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segunda-feira, 10 de maio de 2010

Festival vicarial da Canção 2010

De facto, enquanto jovem, católico - necessariamente praticante, não me venham cá com coisas - e amante de música, os festivais juvenis da canção cristã são coisa que desperta sempre em mim grande expectativa, pois continuo a aguardar em jubilosa esperança o dia em que os jovens usem a música na Igreja como forma de, de facto, expressarem a sua fé a partir dos meios que lhes são próximos, e não como forma de ter uma liturgia supostamente mais jovem ou de tocarem umas músicas de que gostam com recurso à liturgia.
Depois de ter participado no Festival da Vigararia II do Patriarcado - onde estou a morar - no ano passado (2009), com uma canção de que tive de fazer a música (e com a qual, confesso, nunca fiquei muito satisfeito), pensava ver alguns dos problemas detectados nessa edição resolvidos mas... estamos em Portugal (o que, espero, não será novidade para ninguém...), ou seja, continuou tudo mais ou menos na mesma.
Continuamos a ter o problema da distinção entre a música especificamente cristã e a outra. O que distinguiria a música cristã era o facto de ter uma letra inspirada pelo Evangelho ou ao menos pela Tradição da Igreja, mas o facto é que muitas vezes nestas canções nem se chega a ouvir a letra, ou então encontramos uma letra desfasada do tema proposto, da Bíblia e da Tradição eclesial, o que dificulta a distinção entre música cristã ou não cristã... Depois, continuamos a ter uns apresentadores (sobretudo um apresentador, por muito boa pessoa que seja, e de facto não tenho razões de queixa do dito indivíduo) que levam a coisa muito profissionalmente, tendo inclusive uma resma de papéis na mão, qual Sónia Araújo e Jorge Gabriel nas galas da TV, e estando imbuídos dum desejo de galvanização do público que chega a atingir grandes momentos de overacting, mas têm falta de vocabulário especificamente cristão (para mim é quase imperdoável que se ande às voltas, entre as palavras desafio e trabalho, para falar daquilo que na Igreja sempre se designou por missão...) e só no fim, pela boca da Joana, acentuaram a dimensão especificamente cristã do Festival (de facto, houve no início uns "vivas" a Jesus Cristo, mas pouco diferentes dos "vivas" ao vinho das tascas e nada parecidos com o discurso final da apresentadora). Continua a haver padres que exercem a sua missão na Vigararia a integrar o jurí (o que não é intrinsecamente mau para alguém como eu, mas provoca comentários que revelam pouco fair play por parte de muitos...). Pior do que isso, embora sem relação com os assuntos anteriores, foi o agravar dos problemas técnicos, que prolongou bastante a sessão, quase além dos limites do razoável (mesmo sendo o Benfica um clube que desprezo bastante, acho que caso estas coisas tivessem sido mais acauteladas os adeptos do dito clube, em dia de festejo, teriam feito a festa mais à vontade [e incomodado um pouco menos...]).
Algo à parte é a qualidade das canções. Como disse, quase na globalidade não se percebe o que se está a dizer, normalmente porque é tão grande o desejo de mostrar como cada grupo tem óptimos instrumentistas e toca os mais insólitos instrumentos que depois não se ouve quem canta... Depois, as músicas seguem todos os mesmos estilos predefinidos: ou são baladas tocadas com uma parafernália de instrumentos mas facilmente adaptáveis às celebrações litúrgicas (normalmente com uma linha melódica homogénea, que não permite distinguir versículos do refrão a não ser pela letra [que não se ouve...]) ou são músicas do âmbito pseudo-étnico, como a canção bi-campeã (que não quero menosprezar, de facto ambas são boas canções (dentro do que vi e ouvi), mas não passa de uma "receita").
Quando se tenta fazer algo diferente ou as coisas correm mal por falha dos próprios (vai-se com demasiada "sede ao pote" no uso de instrumentos eléctricos, falha-se nos tempos) ou porque (and that's a private joke to Luís, if any day he reads this) hoje em dia os júris preferem mais a folk à bossa-nova...
Depois de dizer mal de tudo isto, digo apenas: para o ano há mais. E a minha esperança inicial cá continua; pode ser que seja, mesmo, para o ano que à frente dos meus olhos surja a revolução da música cristã para jovens. Pim.

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