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sexta-feira, 11 de novembro de 2011

A amizade é o encontro

Uma pessoa que conheço diz que gosta muito dos bocadinhos que passa com os amigos, entre o fim das horas de trabalho e o regresso a casa. Eu digo que também gosto desses momentos. Não apenas porque são tempos de partilha de ideias, e por isso contribuem para fazer avançar o mundo, ou, se quisermos ser menos ambiciosos, a ciência, mas porque é aí que se constroem as relações.
Na filosofia, e na antropologia filosófica em particular dentro desta, aprendemos que uma pessoa é uma unidade indivisível de corpo, alma e espírito, e está marcada pela condição mais básica da existência, a limitação ao quadro espacio-temporal. Assim, não há encontro verdadeiro entre as pessoas que não seja físico, por muito que nos multipliquemos em formas de comunicação virtuais, que já usamos desde que foram inventados os primeiros sistemas de escrita e se descobriram as artes visuais.
A sociedade de hoje tira-nos muitos dos encontros físicos que dantes aconteciam, criando ao mesmo tempo cada vez mais artifícios para a amizade (desde os telemóveis às redes sociais da internet, etc.). Penso que seja por aí que se justifique a afirmação com que começa este texto. Qualquer bocadinho em que nos encontremos com um amigo é único, é tudo, é uma suspensão do tempo e do espaço - não fosse Deus amor e a amizade verdadeira uma forma daquilo a que os gregos chamavam ἀγάπη.
Por mim, digo que deixei de acreditar nas amizades que se valem de um primeiro encontro, ou de encontros que vão lá longe. A amizade é um processo, vai-se fazendo, faz-se nos encontros reais e virtuais (é aqui que servem os encontros virtuais, quando os reais não se podem proporcionar), não se faz num acontecimento passado onde houve identificação. Desisti de esperar pelos que não me respondem, por muito que criem mil e uma desculpas, e esperar antes pelos bocadinhos entre o fim do trabalho e o regresso a casa, esses onde se cria a civilização do amor.

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