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quarta-feira, 13 de julho de 2011

Húmus

Pensava há pouco como a minha terra é húmida. Comecei quase que a meditar nesta frase. Decidi parti-la em partes, sobressaindo aí as palavras «minha terra». É curioso, para um cristão, este sentimento de posse em relação ao sítio que o acolheu. Isto porque, assim sendo, faz em Quarta-feira de Cinzas o mesmo exercício que pratica a avestruz: como ela enfia a cabeça na areia para melhor se alimentar (engole areia e pedras que lhe facilitam a digestão dos alimentos), também o homem é convidado a lembrar-se que é pó e a ele há-de voltar.
Falar na minha terra, quer o faça com mais ou com menos orgulho, é fazer sempre esse exercício: sou da terra, de lá vim e para lá voltarei (além disso, ao reconhecer que é a terra que é minha, tenho a humildade de reconhecer que os Céus [os que aparecem primeiro no Pai nosso, a morada de Deus] não são meus, antes de um Outro).
Não menos curioso é que, no meu fascínio crescente pelo quarto capítulo da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios, não posso deixar de ficar estarrecido com a expressão «esterco do mundo», que saindo do punho do Apóstolo podia perfeitamente ser minha, e assumo-a como tal: quero ser também eu, que isto não é coisa fácil de se conseguir, «esterco do mundo». E esta afirmação faz todo o sentido quando penso neste tema da «minha terra». Se o esterco tem normalmente uma conotação de repugnância, de humilhação - é neste sentido que Paulo se afirma «esterco do mundo» (1 Cor 4, 13) -, não deixa de ser verdade que há-de ter sido, como as cinzas, o primeiro fertilizante natural usado pelos agricultores. Aquele que seja «esterco do mundo» cairá à terra com a força que permitirá à sua semente subir até aos Céus. Ser «esterco do mundo» é garantir que a semente cai em boa terra, e assim dará muito fruto (cf. Mc 4, 8)!

«ὡς περικαθάρματα τοῦ κόσμου ἐγενήθημεν», 1 Cor 4, 13

«καὶ ἄλλα ἔπεσεν εἰς τὴν γῆν τὴν καλὴν καὶ ἐδίδου καρπὸν ἀναβαίνοντα καὶ αὐξανόμενα καὶ ἔφερεν ἓν τριάκοντα καὶ ἓν ἑξήκοντα καὶ ἓν ἑκατόν.», Mc 4, 8

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