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quinta-feira, 7 de julho de 2011

Vox populi vox Dei

Um dos meus novos "vícios" (chamemos-lhe assim, vá) são as caixas de comentários de blogues e os programas radiofónicos de vox populi. Sinto-me simplesmente fascinado nesse papel de observador, a ver as pessoas na sua mais pura natureza.
As pessoas que aparecem a participar nesses programas, como as que comentam nos blogues, são, grosso modo, pessoas sozinhas. Isso percebe-se porque 90% tem um tipo de discurso que mostra que estão a falar para elas próprias, que têm poucos hábitos de confronto de opiniões (para mim, só isso explica a falta de lógica e consistência de muitas opiniões...) - é uma cabra, a solidão. Nos programas de rádio, os participantes são pessoas, sobretudo, já idosas que vencem a solidão fazendo do locutor um amigo, aquele amigo que nunca viram, a quem só conhecem a voz, mas que é uma boa companhia, desde que o cônjuge morreu e os filhos os deixaram sozinhos (menos dramático, quando são pessoas que trabalham sozinhas durante a noite e a rádio é a sua única companhia na luta contra o sono e a favor do emprego). Nos comentários dos blogues, os participantes são sobretudo gente jovem [pelo menos nos blogues que visito, algo que é denunciado pelo uso do "x" em vez do "s"], que poderia perfeitamente não viver sozinha mas que o faz porque prefere os computadores às pessoas, e cria um mundo alternativo, "virtual", onde os amigos virtuais são mais importantes, onde a opinião deles conta sempre, ainda que só para ser lida e relida pelo próprio, onde todos são sábios mesmo sendo os maiores ignorantes.
Se entrar no mistério da estupidez humana é coisa que me diverte (é maravilhoso como todos os dias se descobre alguém que vai mais longe e mais fundo nesse mistério!) não deixam de me preocupar este tipo de realidades: primeiro, porque dão a ideia de que todas as opiniões, mais ou menos fundamentadas, têm o mesmo valor, o que é falso. Isso é reduzir o Homem é capacidade de sentir, e o Homem não é só sensação: é razão, é espírito, é emoção. Depois, porque denunciam dois problemas graves da nossa sociedade: um é a quantidade de gente que vive sozinha, o que se detecta pelos problemas que os locutores de programas de vox populi têm em gerir o tempo atribuído a cada participante; outro é a quantidade de jovens que vive num mundo virtual, dos computadores, de onde precisa de ser resgatado (a título de exemplo, ridículo e que vale o que vale, é impressionante a quantidade de jovens, do sexo masculino, entre os 12 e os 28, 30, que se acha especialista em mercado de transferências de futebol por causa do Football Manager! Ainda por cima, detectam-se a léguas... Mais grave é que, como todos os que vivem nesse mundo virtual, não percebem que são eles que têm um problema...).
Concluo este texto sobre vox populi mostrando a beleza desse outro fenómeno que é a contradição entre provérbios populares: se «a voz do povo é a voz de Deus», não deixam de dizer também que «vozes de burro não chegam ao Céu»!

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