Na taberna da aldeia,
a que agora chamam café,
há um homem que fala sozinho
e nunca responde às nossas perguntas.
Esbraceja sem fim e ri-se
e não se importa se ninguém o ouve.
Partilha receitas de coelho guisado,
vinho branco, cebola cortadinha, colorau,
tomate, alho, mais vinho branco,
e lembra-se do nome dos irmãos
que são cinco, com o que já morreu.
Diz que tem quarenta e oito
ou sessenta anos, uma idade aí pelo meio,
e que sabe assinar se vir o nome escrito.
Gosta de cópias em letra de imprensa
e não é adepto de ditados.
Carrega o dinheiro todo no bolso
para não ser roubado pela irmã
e a ver se vai comprando
copos de vinho e cervejas.
«Sou o mais parvo dos meus irmãos
mas, às vezes, faço-me mais parvo
do que aquilo que sou».
Ouvi poucas autobiografias tão boas.
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