blogue de poesia e teologia.

aqui não se escreve segundo o acordo ortográfico de mil novecentos e noventa.

Pesquisar neste blogue

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

não voltemos aqui

«dão tanto gosto a fazer e tanto trabalho a criar», dizia, enquanto pegava ao colo num dos sete filhos, que se tinha ido enfiar num molho de silvas, e o levava para a mesa. «mulher, traz o comer, tenho direito ao meu terço de carapau cozido e a duas batatas», berrava o marido a cheirar a dois litros de vinho e de rosto gasto pelo sol. saíra de manhã cedo para a fazenda alugada, onde passou o dia a cavar e alimentado a pão, vinho, terra, pó e sol. era por isso que se sentia no direito de exigir comida na mesa, filhos obedientes e uma mulher sempre disposta a deitar-se com ele na cama. «não há carapaus, só pão duro com água de cozer o toucinho de domingo e pêros ainda verdes. o augusto ainda não é padre e as raparigas ainda são novas para criadas de servir», lamentava-se a mulher. o homem limitou-se a suspirar porque era agosto e, assim, nem umas batatas doces havia para a sobremesa.

[este texto foi escrito ao som de Bailarico Saloio, na voz de Gisela João]

Sem comentários:

Enviar um comentário