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sexta-feira, 24 de junho de 2011

O citador

Hoje, nem sei bem a que propósito, lembrei-me duma entrevista a um de dois vultos nacionais, Fernando Rocha ou Tino de Rans [ao mais incauto leitor, relembro, como já se vai tornando hábito, que a ironia é um recurso estilístico que aprecio sobremaneira], em que o entrevistado se afirmava contra as citações. Mais concretamente, indignava-se porque há pessoas, sobretudo na Academia, ambiente que o entrevistado não apreciava particularmente (agora, parece-me, apesar das capacidades de Fernando Rocha, que a pessoa em questão é Tino de Rans...), que citam muitas vezes outros, o que indiciaria uma incapacidade de pensar pela própria cabeça.
Lembrei esta entrevista quando percebi que na maior parte das minhas intervenções, sejam coisas mais a sério seja mesmo quando se trata de estar a brincar ou simplesmente na parvoeira, aparecem citações de outros. E perceber isso fez-me pensar que o entrevistado (fosse um ou outro dos que referi) não podia estar mais enganado... Citar outros não é sinal de limitação, antes sinal de que se tem mais mundo e de que se vive para além do seu próprio umbigo. Porque não hei-de citar pessoas que falam sobre Deus melhor do que eu, quando se trata de falar sobre Deus? Porque não hei-de citar os que falam melhor do que eu sobre a vida (na sua grande maioria, os poetas que leio, quando não estão a falar sobre Deus...), quando se trata de falar sobre a vida? Porque não hei-de citar os humoristas, quando estou em momentos de humor?
Obviamente que citar, como se aprende na vida académica [aos tunos: aquela que se passa dentro das salas de aula...], exige fazer referência ao autor, exige respeito pelo sentido do que este pretende dizer, exige rigor. Mas antes prefiro sujeitar-me a esse rigor e pôr-me na senda de gente, também acusada de ser "citadora", mas que tem tal grau de inteligência e sabedoria que me faz achar-me, no máximo, digno de os citar, do que "pensar pela minha própria cabeça", sem o auxílio da informação que me é dada pelos outros (o homem é um ser-no-mundo, um "animal social") e não ser mais que um chico-esperto...
Sou um citador, sim, mas é como citador que me sinto «estupidamente feliz».

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