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sábado, 2 de outubro de 2010

«O pequeno grupo dos Capinhas»

Na semana que passou nasceu mais um membro da minha família. Deram-lhe o nome de Leonardo [Do germânico Leonhard , 'leão ousado'], quase de certeza para lhe chamar Leo, diminuindo logo à partida as suas capacidades... Mas o post não tem (como podia perfeitamente ter) a ver com o uso de diminutivos, coisa que no mínimo me irrita, antes com outro facto, (curiosamente) a queda de natalidade em Portugal.
No tempo dos meus avós o normal era que um casal tivesse entre oito e doze filhos. No tempo dos meus pais, a média era de 3 a 8 filhos. No tempo em que eu nasci, a média era de 2 a 4 filhos, começando já a haver alguns filhos únicos. Hoje, na loucura, tem-se um filho.
Entre outras várias consequências, inclusive para a própria economia nacional, uma delas é o fim do que eu chamaria de "forma portuguesa" de dar os nomes. Se há menos de cem anos ainda era comum dar-se apenas um nome próprio às pessoas, pouco depois se impôs a tal forma portuguesa de dar os nomes, ficando a criança com o(s) seu(s) próprio(s) nome(s), depois o último apelido da mãe e por fim o último apelido do pai [ilustro com o meu próprio nome: André João (próprios) Pereira (da mãe) Capinha (do pai)]. Isto nunca foi problema enquanto as pessoas tinham muitos filhos, pois sempre haveria alguém para conservar todos os apelidos (dos mais "comuns" aos mais "incomuns" [como o meu...]). De resto, sempre se tinham presentes as excepções à regra, como quando dois apelidos juntos podiam dar mau resultado (Coelho Leitão, Capelo Rego, Caspa Cabeleira), ou quando o pai, no ímpeto do festejo pelo nascimento de um rebento ficasse ébrio e ouvisse "o primeiro apelido da mãe e o primeiro do pai" em vez de "primeiro o da mãe e depois o do pai".
O problema começa a dar-se quando as pessoas começam a ter menos filhos (a bem dizer nenhuns). Aí, alguns paladinos da conservação dos seus apelidos "incomuns" começam a sentir necessidade de ultrapassar a tal forma portuguesa de dar os nomes para conseguir tal empresa! E é isto que se passa na minha família, da parte do meu pai. Tendo os senhores meus avós tido quatro filhos, dos quais dois varões, sendo que um deles não procriou, resta a um a conservação, de acordo com a "forma portuguesa", do apelido. Depois, esse varão (o meu pai) teve dois filhos homens, a quem cabe a legítima conservação do apelido, ainda de acordo com a mesma "forma portuguesa" de dar os nomes.
Mas há quem se esqueça disso e tenha o íntimo desejo de dar aos seus filhos o apelido Capinha, passando por cima das restantes pessoas envolvidas (sim, que o outro lado da família, seja Gomes, Santos, Nunes, Almeida, o que fôr, também pode querer perpetuar o seu nome, ou não?)...
Não fico propriamente chateado ou ciumento, mas é coisa que me irrita passar-se por cima destas coisas tipicamente portuguesas. Por deixarmos perder a nossa identidade nestas pequenas coisas vamos acabar por perdê-la nas grandes. Não é por acaso que Nosso Senhor dizia que quem é fiel no pouco também o é no muito!

Agora uma pequena mensagem às próprias crianças que andam a ser "encapinhadas":
Quando vos disserem que "quem tem capa sempre escapa", quando vos pedirem para dizer o vosso nome e depois do apelido disserem "O quê?", quando tiverem de soletrar à americana "C-A-P-I-N-H-A", quando tiverem de explicar que Capinha não é com "K" como o artista dos D'Arrasar e que não, não são dos Capinhas do Alentejo, nem dos açoreanos, e que são mais ou menos dos das Caldas e dos do Salgueiro, aí agradeçam aos vossos pais. Diz alguém que é Capinha porque assim tinha de ser...

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