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terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Estar só

Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste
e te afastas dos meus gritos?
Brado em vão e sem repouso.
Encho os dias e as noites com as vozes desta angústia,
e o teu silêncio me cerca.

Chamavam por ti os antigos, e os apelos ecoavam
em tuas altas escarpas.
Eu porém sou como um verme - a vergonha do meu povo.
Escarnece quem me vê:
- Confia no Senhor, porque salva aqueles que ama.

Foste tu quem me tirou do ventre de minha mãe,
tu que eras o meu Deus desde o fundo da matriz.
Oh, não te afastes mais de mim, quando a angústia
me rodeia.

Inumeráveis me envolvem os touros de Basã.
Leões que abrem bocas para me dilacerar.
E os meus ossos desconjuntam-se.
Derrete-se meu coração como cera contra as chamas.
Seca-se a boca de argila.

Ladra o tumulto dos cães. Sangrando de pés e mãos,
rolo sobre um chão mortal.
Espalharam os meus ossos, dividiram minha túnica:
não te afastes mais de mim, ó grande força celeste!
Arranca aos cães e ao gládio esta vida singular.
Toma-a às garras dos leões e aos altos cornos dos búfalos.


Salmo 22 mudado para português por Herberto Helder (Herberto HELDER, O Bebedor Nocturno, Lisboa, Assírio & Alvim 2010.)

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