasar e que não, não são dos Capinhas do Alentejo, nem dos açoreanos, e que são mais ou menos dos das Caldas e dos do Salgueiro, aí agradeçam aos vossos pais. Diz alguém que é Capinha porque assim tinha de ser...

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A revolta

«I’m not expecting revolutions on the animal farm, ‘cause when the wolves find a solution every little bird must die», JP Simões em Light Movie, Belle Chase Hotel, La toillete des etóiles.



So, come on and call me superficial,
like the sun does to the sea:
I’m here for the wine and some other time,
I’ll solve the world’s greatest mysteries.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Os verdadeiros homens da luta

Ao ler hoje a notícia de que o nosso primeiro-ministro-diplomado-ao-domingo decidiu aumentar novamente os impostos, lembrei-me logo da manifestação por que passei à tarde e que ilustra este post (coitados dos sindicalistas, mal sabiam que logo na mesma noite lhes iam mexer ainda mais nos bolsos...). Lembrei-me dela porque de facto o momento actual precisa de pessoas na rua, de uma revolta popular, pacífica e sem violência, mas em que mostremos, de facto, o nosso descontentamento com o estado actual das coisas. É precisamente porque o "povo" [seja lá o que isso, em abstracto, for... Chame-se-lhe, como o meu vizinho Rafael Bordalo Pinheiro, Zé Povinho] se demite da sua presença activa na polis, nas mais diversas dimensões, desde a política em si como à religião, ao voluntariado, que estes senhores têm legitimidade para fazer o que bem entendem, continuando a andar de chauffeur e de carro topo de gama enquanto sobem o IVA em mais 2%, cortam nas pensões, cortam nos salários da função pública e o diabo a sete! Pior do que isso é que o "povo", o mesmo que se devia revoltar e ir para a rua em busca de tornar a Cidade dos Homens na Cidade de Deus, enquanto tiver fundos de desemprego e RSI's vai continuar a votar nos mesmos...

Acerca do tema sugiro este artigo de Paulo Tulhas no i.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

(Boa) Poesia na (!?) música

Podia, sim, ser um verso de um qualquer grande poeta (até um dos nossos portugueses que, como já disse várias vezes, são muitos e dos melhores do mundo no género, por muito que quase sempre desprezados). Mas é mesmo Lady Gaga, no meio de uma música pop "orelhuda" [acrónimo eurovisionista para má], Alejandro... «She hides true love en su bolsillo».

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Infância feliz

Hoje caiu a primeira chuva (decente) do Outono e lembro-me do cheiro da saca de serapilheira molhada posta de capuz quando voltava da fazenda com o avô.

Plano de acção para uma segunda-feira feliz

Metro, carreira 11 da vimeca, escola, carreira 2 da vimeca, escola, carreira 13 da vimeca, casa, cama. Isto durante um aninho... Vá, até Junho do ano que vem, só... Espero que comigo ainda vivo. A todos peço oração. A propósito de oração, partilho ["repartilho", diz o neologista] a última estrofe de Para ler aos noviços, do meu caro professor padre José Tolentino Mendonça:

Só há um modo verdadeiro de rezar:
estende o teu corpo ao longo do barco
que desce silencioso o canal
e deixa que as folhas mortas dos bosques
te cubram

José Tolentino Mendonça, A noite abre meus olhos, Lisboa, Assírio & Alvim 2010, p. 213.

PS: Justifico este post com a necessidade de que a primeira coisa com que se deparam neste blog seja, pelo mínimo tempo possível, sobre a praxe, essa bonita instituição nacional... De facto, anseio pela entrega da minha tese [à qual dou o nome provisório O louco de Deus - teologia da fragilidade em Paulo] para deixar de fazer parte deste grupelho de gente que integra os outros pondo-os a fazer figuras de urso na praça pública, onde percebo os olhares reprovadores de muito idoso: «É esta a juventude que nós temos? Vão isto ser os futuros médicos e engenheiros?». Vão, senhores, infelizmente vão. E tão bons eles se acham que logo ao segundo ano (se chumbarem, ainda no primeiro ano!) se auto denominam de "doutores"!

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Praxe

É um gajo vestido de preto numa cidade com 30 e tal graus, a cheirar a álcool que tresanda, e um bando de trinta e tal "carneiros" a obedecer-lhe.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Muito mais que futebol


Eis o Sporting. Muito boa esta reportagem de El Mundo Deportivo. E como é uma reportagem do estrangeiro não pode ser acusada de falta de isenção!

