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terça-feira, 20 de agosto de 2019

a água a alisar seixos pequenos

há um velho a fumar à beira-mar
e não consigo reparar se tem onde deixar a beata
ou se a vai enterrar no chão
ao alcance da boca de crianças
e das mãos de outros velhos que ratam as beatas usadas
ou as engolem, como as crianças.
sigo para o passeio diário de pés na água,
uma rotina para quem detesta as rotinas
mas gosta dos pés na água do mar,
o mar traz sempre boas lembranças
da infância e de outros dias felizes
que estes não são apesar do sol
e de me tentarem convencer que o sol cria dias felizes,
reparo que estes calções da decathlon não têm bolsos,
se um gajo tiver vontade de mijar
tem de pôr as mãos nas ilhargas,
metros à frente um tipo aguarda que o peixe morda a cana
e tem as mãos nas ilhargas e as pernas dentro de água,
ou cruzar os braços e levar uma mão ao queixo,
como se a contemplar o mar sem fim
ou a pensar num assunto sério,
e na verdade todo o caminho é isso,
contemplar o mar sem fim e pensar em assuntos sérios,
desviar a rota das pessoas a fingir que felizes
e olhar para as raparigas como se alguma sorrisse para mim
e nenhuma sorri, a vida segue distraída
como se as pessoas fossem felizes e não são.

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