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sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Preciso de explicações...

Um dia alguém há-de me explicar o que é, afinal, uma família católica. Amigos meus - que não deixarão de ser meus amigos por causa do que disseram, e espero que não deixem de ser meus amigos por estar a pôr agora esta questão... - identificam-se como oriundos de uma família católica, para depois dizer que durante uma data de anos não iam à Missa, ou que durante determinado período iam à Missa de quando em vez, quando dava mais jeito ou quando sentiam mais necessidade.
Para mim é difícil compreender estas famílias católicas que não vão à Missa, ou que só vão quando calha. É difícil porque nasci numa família verdadeiramente católica, onde se vai à Missa todos os domingos, onde se reza todos os dias... É-me difícil compreender que famílias que se dizem católicas justifiquem que não iam sempre à Missa porque não há celebração todas as semanas na sua terra, quando pessoas da minha família faziam cinco e seis quilómetros a pé para se encontrar com a sua comunidade cristã. É-me difícil compreender que pessoas que vão ser voz pública da Igreja tenham uma noção tão pobre e desrespeitadora do que é uma família católica. Assim, como convencer as pessoas a ir à Missa se são católicas indo ou não indo? Como falar da relação com Cristo como compromisso sério quando sou tão comprometido gastando o meu tempo com a minha comunidade ou ficando a dormir até mais tarde?
Eugénio de Andrade, no seu poema Adeus, diz que «já gastámos as palavras». Eu penso que nestes problemas das famílias católicas ou não católicas o problema é precisamente esse. As pessoas se calhar às vezes pensam mesmo que já gastámos as palavras e o melhor é poupá-las, mas estes são assuntos em que o melhor é não deixar nada por dizer para não criar equívocos e permitir leituras erradas. Se vieram de uma família onde se cultivam alguns valores da moral e da espiritualidade cristãs (ou seja, onde se reza e onde, globlamente, se ensinam os valores cristãos [respeito pelo outro, não ser vingativo, etc.]) digam que é daí que vêm. Agora não digam que vêm de uma família católica que não vai à Missa. Porque essa, que me desculpem, não é uma família católica. Ou é, se quiserem que entremos nos termos em que fala, a propósito dos «católicos não-praticantes» [a propósito, outra categoria fabulosa que continua a ser usada por pessoas do espaço católico, quando alguns teólogos já encontraram a expressão, a meu ver bem mais feliz, de «católicos culturais»], Valter Hugo Mãe: «como os que dizem que são católicos mas não fazem nada do que um católico tem para fazer, não comungam, não rezam e não param de pecar» (A máquina de fazer espanhóis, Carnaxide, Alfaguara, 2010, p. 181).

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