blogue de poesia e teologia.

aqui não se escreve segundo o acordo ortográfico de mil novecentos e noventa.

Pesquisar neste blogue

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

o povo tem nojo da cultura

não é só a chanceler alemã que não gosta de licenciados. o povo tem horror à cultura. há dias um homem fez um quilómetro a correr para encontrar uma casa de banho. tinha um centro cultural logo ao lado. inquirido sobre não ter ido aos lavabos logo ali respondeu: «nunca ali entrei» (aquele tipo de «nunca ali entrei» que quer dizer «não entrei, não entrarei, não quero entrar, detesto quem lá entra»). é comum que, em certas regiões, quem decide estudar seja olhado com desdém, que devia era ter feito como os seus primos e ir para as obras ou uma padaria. certamente já tinha mulher e filhos, um monovolume e uma vivenda com um alpendre. o conhecimento assusta muito, não é uma coisa que se veja, como um monovolume ou uma vivenda com um alpendre (é por isso que os velhos são despejados para longe ou deixados sozinhos, com o argumento de que a vida custa e exige tempo e não podemos cuidar deles). o que não se vê assusta. até porque a sabedoria é uma coisa, que à partida, parece que não dá para vender (a menos que a mascaremos de know how com muitos inputs e outros anglicismos próprios do empreendedorismo que, ensinam-nos na televisão, é uma coisa que vale a pena). tenho pena de tudo isto. comiseração, mesmo. o grave problema é que o povo não sabe a ternura com que os poetas olham para o trabalho dos agricultores.

Sem comentários:

Enviar um comentário