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Nova tese

A grande vantagem de se ter professores geniais e preocupados com a carreira académica dos seus alunos, é que de propostas individuais vagas se chega a propostas concretas válidas e desafiantes. Do meu interesse pessoal em trabalhar a dimensão ética das Bem-Aventuranças passei para o interesse, não menos pessoal, em trabalhar a dimensão da auto-consciência paulina, em conjunto com os outros colegas de acompanhamento de dissertação, trabalhando depois, em concreto, a teologia da fraqueza. De facto, o Apóstolo diz aquilo que deveria ser a experiência de todo o cristão (notável é que aquilo que ele diz seja, de facto, a sua própria experiência de fé):

Transmiti-vos, em primeiro lugar, o que eu próprio recebi: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras; apareceu a Cefas e depois aos Doze. Em seguida, apareceu a mais de quinhentos irmãos, de uma só vez, a maior parte dos quais ainda vive, enquanto alguns já morreram. Depois apareceu a Tiago e, a seguir, a todos os Apóstolos. Em último lugar, apareceu-me também a mim, como a um aborto. (1 Cor 15, 3-8)

Ninguém se engane a si mesmo: se algum de entre vós se julga sábio à maneira deste mundo, torne-se louco para ser sábio. Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus. (1 Cor 3, 18-19)

Por isso me comprazo nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições e nas angústias, por Cristo. Pois quando sou fraco, então é que sou forte. (2 Cor 12, 10)

Oxalá pudésseis suportar um pouco de insensatez da minha parte! Mas, de certo, ma suportareis. (2 Cor 11, 1)

O que vou dizer, não o digo segundo o Senhor, mas como num assomo de insensatez, certo de que tenho motivos para me gloriar. (2 Cor 11, 17)

Fiz-me fraco com os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para salvar alguns a qualquer custo. (1 Cor 9, 22)

Regresso às aulas

Começa já no dia de hoje (embora no meu sistema de contagem de dias seja amanhã, visto que só mudo de dia quando durmo) o, assim Deus queira [pós-graduações, mestrados, doutoramentos, podem sempre trocar-me as contas à vida], meu último ano como estudante. Os nervos do primeiro dia de aulas estão presentes, como no primeiro dia, não me deixando descansar em condições.
Como dizia num dos meus
posts em férias, este é um dia feliz para o hipotético leitor apreciador deste blog, visto que com o reinício de aulas volto a ter mais actividade intelectual, muito decorrente da actividade académica [que, ao hipotético leitor que deve andar agora a praxar os colegas mais novos, informo que é pensar, ler e estudar, e não beber copos, fazer sexo pré-marital e humilhar durante um mês os recém-colegas de faculdade/curso]. Eventualmente será um dia triste para o hipotético leitor não apreciador deste blog, uma vez que, tendo o blog mais actividade, essa hipotética pessoa chatear-se-á mais com este gajo que diz mal do Sócrates, do Figo, do Carlos Cús, do Benfica, e que, heresia das heresias, diz bem da Igreja e, quando fala dos autores da FlorCaveira [os de inspiração cristã, bem entendido], não diz que «eles têm fé mas eu até gosto».
Para mim, este é um dia com bastante sono...
Para este novo ano lectivo, prometo que o hipotético leitor do
blog poderá acompanhar de perto o processo de nascimento e desenvolvimento da minha tese de conclusão de mestrado, que andará, penso, à volta da Ética das Bem-Aventuranças (de facto, amanhã [hoje] reunirei pela primeira vez com o orientador, arriscando-me a ouvir queixas por não ter, durante as vacaciones, encontrado um qualquer critério de restrição para este tema que, ao momento actual, é bastante vasto e impossível de trabalhar... Mas mantenho confiança na bondade do estimado orientador, que será (grato estou a Deus) José Tolentino Mendonça).
Mantendo a íntima ligação deste
blog com a poesia, e mesmo sendo um poema que nada tem a ver com o tema do post, partilho este escrito de Adília Lopes, desejando a todos um feliz ano lectivo!

Quando encostam

ou abrem

o portão

do pátio do Duarte

na minha rua sossegada

à tarde

é como se os músicos

afinassem os instrumentos

antes do concerto.


Adília Lopes, Caderno, & etc 2007.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Mê rico Portugal

Que raio de país é este, onde além de termos um primeiro-ministro que conclui o curso a um domingo se quer para presidente da Federação de futebol um ex-jogador que terá aceitado dinheiro para apoiar um partido político (curiosamente o mesmo do senhor que acabou o curso ao domingo...)?! Isto só está entregue à bicharada porque "o povo" assim o quer. E depois venham cá Carlos Cús dizer que o povo não é estúpido... Enfim...

