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quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Fiéis defuntos

Hoje passei por uma repartição do Centro Nacional de Pensões onde se podia tratar de pensões de morte. Pensei entrar e pedir uma para mim. Não que quisesse ser um morto-vivo, como os zombies, que ainda respiram mas estão já podres, por dentro e por fora. Antes porque gostava de ser como os monges cartuxos, que morrem para o mundo para poderem viver só para Deus. Lembrei-me daquela frase de Teresa de Ávila: «Só Deus basta». Emocionei-me ao pensar nas campas dos monges de clausura, sem pedras, sem estatuetas, sem fotografias, sem nomes, sem sequer uma elevação que diga que ali jaz o corpo de uma pessoa - coisa que é bem mais que um invólucro. A campa deles só tem uma cruz, como sinal de que também eles pensam que só Deus basta. Pensei ainda nos alpendres onde se amontoam os ossos dos cartuxos, decompostos os seus corpos. Lá, eles são só ossos entre ossos, homens entre homens, cartuxos entre cartuxos: são os que escolheram voluntariamente que só Deus os trate pelo nome.
Penso nisto tudo e em como gostaria que só Deus soubesse o meu nome. Para que esse resto de solidão me lembrasse que há sempre um resto de companhia. Porque quero viver como quem sabe que só Deus basta.

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