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terça-feira, 3 de janeiro de 2012

O valor do segredo

Hoje, pela primeira vez num ano e tal a dar aulas, pelo menos de forma mais séria e formal, uma aluna veio-me contar um segredo. Dispus-me a ouvir e comprometi-me a guardá-lo. A história em si não tinha nada de extraordinário, pelo menos para quem trabalha na educação e está atento aos fenómenos sociológicos actuais. O gesto, para mim, com maior valor foi o acto em si de me pedirem para escutar um segredo e guardá-lo. Não por que me ache uma pessoa que não é de confiança e que não sabe guardar segredos (até porque até acho que é uma das poucas qualidades que tenho), mas porque acho que hoje em dia é um gesto que se tornou incomum.
Hoje já não se guardam segredos. Temos programas de televisão onde se revelam - e se expõem - segredos, temos câmaras de videovigilância espalhadas por tudo quanto é sítio, comprometemo-nos a guardar um ou outro segredo mas depois partilhamos com alguém que é da nossa confiança, que partilha com outro alguém que é da sua confiança, e de repente todos sabem tudo na mesma.
Um último bastião dos segredos é a confissão dos pecados (talvez por isso cada vez menos gente se confesse). Para mim, essa é uma das coisas mais belas da Igreja: poder contar a outra pessoa tudo o que fiz mal feito (e como deve ser apetecível para quem ouve falar sobre os pecados pessoalizando-os!) e saber que isso é guardado, é mesmo secreto, se torna um segredo esquecido (e há lá melhor forma de guardar um segredo do que esquecer o seu conteúdo?). A chave para isto, na minha óptica, está no facto de a Igreja ser lugar e comunidade de amor. Quem ama guarda segredos.
Só quando se gosta verdadeiramente das pessoas e se sentem os seus problemas como nossos é que aprendemos a guardar mesmo segredos. Acho que a mudança positiva para que se possa voltar a guardar segredos passa por aí. Amar, e amar cada vez mais. Perdoar, e perdoar cada vez mais. Ouvir mais do que falar. Escutar. Simplesmente estar com o outro como se fosse comigo mesmo. Olhar. Ver.

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