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Audio-fim de férias

Com o tempo de férias de verão a chegar ao fim, calhou-me querer ouvir o último álbum dos GNR, Retropolitana. E, meus amigos, acho que encontrei um bom barómetro para ver quem gosta de música. Excepto para o caso daqueles cavalheiros com quem partilho o dom da amizade e que só gostam de música erudita, abrindo apenas excepções para grupos com quem tenham afinidade sentimental. Quem gostar de música contemporânea e, em particular, de música portuguesa em português (sim, que para mim música portuguesa é a feita por portugueses, não vá eu um dia destes querer ter uma banda a cantar em grego clássico, em sânscrito ou numa língua inventada por mim e depois fique um apátrida) dificilmente não gostará deste ábum.
Ah, e, dúvidas houvesse, este disco esclarece qualquer uma delas: a banda do Reininho mete os senhores das guitarras gamadas num bolso. Dos pequenos.

sábado, 4 de setembro de 2010

Actualização de projectos de férias

Para um gajo como eu, ler, a pouco mais (ou menos?) de uma semana do fim das férias, metade dos livros a que se havia proposto para este período, é um verdadeiro acontecimento. E foram, de facto, bons acontecimentos. Li O Breviário das Más Inclinações e As mentiras que os homens contam. São livros diferentes, mas com alguns pontos em comum. Ambos são histórias recheadas de humor, por vezes com uma linguagem demasiado agressiva para alguns leitores, mas que não dão só vontade de rir (nem sempre vontade de rir). Dão vontade de pensar, de saber mais (O Breviário das Más Inclinações ensina-nos muito sobre árvores, plantas, costumes e coiso e tal do Portugal dos anos 30-60; As mentiras que os homens contam situa-nos no contexto cultural do Brasil), de ler mais...
A 50% do fim dos livros que me propus ler (no mínimo) nestas férias, digo que se a vida é um poema contínuo, como proclama este blog, socorrendo-se das palavras de Herberto Helder, ela é continuamente feita de poemas, de leituras.

domingo, 22 de agosto de 2010

Verdade

«Antes de morrer, a donzela disse para o pescador:
- A sua mentira era maior que a minha. Eles mataram pela minha mentira e vão matar pela sua. Onde está, afinal, a verdade?
O pescador deu de ombros e disse:
- A verdade é que eu achei o anel na barriga de um peixe. Mas quem acreditaria nisso? O pessoal quer violência e sexo, não histórias de pescador».

VERÍSSIMO, Luís Fernando, As mentiras que os homens contam, Lisboa, Dom Quixote 2002, p. 114.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Marco Chagas

Agosto é, para mim, desde sempre (vamos ver até quando...), mês de férias, de praia (nem sempre...) e de Volta a Portugal em bicicleta. Sou do tempo em que a Nacional 114 tinha outra importância, e ia de mão dada com o meu pai ao largo do coreto ver passar os ciclistas. De facto, o ciclismo foi um desporto de que sempre gostei, mesmo que o meu clube não tenha equipa de ciclismo (apesar de o melhor ciclista português de todos os tempos ter corrido no meu clube).
Vejo ciclismo pelo interesse que tenho no desporto em si (na parte técnica e táctica) e não apenas para ver as paisagens mostradas pelos helicópteros... E ver ciclismo na televisão portuguesa tem um grande ponto de interesse: está lá o melhor comentador desportivo português (sim, desisti do tal post de crítica gratuita ao idolatrado Freitas Lobo, substituindo-o por este...)!
Marco Chagas junta tudo aquilo que o apreciador do desporto em questão quer ouvir:
1. Foi praticante da modalidade, por isso sabe o que custa andar em cima da bicicleta, sabe o que pensam os ciclistas e não inventa estados de alma que eles possam ter. Ademais, ele não foi um ciclista qualquer (o seu recorde de quatro vitórias na Volta só agora foi igualado pelo galego David Blanco), por isso sabe o que é atacar na hora da vitória, perceber quando já se ganhou ou ainda se pode perder.
2. Domina bastante bem a parte táctica e técnica do desporto e sabe expô-la aos telespectadores numa linguagem que estes entendem, sem pretensiosismos e até pondo a dose certa de humor à mistura (gosto sempre de ouvir os termos coloquiais com que os ciclistas exprimem certas realidades da técnica ou da táctica do desporto).
3. É um verdadeiro profundo conhecedor da modalidade. Conhece os resultados da maioria das corridas velocipédicas mundiais, nota-se que é um estudioso do ciclismo, aparece sempre com o trabalho de casa feito (ciclistas e equipas sem ligação a Portugal [sobretudo quando comenta o Tour] são rapidamente identificados e são-nos dadas informações que não são de um leigo ou de quem está a inventar). Muito importante: engana-se tantas vezes no nome do ciclista que está a ser filmado num programa de várias horas como um relatador ou comentador de futebol se enganam no nome de quem tem a bola em cinco minutos (o que, tendo em conta que não se joga futebol de capacete, óculos e luvas, é obra!).
4. Correu na equipa do Sporting e ganhou muitos títulos com a camisola verde e branca vestida (eheheh)!

