blogue de poesia e teologia.

aqui não se escreve segundo o acordo ortográfico de mil novecentos e noventa.

Pesquisar neste blogue

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Crónica de um sábado emocionante

Para um indivíduo como eu, aperceber-se de que está a crescer e a entrar na idade adulta é uma coisa um bocadinho dramática... Não deixo de achar estranho sempre que recebo cartas endereçadas ao Exmo. Sr. André, mais estranho acho quando são dirigidas ao Exmo. Sr. Prof. André, faz-me uma certa impressão que me tratem por "senhor", prefiro que me tratem por tu, a menos que se trate de algo mesmo muito oficial (irrita-me que me tratem, ou a qualquer outra pessoa, por "você", forma de tratamento que, de pequenino, aprendi ser pouco respeitosa), ainda tenho muita dificuldade em lidar com as papeladas e burocracias afins inerentes ao "mundo dos adultos". Isto, chamem-lhe crise de Peter Pan ou do que quiserem, é mesmo o que sinto, principalmente porque nunca senti aquele desejo ardente de ser maior de idade ou de ser adulto e responsável.
Esta conversa toda para dizer que o passado sábado foi um daqueles dias que me faz perceber que não vou conseguir fugir muito mais tempo da plenitude da idade adulta. Em dois pontos distintos do mapa de Portugal, deram-se acontecimentos que me mostraram isso mesmo.
Em Lavos, Figueira da Foz, casou-se o meu primeiro grande amigo, daqueles com quem brinquei desde que tenho meses e que continuou a ser meu amigo mesmo quando, por circunstâncias da vida de um e outro, tivemos de nos afastar fisicamente. Este foi o primeiro dos meus amigos a casar, o que já era suficiente para me servir de alerta, mas como não pude deixar de aceitar o convite para estar presente no casamento dele, lá acabei por ouvir o resto... Sempre que lhe diziam «Pedro, estás um homem», sempre que eu era referido como o seu primeiro grande amigo e tínhamos de corrigir que já não somos propriamente rapazes mas «homens», apercebi-me de como fujo da juventude a passos largos, mesmo sem querer.
No Mosteiro dos Jerónimos, Lisboa, foram ordenados padres cinco ex-colegas de Seminário. Neste grupo estava o primeiro grande amigo que fiz nestas coisas da Pastoral das Vocações (a minha preguiça e a Física, depois a minha descoberta de que há outros caminhos onde poderei servir melhor a Igreja, haviam de nos separar), com outros que não deixam de ser meus amigos, só não os primeiros que fiz... Ao lembrar-me deles nas minhas orações, além de ter pedido força para que desempenhem o seu ministério num tempo em que ele se torna particularmente difícil (pela dificuldade das pessoas de assumirem compromissos, em particular com a Igreja; pelas dificuldades de se assumir uma moral exigente - infelizmente muitas vezes por parte dos próprios clérigos; pela imagem que o povo tem hoje dos padres - por culpa da moral pouco exigente que os primeiros tomam como bitola ou por culpa da moral pouco exigente que os segundos vivem... - , e em particular do celibato), pedi que estes cinco amigos não vivam esta minha dificuldade de querer continuar sempre jovem, de não querer ser adulto. Pedi que Deus os faça homens a sério, a quem não faça impressão ser chamado "senhor" e menos ainda "senhor padre".
Sábado foi, assim, o dia em que percebi que, ao quarto de século, começo a ser homem...

Oh God, make me good but not yet!

Sem comentários:

Enviar um comentário