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quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Professor e tudo

Um teólogo na escola pública não deixa de ser uma avis rara.
Da parte dos colegas professores é, principalmente, fonte de questões. Muitos são os pedidos de esclarecimentos, desejos de conversas que os horários de uns e outros fazem com que nunca aconteçam, as dúvidas acerca do que andará ele a fazer nesse espaço de mistério que é a EMRC.
Da parte dos alunos é alvo de uma espécie de carinho especial que não se explica. Se o "stôr" «não é o nosso psicólogo» não deixa de, muitas vezes, cumprir essa função. «O "stôr" é o mais fixe que nós temos», mesmo que depois não haja razão nenhuma aparente para isso. Não raras vezes, o quorum que assiste às aulas à janela é maior que o que se encontra dentro da sala.
De facto, as aulas de EMRC tornam-se muitas vezes espaço de dizer o que não se diz noutros espaços da escola... Falar da família (dos pais e dos padrastos e das mães e de tudo e da miséria a que isto chegou, na família...) e da escola antiga de que se gostava muito, e dos colegas que gozam com eles, e de tudo. Também de falar na Bíblia, e de uma perspectiva cristã do mundo.
A realidade é que o sistema de ensino actual ensina a criar razoáveis cientistas para as ciências naturais, alguns profissionais competentes, mas percebo-o inimigo do pensamento próprio, da capacidade de uma síntese própria do estudo feito. É o tempo do copy/paste. O lugar do teólogo é ajudar a pensar com o olhar da fé. Levantar questões, chamar a atenção, batalhar nos valores, dar instrumentos de investigação.
Mas, entre os colegas professores e os alunos, o lugar do teólogo na escola é o mesmo que deve ser o do cristão em todo o lado: ser pergunta, ser estranho, diferente, incómodo (no bom sentido do termo). E ser ainda aberto a todos, e responder à pergunta que é, e fazer novas perguntas, em busca de que todos se tornem eles mesmos perguntas. Porque só a interrogação nos permite fazer caminho.

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