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quarta-feira, 8 de maio de 2013

cárcere

devem-me ter secado as lágrimas. não me compadeci minimamente quando por mim passou o homem algemado que levaram por dar esmola a um pobre. as mulheres de jerusalém choravam porque «raios, tanto assassino e só levam pessoas pacatas que correm o mundo fazendo o bem». devem-me ter secado as lágrimas: não vi o homem dar esmola a ninguém, não vi por perto nenhum pobre (nem um político por lá que dissesse «no nosso partido tomamos a sério a opção preferencial pelos pobres, disse-me um deputado enquanto lia um compêndio de capa verde», e o povo empobrecia cada vez mais. os partidos querem ter muitos pobres por quem optar). devem-me ter secado as lágrimas: vem-me à memória a frase da mulher de cu gordo e grandes mamas «que injustiças sempre há-de haver e que nem com Jesus foram justos» (e Ele que passou fazendo o Bem. e Ele que É o bem. e Ele que É - EU SOU). já não sei se me secaram as lágrimas, só sei que levaram o homem algemado pelas ruas fora até um carro preto com luzes a piscar e que tive pena porque ele me cumprimentava sempre com um aceno de mão e um sorriso quando há tantos que não me falam e ninguém os leva. mas não tive pena suficiente para começar a chorar. não tenho pena suficiente de ninguém para começar a chorar, nem de mim. quanto ao homem, não atirarei a primeira pedra. prefiro antes mandar a última, se não era a dar esmola a um pobre que ele estava e se, afinal, as mulheres de jerusalém choram não por causa da justiça mas por pena dos que lhes acenam ao vê-las passar.

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