blogue de poesia e teologia.

aqui não se escreve segundo o acordo ortográfico de mil novecentos e noventa.

Pesquisar neste blogue

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

muro de pedra

a palavra tem dois grandes defeitos. 
o primeiro é fazer-se carne, elemento palpável, audível, sensível. a palavra quer fazer-se objecto autónomo do seu autor, elemento que vale por si enquanto algo que quer ser de quem o ouve, de quem o lê. isto torna-a fonte de mal-entendidos, fonte de pedidos de desculpas, fonte de confusões - por muito que seja tantas vezes fonte de beleza, fonte de amor, fonte de salvação.
o segundo é revelar-se, tantas vezes, em meios que não estão preparados para a receber. meios em que vêem dela o que querem ver, meios em que ainda não se sabe separá-la do seu autor, meios em que se acha que tudo é autobiográfico - quando, na verdade, sabemos que tudo é e não é autobiográfico ao mesmo tempo, no sentido em que o autor escreve, fala, a partir do mundo que conhece mas é livre de criar mundos, conversas, vidas. resumindo, a palavra ainda não se consegue isolar do que a escreve ou diz, pelo menos tanto quanto era preciso.
mas é apesar destes defeitos que gosto de a trabalhar, contribuindo para o muro de pedra que ficará à vista de todos os homens que passam.

Sem comentários:

Enviar um comentário