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sexta-feira, 18 de outubro de 2013

as primeiras chuvas em mim

quando chove apetece-me sempre ir para a rua correr. correr até ficar todo molhado, até chegar ao ponto em que não faz diferença estar vestido ou nu, até chegar ao ponto em que a minha avó me ia ameaçar com uma vide porque estava em risco de pneumonia. a chuva lembra-me os tempos felizes de uma certa adolescência em que não interessavam os guarda-chuvas dos adultos, aquela adolescência perdida a que importa voltar, a das primeiras erecções e da descoberta de si próprio, a do tempo em que todos os amores eram platónicos e por isso era tão fácil ter desejo por mulheres, a do tempo em que a vergonha era tanta que a única coisa que interessava para além de mim era mesmo a chuva. hoje já sou grande e as pessoas grandes não fazem o que lhes apetece, não vão correr para a chuva, limitam-se a ficar à janela a vê-la cair enquanto se lembram de uma certa ideia de adolescência perdida que nunca foi. as pessoas grandes ficam à janela a ver a chuva a pensar no que poderiam ter sido e nunca virão a ser.

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