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quarta-feira, 29 de junho de 2011

Há uma primeira vez para tudo

Recordo a primeira vez em que serviram, publicamente, os meus conhecimentos sobre o cristianismo (que hoje me servem de muito mais - obrigado Faculdade de Teologia, obrigado Secretariado Diocesano do Ensino Religioso, obrigado Agrupamento Professor Noronha Feio e obrigado Agrupamento Amélia Rey Colaço [obrigado minhas e meus colegas, que bem sabem quem são...]). Numa aula de Português do 12.º ano no Externato de Penafirme (obrigado professora [agora colega...] Paula Pombo)...

Livro de Horas
Aqui, diante de mim,
eu, pecador, me confesso
de ser assim como sou.
Me confesso o bom e o mau
que vão ao leme da nau
nesta deriva em que vou.
Me confesso
possesso
das virtudes teologais,
que são três,
e dos pecados mortais,
que são sete,
quando a terra não repete
que são mais.
Me confesso
o dono das minhas horas.
O das facadas cegas e raivosas
e o das ternuras lúcidas e mansas.
E de ser de qualquer modo andanças
do mesmo todo.
Me confesso de ser charco
e luar de charco, à mistura.
De ser a corda do arco
que atira setas acima
e abaixo da minha altura.
Me confesso de ser tudo
que possa nascer em mim.
De ter raízes no chão
desta minha condição.
Me confesso de Abel e de Caim.
Me confesso de ser homem.
De ser um anjo caído
do tal céu que Deus governa;
de ser um monstro saído
do buraco mais fundo da caverna.
Me confesso de ser eu.
Eu, tal e qual como vim
para dizer que sou eu
aqui, diante de mim!
Miguel Torga

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