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quarta-feira, 22 de outubro de 2014

sarau

inclui citação de Ap 7, 13b-17

a cidade estava debaixo de bombas
e num dos bunkers fazia-se uma noite de poesia.
um mais velho cofiava a barba
e lia versos de rimbaud
e hafez ibrahim
enquanto os mais novos se encolhiam
e tapavam os ouvidos com as mãos.
o zumbido mortal das bombas
sobrepunha-se à voz cantada do velho.
de que serve a poesia num mundo que cai?
perguntava o miúdo de cinco anos.
para quê a arte com fome e sem pão e sem vida?
para quê o poema sob o zumbir das bombas?
para quê as perguntas se não vem um Deus que nos salve?
para quê isto tudo se teimamos em nos destruir?
o mais velho seguia imune às perguntas
e entrava pela obra de um tal de joão:
«"Estes, que estão vestidos de túnicas brancas,
quem são e donde vieram?"
Eu respondi-lhe: "Meu senhor, tu é que sabes."
Ele disse-me: "Estes são os que vêm da grande tribulação;
lavaram as suas túnicas e as branquearam no sangue do Cordeiro.
Por isso, estão diante do trono de Deus
e servem-no, noite e dia, no seu santuário,
e o que está sentado no trono abrigá-los-á na sua tenda.
Nunca mais passarão fome nem sede;
nem o sol nem o calor ardente cairão sobre eles,
porque o Cordeiro que está no meio do trono
os apascentará e conduzirá às fontes de água viva;
e Deus enxugará todas as lágrimas dos seus olhos."»

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