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Haroldo de Campos - excerto de Galáxias

e começo aqui e meço aqui este começo e recomeço e remeço e arremesso
e aqui me meço quando se vive sob a espécie da viagem o que importa
não é a viagem mas o começo da por isso meço por isso começo escrever
mil páginas escrever milumapáginas para acabar com a escritura para
começar com a escritura para acabarcomeçar com a escritura por isso
recomeço por isso arremeço por isso teço escrever sobre escrever é
o futuro do escrever sobrescrevo sobrescravo em milumanoites miluma-
páginas ou uma página em uma noite que é o mesmo noites e páginas
mesmam ensimesmam onde o fim é o comêço onde escrever sobre o escrever
é não escrever sobre não escrever e por isso começo descomeço pelo
descomêço desconheço e me teço um livro onde tudo seja fortuito e
forçoso um livro onde tudo seja não esteja um umbigodomundolivro
um umbigodolivromundo um livro de viagem onde a viagem seja o livro
o ser do livro é a viagem por isso começo pois a viagem é o comêço
e volto e revolto pois na volta recomeço reconheço remeço um livro
é o conteúdo do livro e cada página de um livro é o conteúdo do livro
e cada linha de uma página e cada palavra de uma linha é o conteúdo
da palavra da linha da página do livro um livro ensaia o livro
todo livro é um livro de ensaio de ensaios do livro por isso o fim-
comêço começa e fina recomeça e refina e se afina o fim no funil do
comêço afunila o comêço no fuzil do fim no fim do fim recomeça o
recomêço refina o refino do fum e onde fina começa e se apressa e
regressa e retece há milumaestórias na mínima unha de estória por
isso não conto por isso não canto por isso a nãoestória me desconta
ou me descanta o avesso da estória que pode ser escória que pode
ser cárie que pode ser estória tudo depende da hora tudo depende
da glória tudo depende de embora e nada e néris e reles e nemnada
de nada e nures de néris de reles de ralo de raro e nacos de necas
e nanjas de nullus e nures de nenhures e nesgas de nulla res e
nenhumzinho de nemnada nunca pode ser tudo pode ser todo pode ser total
tudossomado todo somassuma de tudo suma somatória do assomo do assombro
e aqui me meço e começo e me projeto eco do comêço eco do eco de um
começo em eco no soco de um comêço em eco no oco de um soco
no osso e aqui ou além ou aquém ou láacolá ou em toda parte ou em
nenhuma parte ou mais além ou menos aquém ou mais adiante ou menos atrás
ou avante ou paravante ou à ré ou a raso ou a rés começo re começo
rés começo raso começo que a unha-de-fome da estória não me come
não me consome não me doma não me redoma pois no osso do comêço só
conheço o osso o osso buço do comêço a bossa do comêço onde é viagem
onde a viagem é maravilha de tornaviagem é tornassol viagem de maravilha
onde a migalha a maravilha a apara é maravilha é vanilla é vigília
é cintila de centelha é favilha de fábula é lumínula de nada e descanto
a fábula e desconto as fadas e conto as favas pois começo a fala

Arnóia

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.

O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.

O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.

Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos XX

"Para ler aos noviços"

Deus não aparece no poema

apenas escutamos a sua voz de cinza

e assistimos sem compreender

a escuras perícias


A vida reclama inventários e detalhes

não a oiças

quando inutilmente perscruta as sequências do seu trânsito


Só há um modo verdadeiro de rezar:

estende o teu corpo ao longo do barco

que desce silencioso o canal

e deixa que as folhas mortas dos bosques

te cubram


José Tolentino Mendonça, O Viajante sem sono, Lisboa: Assírio & Alvim 2009.

sábado, 7 de agosto de 2010

Suas camisolas berrantes



pelos campos a vibrar são papoilas saltitantes.

FC Porto 2 - 0 SL Benfica
(não, infelizmente ainda não podem perder os dois na Supertaça... Ao menos que empatassem...)

