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quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

um outro príncipe, maior

gostava do principezinho, livro de saint-exupéry, quando era algo mais que um manancial de frases de auto-ajuda para as redes sociais. gostava do principezinho quando as pessoas ainda eram capazes de perceber que um livro que começa por dizer que é um livro para crianças porque os adultos não são capazes de o entender é, na verdade, um livro para adultos (os livros para crianças não precisam de avisos à porta). gostava do principezinho quando ele era companheiro de caminho das amizades que se fazem e também das que se destroem, não quando é guia e farol que ilumina amizades a construir. gostava do principezinho quando ainda dava para entender que a queda do rapaz na areia do deserto, «como caem as árvores», é uma metáfora da morte e a morte não cabe em frases bonitas nem em coisas que se dediquem a quem se ama - «que caias como as árvores, um dia, e que morras na areia para doer menos», dirá ela ao seu amado. gostava do principezinho quando era só um livro sobre as coisas que permanecem e sobre as coisas que vão, quando era só a história de um rapaz não-histórico e do seu planeta e da sua busca, quando, enfim, era só um livro. não gosto de filmes sobre livros. não vou gostar deste filme. gosto de livros. não gosto do principezinho de que as pessoas gostam, gosto do meu principezinho às escondidas, lido nas páginas que a minha madrinha me deu pouco antes de cair como caem as árvores, mas não na areia.

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