blogue de poesia e teologia.

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sexta-feira, 16 de agosto de 2019

grãos de areia a riscar vidro

não é só a incerteza quanto ao emprego,
é a dor da incerteza da vida
que não dá para transformar em poema,
que talvez quisesse transformar em poema,
mas o poema não é isso, não pode ser isso,
é sempre outro mistério do que isto
de chorar na praia sem porquê
e de voltar sempre aos mesmos insucessos,
às mesmas obsessões, aos mesmos versos dos outros
em que não é consolo nem conforto o que procuro,
uma companhia talvez, uma companhia certamente
porque no fundo do peito cimenta-se a certeza
de acabar sozinho e não saber se é injusto,
de acabar sozinho sem saber se fui eu que escolhi,
de acabar sozinho por isto de andar às voltas cá dentro
a querer justificar tudo e fazer tudo certo
e fazer tudo mal e não saber se faço mesmo tudo mal
e não ter a recompensa mesmo sem a esperar.
isto não é um poema porque os poemas escrevem-se à mão
e hoje não pude fazê-lo,
saí de casa sem o caderno e a caneta,
tentei escrever com os dedos na areia
mas o vento apagou tudo,
talvez isso se tenha transformado num poema,
essa minha vida num poema rabiscado na areia
que o vento leva, parece-me, de norte para sul.

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