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sexta-feira, 10 de maio de 2013

helicóptero

Não alinho nada nessa demagogia modernaça de pedir que os políticos se desloquem de transportes públicos. 
Em primeiro porque um país do Sul da Europa não é um país do Norte da Europa, nem em termos económicos, nem culturais e nem sequer em termos das matrizes históricas e religiosas que trouxeram uns e outros até aqui (a visão de um católico ou de um protestante acerca da organização da polis não é a  cem por cento a mesma e isso acaba por influenciar muito. Também a confluência de matrizes religiosas distintas, a partilha de um mesmo espaço por comunidades judaicas, islâmicas e cristãs com relevância semelhante - no Norte da Europa as comunidades judaicas eram relativamente pequenas e não se sentia a presença do Islão, influenciou muito a forma de pensar das pessoas do Sul europeu. Ainda há que lembrar as diferenças quanto à forma como se fizeram sentir as guerras do século XX nas diferentes zonas da Europa). Não se pode pedir aos países do Sul da Europa que sejam como os outros - pedir que sejamos magicamente iguais a pessoas que pensam de forma completamente diferente da nossa (e que, diga-se, não têm nem nunca tiveram a melhor das opiniões sobre nós) é o mesmo que construir uma sala para guardar skis numa escola das Caldas da Rainha.
Em segundo lugar, porque devemos acabar com esta atitude estúpida de estar sempre a atacar os ricos. Eu, pelo menos, não tenho nada contra os ricos (a menos que lá tenham chegado por via da trafulhice ou da exploração alheia). Tenho é contra os pobres, bem entendido, contra a existência de pobres. O que é preciso é acabar com os pobres e não me parece que o veículo em que os políticos se deslocam viesse resolver alguma coisa. A este propósito, lembro-me que, entre as várias conversas que já tiveram comigo sobre o Estado Novo, uma delas era sobre as supostas vestes do ditador, que consistiriam em dois fatos todos coçados, e muitas outras sobre as condições em que o povo vivia - muita gente em casas sem mínimas condições de habitabilidade, uma sardinha para três, sopa de toucinho aos domingos e sopa com o sabor do toucinho o resto da semana - e não vejo que consequências o primeiro facto trouxe ao segundo. Não quero saber se os políticos vão para o emprego de carro, comboio, helicóptero ou avião particular. Quero é que eles me garantam a mim que tenha condições de me deslocar de forma digna, de me alimentar de forma digna, de poder pensar num futuro aqui neste país. Se eles passarem a sair no metro do Rato fazendo a pé o resto do caminho até à Assembleia da República e isso não implicar que eu possa ter uma ideia minimamente segura de onde vou estar daqui a dez anos então a lengalenga, mais uma vez, não vai servir de nada.

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