É curioso que seja quando se afasta do espaço eclesial que Ruy Belo constrói a grande maioria da sua obra poética, muita dela com clara inspiração cristã. Já havia posto aqui um dos seus poemas - "Nós, os vencidos do catolicismo", que inspirou a obra do meu professor Alfredo Teixeira Não sabemos já de onde a luz mana -, hoje porei aqui um outro, Para a dedicação de um homem. Podemos não valorizar e ler os nossos poetas, mas somos, sem dúvida, um país de poetas.
Para a dedicação de um homem
Terrível é o homem em que o senhor
desmaiou o olhar furtivo das searas
ou reclinou a cabeça
ou aquele disposto a virar decisivamente a esquina
Não há conspiração de folhas que recolha
a sua despedida. Nem ombro para o seu ombro
quando caminha pela tarde acima
A morte é a grande palavra desse homem
não há outra que o diga a ele próprio
É terrível ter o destino
da onda anónima morta na praia.
BELO, Ruy, Todos os poemas, Lisboa, Assírio & Alvim 2009.
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