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segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Para explicar os tempos idos

Fala-se hoje de amor
como antes se bebia água das fontes,
perde-se espaço para outras palavras,
amizade, alegria, esperança,
os sorrisos, uma gargalhada solta,
a mesa farta sem hora de fechar a refeição,
também o ódio, o desespero, a solidão,
as porradas da vida, a fuga,
a partida com rumo incerto,
as saudades de casa,
não sentir a casa como minha,
as saudades da casa que vou deixando,
os afectos de que vamos desistindo
todos os dias e nas noites de insónia,
cabe tanto de tudo isto quando dizemos amor
sem querer dizer amor,
já gastámos as palavras, dizia o poeta,
e pelos vistos mantemos o vício de as gastar,
talvez porque do mundo se pode fazer uma ficção,
esperar por príncipes, princesas,
a pessoa perfeita que não há,
e toda a ficção é amável,
mas das palavras não:
a palavra angústia continuará sempre
a transportar as dores do meu mundo,
é talvez isso que expressamos
ao querer falar de amor

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