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segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Da amizade como amor

Nos últimos dias tenho dado por mim especialmente lamechas. Habituado a viver como quem acha que um homem não se deve emocionar e deve guardar ao máximo os afectos, penso que isso tem a ver com o facto de, nos últimos tempos, me andarem a fazer várias declarações de amizade. Como as raparigas da escola fazem todos os dias sentidas declarações de amor aos seus machos latinos, a mim têm-me feito declarações de amizade. Dei por mim a pensar se estas declarações de amizade que me têm feito não são também declarações de amor...
Vivemos num mundo que estragou a palavra amor - daí alguns iluminados acharem que o melhor é não a usarmos mais. O amor hoje é entendido como coisa de namorados, de marido e mulher, de marido e marido ou de mulher e mulher - o amor é o sexo, e este nem sequer no seu sentido global mas apenas no que comporta de genitalidade. Eu antes prefiro ser o mais pequeno dos filósofos e o último dos românticos e achar que ainda vale a pena falar em amor. Vale a pena falar em amor sempre que este for uma de três coisas: Ἔρως, φιλíα ou αγάπη. Vale a pena falar em amor quando ele for uma destas três coisas, até porque quando ele é verdadeiro é as três coisas - desejo, ainda que não necessariamente sexual, fraternidade e caridade, dádiva gratuita. Vale a pena falar em amor quando se trata da amizade, porque o que temos pelos nossos amigos verdadeiros é verdadeiro amor - o que temos é medo de o assumir, porque ou o amigo é homem e passamos por maricas lamechas, ou a amiga é mulher e afinal não queremos amizade nenhuma mas antes outra coisa...
Dei por mim a pensar que se me fazem declarações de amizade é porque amo essas pessoas, até porque só algo maior do que eu - e há lá coisa maior que o amor (1 Jo 4)? - pode fazer com que alguém sinta apreço por uma pessoa como eu, que não é nem faz nada de extraordinário, que não é uma beleza de homem, que não é rico, que não tem amigos influentes nem nada dessas coisas que hoje interessam.
E foi assim que decidi escrever este texto, na esperança de que algum dos meus amigos o leia e saiba que eu o amo. Um amor sem nada de sexual, mas com tudo de fraternidade e de dádiva gratuita. Um amor que não é exclusivo - se um dia for exclusivo duvido que seja com alguma das amigas de hoje, já que sei que não será certamente com um amigo! - mas que é incondicional e sempre disponível. Um amor que me faz perder o medo de usar a palavra amor para poder dizer isso mesmo outra vez: amo-te.

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