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sexta-feira, 3 de maio de 2013

Sobre a preocupação com os pobres

Em vinte e seis anos de vida e de catolicismo estou mais do que habituado a ver todo o tipo de pessoas dissertar sobre a preocupação que a Igreja devia ter com os pobres e supostamente não tem, por causa da liturgia e da beleza e grandiosidade dos seus templos. Porque não me apetece, para não tornar este texto demasiado longo, explicar as razões por que a liturgia e os templos católicos devem expressar beleza (e porque há muito quem o consiga fazer bem melhor do que eu) queria apenas expressar duas inquietações que me surgem quando confrontado com esse discurso:
1. Porque há-de a Igreja Católica ter essa preocupação sendo dela dispensadas as outras confissões cristãs, os judeus, os budistas ou os hindus? Ou a Mesquita Azul não está também cheia de ouro? Ou os templos hindus na Índia não estão também cheios de ouro? Ou os templos budistas? No mesmo sentido, não é o discurso destas religiões também expressão de uma opção preferencial pelos pobres? É só o dos católicos? Assim, por que raio são só os católicos os tão incoerentes?
2. O que é que a maioria destas pessoas, que se arrogam de uma total independência face a religiões e partidos políticos, já fizeram pelo fim da fome? Dito de outra forma, e mais directamente: a quantas pessoas, apesar dos seus gastos supérfluos e dos pequenos luxos - que todos os temos, já mataram a fome? É que criticar a instituição que, no mundo, mais faz pelo combate à fome - até mais que a própria Organização das Nações Unidas - porque supostamente vive no luxo é uma hipocrisia se não abandonarmos, nós próprios, o luxo (ou se obrigarmos os outros ou, em rigor, uma parte dos outros, a uma exigência moral que não pedimos para nós próprios, se bem que este tema daria todo um outro texto).

Uma nota: a propósito do discurso mais recente da Igreja sobre os pobres, convém não esquecer que o Papa Francisco da Igreja pobre e para os pobres é o mesmo que não quer que ela se torne numa ONG piedosa. E uma Igreja sem liturgia, mais ou menos luxuosa - estou convicto de que para a maioria destas pessoas qualquer liturgia seria luxuosa, torna-se numa ONG piedosa. Habituemo-nos a não citar das pessoas só as palavras que nos interessam.

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