blogue de poesia e teologia.

aqui não se escreve segundo o acordo ortográfico de mil novecentos e noventa.

Pesquisar neste blogue

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Tempo da fome

 às pataniscas abandonadas

Todos os jornais e as notícias da tv anunciam: estamos em crise e é o tempo da fome.
No tempo da fome há pataniscas de bacalhau, intactas, nas papeleiras do metropolitano de Lisboa. No tempo da fome há pessoas que não comem tudo, nos restaurantes, porque estão saciadas. No tempo da fome as sobras das cantinas públicas têm de ir para o lixo - por estarmos em crise não podemos dispensar as regras de higiene e saúde pública! No tempo da fome emigrantes e sem-abrigo alimentam-se nos contentores do lixo do lidl - este é o tempo da lei, e as coisas, como as pessoas demasiado novas ou demasiado velhas, passam do prazo e têm de ser mandadas fora, ainda que na verdade consigam matar a fome aos homens que fazem de gatos vadios. É o tempo da fome, e os que fazem a caridade choram porque já lhes vai sendo difícil responder a todos os que, chorando, deles se aproximam pedindo, ao menos, um pão. É o tempo da fome, em que um telemóvel faz mais falta que um pão e em que um cigarro vale um maço de vinte sopas.
É o tempo da fome, e o homem sem pão esqueceu-se de que não vive só de pão mas de toda a Palavra que sai da boca de Deus; esqueceu-se de que se vivesse alimentado pela Palavra teria decerto mais pão.

Sem comentários:

Enviar um comentário