Futebol - nova época

Apesar de não gostar de muitas das opiniões do senhor, não posso deixar de partilhar este vídeo com Manuel Moura dos Santos. É a forma de lançar aqui a época 2010/2011:


segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Sugestão de vídeo para férias

Para aqueles que tiverem tempo, agora em férias, uma boa proposta é esta conversa entre José Saramago e o padre Tolentino, para o Expresso.


Música (breve)

Há uns bons dois meses que não pego na minha guitarra... Já nem baixinho ela toca... Tenho que aproveitar as férias a ver se lhe mexo...


Férias

Peço desculpa a quem eventualmente seja leitor assíduo deste blog (eventualmente haverá alguém, continuo a acreditar nisso...) pela fraca actualização que tem sofrido de há uns tempos para cá. No entanto, o motivo é o facto de me encontrar en vacances, o que no caso de um estudante como eu acaba também por ser sinónimo de menos actividade reflexiva e de menos atenção ao mundo da cultura.
No entanto, mesmo em tempo de férias faço-me acompanhar de alguns livros que gostaria de partilhar com o (hipotético) leitor:

- CLEMENTE, D. Manuel; FERNANDES, José Manuel, Diálogo em tempo de escombros, Lisboa, Pedra da Lua 2010.

- DIREITINHO, José Riço, Breviário das Más Inclinações, Lisboa, Círculo de Leitores 1997.

- LEPRINCE-RINGUET, Louis, "Fé de Físico!" - o testamento de um cientista, Coimbra, Gráfica de Coimbra 1998.

- VERÍSSIMO, Luís Fernando, As mentiras que os homens contam, Lisboa, Dom Quixote 2002.

Se tiver tempo para isso, lerei ainda qualquer coisa de António Lobo Antunes e quiçá, relerei valter hugo mãe. Espero poder ir dando notícias mais regularmente.

domingo, 18 de julho de 2010

Desporto em Portugal

Estamos ainda no rescaldo da eliminação da selecção de futebol no Mundial e escrevo este post para dizer que o desporto em Portugal está melhor que nunca. Num país tacanho como o nosso, muitos considerarão mentira esta minha afirmação. Afinal, a selecção ficou-se pelos oitavos-de-final, ainda que contra os vencedores do torneio (o que para os portugueses serve sempre como feliz prémio de consolação...), o Benfica já perdeu e já empatou na pré-época, o Sporting tarda em encontrar um rumo (isto é, das três coisas, a que me deixa realmente mais triste e preocupado...), quase não se fala do que anda a fazer o Porto. Ou seja, que sentido faz dizer que o desporto em Portugal está bem quando o futebol não está assim tão bem?
O facto é que nas duas últimas semanas fomos campeões europeus de rugby sevens e ganhámos a Liga Europeia de voleibol (curiosamente a final foi contra a Espanha...); houve um português que ganhou a prova açoreana do IRC (rallye); temos finalmente um português (Frederico Gil) consolidado entre os 100 melhores tenistas do mundo (embora o ranking ATP seja um tanto ridículo e isto rapidamente possa deixar de ser verdade); Sérgio Paulinho, demasiados anos depois do último português, ganhou uma etapa no Tour de France. Felizmente, poderia dar muitos outros exemplos.
A questão que aqui deixo é bastante simples: para quando, da parte do país como um todo, o realce mediático e a aposta séria nestes desportos em que ganhamos mesmo? E aqui sublinho o papel das televisões (deixem de dar imagens de anos já bem idos quando há estas vitórias, deixem de dar imagens de rugby de 15 quando a vitória é nos sevens, deixem de dar mais destaque às eventuais contratações do Sporting e ao catarro dos jogadores do Benfica quando há portugueses a ganhar estas coisas...), das rádios (sobretudo nos programas desportivos podiam dar mais destaque aos outros desportos) e, sobretudo, dos jornais desportivos (que se deviam, de uma vez por todas, assumir como jornais especificamente especializados em futebol e pronto! É triste que a vitória de Paulinho ocupe meia capa do Público e apenas um cantinho das capas dos desportivos [se é que houve chamada de capa nos três jornais]).
Mas o tempo é de esperança, e se mais ninguém dá o destaque aos outros desportos, dou-o eu! Se mais ninguém se alegra por termos neste momento a trabalhar na selecção de rugby aquele que deve ser o melhor seleccionador português de qualquer modalidade (Tomaz Morais), por termos como seleccionador de voleibol o melhor treinador de sempre da modalidade (Juan Diaz), etc., etc., alegro-me eu!